A postura mais dura do governo da China contra empresas chinesas que pretendem  abrir capital no exterior já tem se refletido em mudança de planos para quem mirava um IPO nos Estados Unidos.

A ByteDance, dona do TikTok, que em 2019 havia discutido uma listagem em Nova York e engavetado a ideia no início deste ano, reviveu o projeto de se tornar uma companhia aberta, mas com um outro destino em mente: Hong Kong, região administrativa especial da China.

Segundo o jornal britânico Financial Times (FT), a ByteDance tem enviado toda a documentação necessária às autoridades chinesas e espera que o IPO possa ocorrer entre o fim deste ano e o início do ano que vem.

Nos últimos meses, a dona do TikTok tem se dedicado especialmente a responder às perguntas da Administração de Segurança Cibernética da China sobre questões que envolvem segurança de dados.

Em julho, o regulador chinês criou novas regras para empresas com mais de 1 milhão de usuários ativos, que precisam passar por uma revisão de segurança de dados antes de serem listadas no exterior.

A ByteDance, que tem cerca de 1,9 bilhão de usuários ativos por mês, decidiu não continuar com os planos abrir capital nos EUA após reuniões que teve com o regulador chinês, de acordo com o FT.

Com o esforço para se enquadrar às regras, a dona do TikTok mostra mais boa vontade com o governo chinês que a Didi, dona da 99 no Brasil, que em junho realizou o seu IPO em Nova York e captou cerca de US$ 4,4 bilhões, apesar do regulador chinês ter levantado preocupações sobre práticas de segurança de dados.

A ByteDance é avaliada em US$ 180 bilhões e é considerada a startup mais valiosa do mundo. Em 2020, suas receitas dobraram para US$ 34 bilhões. A empresa registrou lucro bruto de US$ 19 bilhões, uma perda operacional de US$ 2 bilhões e um prejuízo líquido de US$ 45 bilhões.

Ainda que o IPO da ByteDance ocorra sob os domínios da legislação chinesa, a empresa terá com o que se preocupar.

A Ant Financial, fintech do Alibaba, do bilionário Jack Ma, estava pronta para abrir capital em novembro do passado, com expectativa de levantar US$ 35 bilhões, no que seria o maior IPO do mundo, quando foi surpreendida pela intervenção do governo chinês, que interrompeu o início das negociações das ações em Hong Kong e Xangai.

O cerco do governo chinês às empresas de tecnologia, o que tem derrubado seu valor de mercado, tem também causa efeito às fortunas de seus controladores.

Segundo um levantamento feito pelo FT, o ataque regulatório de Pequim à indústria de tecnologia do país fez a fortuna de bilionários chineses ser reduzida em US$ 87 bilhões, desde o fim de junho, quando a Didi abriu o capital nos Estados Unidos.

Os números dizem respeito ao patrimônio líquido de 24 bilionários, entre eles Pony Ma, da Tencent, dona do WeChat, e Colin Huang, da Pinduoduo, de e-commerce, a partir de participações rastreadas pela Bloomberg.

O volume total caiu 16%. As ações da companhia despencaram após as intervenções chinesas, como exigir que o aplicativo seja removido das lojas.

Huang foi o mais afetado, com perda de US$ 15,6 bilhões, enquanto Pony Ma perdeu US$ 12 bilhões. Já Jack Ma, do Alibaba e da Ant, viu sua fortuna diminuir US$ 2,6 bilhões no período, mas já soma US$ 13 bilhões em perdas desde a interrupção das negociações da fintech no ano passado.