Não houve surpresas. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve as taxas de juros de referência no intervalo entre 5,25% e 5,5%, mantendo os juros americanos em seu maior patamar dos últimos 20 anos.

Mas o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, da sigla em inglês) deu dois recados ao mercado. O primeiro deles é de que vai manter o aperto monetário e nesse atual patamar por mais tempo.

“É provável que leve mais tempo para o Fed ganhar confiança e reduzir isso (os juros)”, disse Jerome Powell, presidente do Fed. “Estamos altamente atentos a riscos inflacionários.”

Segundo ele, até esse momento, os dados não deram confiança suficiente para iniciar o processo de afrouxamento monetário, principalmente a inflação. Em seu comunicado, o FOMC reiterou que houve “falta de mais progresso” em direção ao seu objetivo de inflação de 2% nos últimos meses.

O segundo recado do Fed soou como uma música boa para os ouvidos dos investidores. Powell disse que não achava provável que o Fed precisasse considerar aumentos das taxas de juro e afirmou que os cortes poderiam começar se o mercado de trabalho enfraquecesse inesperadamente.

“Para elevar os juros, o Fed precisará de fortes evidências de que a política não está restritiva o suficiente”, disse Powell.

O sinal de taxas mais altas por mais tempo segue dados recentes que mostram que a inflação subiu novamente, em grande parte impulsionada pelo combustível mais caro.

Por outro lado, a economia dos Estados Unidos cresceu mais lentamente do que o esperado no primeiro trimestre de 2024 – a alta do PIB foi de 1,6% nos três primeiros meses de ano, enquanto o consenso do mercado estimava em um crescimento de 2,5%.

O mercado tinha a expectativa de que o Fed fizesse três reduções de taxas de juros neste. Agora, a estimativa é de que isso possa acontecer uma ou duas vezes em 2024 – setembro e dezembro são as novas apostas.

E o Brasil?

A manutenção das taxas de juros nos Estados Unidos em seu maior nível em mais de 20 anos pode ter também impactos no Brasil. A dúvida é se o Banco Central brasileiro vai seguir o ritmo de redução de 0,5 ponto percentual ou vai desacelerar para 0,25 ponto percentual.

Em entrevista à CNN, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citou outro fator que o preocupa: o mercado de trabalho indica emprego pleno no Brasil e que esta é uma “grande surpresa”.

“O BC adora quando temos um regime de emprego pleno, quando todo mundo que está procurando trabalho encontra, que é nossa situação atual, que melhorou muito e foi uma grande surpresa. Outros países também passaram por isso, mas o Brasil foi uma grande surpresa”, respondeu, ao ser questionado sobre o tema.

Na visão de Campos Neto, a “preocupação vem quando as empresas não conseguem contratar e você tem que começar a subir o salário. Se você sobe o salário para o mesmo nível de produção, isso significa que você está iniciando um processo inflacionário. Então, a preocupação vem daí”.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), divulgada pelo IBGE, mostrou leve alta na taxa de desemprego do primeiro trimestre, que ficou em 7,9%. A alta veio menor do que a esperada pelo mercado, que estimava em 8,1%.

Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou um saldo de 244,3 mil novas vagas com carteira assinada em março, também acima da expectativa dos analistas de 188 mil novos postos.