O ciclo de aumento do preço das ações das chamadas “Magníficas Sete”, como é conhecido o grupo formado pelas sete maiores empresas de tecnologia dos EUA (Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla), vem suscitando temores de formação de uma bolha nos principais índices das bolsas de valores americanas.

Isso porque as ações dessas empresas tiveram um ganho surpreendente de 140% nos últimos 12 meses. Além disso, só as cinco principais ações do grupo contribuíram para 75% dos ganhos acumulados no ano do S&P 500.

Um estudo recente, preparado pelo Bank of America (BofA), traçou um paralelo entre o atual aumento das ações das Magníficas Sete e 14 bolhas históricas do mercado financeiro dos EUA, registradas desde o século XVIII.

O estudo indica que, embora cada bolha seja única, a maioria tem catalisadores comuns, como a inovação tecnológica, novos mercados e, em especial, a flexibilização da política monetária.

“Estes elementos convergiram historicamente para inflacionar os preços dos ativos para além dos níveis sustentáveis”, escreveu no relatório o estrategista-chefe de mercado do BofA, Michael Hartnett.

Uma das conclusões mais surpreendentes do estudo faz uma relação direta entre os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA ajustados pela inflação, conhecidos pela sigla TIPS, ao estouro das bolhas, o que ocorreu em 12 das 14 bolhas observadas.

Os TIPS são títulos cujo principal está vinculado ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC). O principal aumenta com a inflação e diminui com a deflação. Quando o título vence, o Tesouro dos EUA paga o principal original ou ajustado, o que for maior.

De acordo com Hartnett, dados os atuais níveis sem precedentes da dívida global, um aumento modesto nas taxas reais de 10 anos dos títulos TIPS para 2,5%-3% poderia precipitar o estouro da bolha das Magníficas Sete – o rendimento atual desse papel é de 2%.

Avaliação e ganhos

Outros dois indicadores são alinhados como relevantes para o estouro das bolhas no relatório do BofA. Um deles diz respeito às avaliações das empresas de tecnologia. Com uma relação preço-lucro de 45, o grupo das Magníficas Sete é caro em qualquer extensão.

Mas a investigação do Bank of America mostra que as recuperações anteriores atingiram níveis ainda mais extremos antes de atingirem um pico, com múltiplos de 67 para as ações japonesas em 1989 e de 65 para o Nasdaq Composite em 2000.

“Não é barato, mas é verdade que os máximos das bolhas sempre tiveram avaliações absurdas”, escreveu Hartnett.

Outra métrica mencionada pelo BofA destaca que os ganhos das sete empresas de tecnologia americanas são menores do que do ciclo de valorização de outras empresas envolvidas em bolhas financeiras.

Assim, os ganhos de 140% das sete gigantes tech ainda são inferiores ao aumento de 180% do Dow Jones na década de 1920, ultrapassando os ganhos de 150% do Nifty 50 nos anos 70 e das ações do Japão nos anos 80.

Por outro lado, esses ganhos das Magníficas Sete ainda são tímidos em relação ao aumento de 190% durante a bolha da Internet para o Nasdaq Composite ou a recuperação de 230% das ações do grupo de cinco gigantes de tecnologia da década passada, reunidas na sigla FAANG - Facebook (agora Meta Platforms), Amazon, Apple, Netflix e Google (agora Alphabet) -, após os mínimos da Covid.

Pelo menos por enquanto, o apetite por ações de tecnologia tem sido implacável este ano, com as ações das Magníficas Sete registrando um acréscimo de quase 12% desde janeiro.

E os dados mais recentes sobre o fluxo de fundos mostram que os investidores globais estão aumentando suas apostas.

“Cerca de US$ 2,3 bilhões foram adicionados a fundos focados em ações de tecnologia”, escreveu Hartnett, citando dados do EPFR Global (índice que fornece dados de fluxo de fundos e alocação de ativos a instituições financeiras em todo o mundo) referentes à semana encerrada em 14 de fevereiro.

No total, nas últimas quatro semanas, quase US$ 60 bilhões foram investidos em fundos de ações, o maior índice desse tipo em dois anos.