Dentro e fora do governo há uma torcida para que o Banco Central estanque o processo de alta da Selic e surfe na maré de corte de juro em desenvolvimento na Europa e prestes a alcançar os EUA, onde o Federal Reserve (Fed) deverá manter sua taxa em maio e engatar um ciclo de queda em junho de olho na economia em risco de recessão. No primeiro trimestre, o PIB caiu 0,3%.

Apesar da grita por juro menor, especialmente no setor real da economia, prevalece a expectativa de que a Selic avançará mais 0,50 ponto percentual (p.p.), para 14,75%, ao final da reunião do Copom na quarta-feira, 7 de maio. Subiu no telhado, porém, a ideia de que o colegiado reserva, para junho, um “chorinho” de 0,25 p.p., elevando a taxa básica de fim de ciclo a 15%.

Já a ideia de queda iminente da Selic foi sepultada por Gabriel Galípolo. Durante o J. Safra Macro Day e a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira, respectivamente, na segunda e terça-feira, 28 e 29 de abril, o chefe do BC foi cirúrgico. Lembrou que a inflação e as expectativas superam a meta, o arrefecimento da economia é incipiente e as incertezas externas cresceram. O receituário para domar a inflação está mantido com “flexibilidade” e “cautela”.

A mensagem não abortou, entretanto, a percepção de economistas de que a alta da Selic está com os “dias contados”. E numa ação vista historicamente como antessala de alívio monetário investidores se antecipam ao BC reduzindo juros projetados meses à frente. Mas, desta vez, o ritmo de queda das taxas de prazos mais longos – até 2035 na B3 – não declinam na velocidade esperada.

Juros futuros, que superavam 15% no início do ano, só romperam o suporte de 14% no final de abril. E quedas mais expressivas emperram por prêmios que só deverão encolher com ações mais contundentes do governo na área fiscal.

É fato que ruídos sobre a capacidade de o governo alcançar a meta fiscal zero este ano evaporaram. Mas a credibilidade duvidosa do arcabouço fiscal desde a sua criação, em 2023, foi golpeada com o envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 ao Congresso, em meados de abril.

Economistas do mercado financeiro e também da academia, consideram a peça irrealista por não incluir algumas despesas no orçamento e indicar que as contas públicas caminham para um colapso em 2027 – por expansão de despesas obrigatórias que poderão estrangular investimentos e financiamentos básicos da máquina pública.

O descrédito da política fiscal está embutido nos prêmios das taxas de juros que a divisão de política monetária e mercados do Santander Brasil, liderada pelo economista Marco Antonio Caruso, decidiu quantificar através de um modelo matemático que calcula o term premium (prêmio de prazo).

Um conceito importante no Brasil, onde a dívida pública elevada, expectativas voláteis de inflação e desafios políticos podem influenciar de forma significativa a precificação de risco em toda a curva de juros. E encarecer o crédito que o governo preza como alavanca para o crescimento econômico.

“Prêmio” é o dobro da média histórica

“As taxas não mentem e a curva de juros diz muito sobre o prêmio de risco vigente no País”, afirma Caruso que apresenta os resultados do exercício matemático em relatório assinado com os economistas Adriano Valladão e Matheus Pina Chaves. O prêmio de risco de juros com prazo de 5 anos ronda 4,2 pontos percentuais, informa o documento. Mais que o dobro da média histórica observada em outros ciclos de aperto monetário – cerca de 2 pontos.

“O prêmio atual sugere que as taxas de longo prazo estão sendo significativamente influenciadas por fatores que vão além da trajetória esperada para a Selic”, observa o Santander que identificou também uma taxa de juro “neutra” de 10% implícita nas curvas de juros, acima dos 8% estimados pelo próprio BC no Relatório de Política Monetária publicado em março – resultado que considera 5% de juro real citado no documento e 3% da meta de inflação.

Tamanha divergência implica que os investidores podem estar embutindo nos juros futuros expectativas com riscos estruturais (deterioração fiscal, persistência da inflação e incerteza institucional) e não apenas desafios macroeconômicos transitórios, pontuam os especialistas do Santander.

Uma comparação entre o “prêmio de prazo” observado no Brasil e o praticado nos EUA, também para cinco anos, aponta um diferencial de 3,50 pontos percentuais. Spread que reforça a avaliação de que há uma compensação excessiva no Brasil para cobertura de risco que reflete um alto grau de preocupação de investidores com as perspectivas fiscais e macroeconômicas.

Em entrevista ao NeoFeed, Caruso, afirma que o prêmio na curva de juros revela incerteza quanto à possibilidade de o governo entregar superávits primários suficientes para que a dívida brasileira em proporção do PIB seja convergente ou, ao menos, pare de subir. Para isso, o governo precisa aumentar a confiança de que haverá uma mudança na postura fiscal.

“Ainda que cumprir ou não a meta não seja a discussão do momento, a percepção de risco não mudou. E os prêmios que sobrecarregam os juros têm custo para o Tesouro na emissão de títulos e, portanto, para a sociedade”, diz o economista para quem a persistência de prêmios elevados evidencia limitações da política monetária, inclusive, para ancorar rendimentos de longo prazo.

Também por esse motivo, diz Caruso, um aumento de credibilidade na política macroeconômica pode ser necessário para frear a iniciativa do mercado de compensar riscos e assegurar a transmissão mais eficiente da política monetária com trajetória mais suave e eficaz para a redução do juro. “E ampliar a credibilidade depende, sobretudo, de estruturas fiscais sustentáveis e fortalecimento institucional da política econômica praticada”, afirma.