O mercado de venture capital viveu uma reviravolta entre 2021 e 2024. Primeiro, a abundância de capital que investidores locais e estrangeiros injetaram nas startups. Depois, uma queda brusca nos aportes que refletiu um conservadorismo de quem está por trás do dinheiro e o cenário macroeconômico.

No olho do furacão estavam tanto as startups em late stage e aquelas em estágio de growth – em que captaram recursos early stage e tentavam escalar com aportes de séries A ou B. Segundo dados da Distrito, o investimento em startups brasileiras caiu 57% no ano passado e somou US$ 1,9 bilhão.

Mesmo com um cenário mais desafiador, gestoras que investem em growth mantém um posicionamento otimista para 2024. Além da volta do Brasil ao mapa dos investidores estrangeiros, há o entendimento de que a escassez de capital moldou um novo perfil de empreendedores.

“As empresas que tiveram resiliência, seguraram caixa e mudaram modelo para ter uma consciência maior sobre seu caixa estão sobrevivendo”, disse Milena Oliveira, sócia da Volpe Capital, durante um painel apresentado no South Summit Brazil, evento que o NeoFeed é parceiro de mídia.

No comando da gestora que já investiu em startups como CRMBonus, VTEX, Seeds, Caju, entre outras, Oliveira afirma que os excessos cometidos em 2021 geraram aprendizado no mercado e quem investir agora vai ter a oportunidade de encontrar empresas mais preparadas em termos de time e infraestrutura.

Para Lucas Mussi, vice-presidente da Warburg Pincus, gestora de private equity com US$ 83 bilhões em ativos sob gestão, que já aportou em empresas brasileiras como Sólides e Petz, a América Latina se transformou em um candidato óbvio para investimentos nos próximos anos.

“Vai voltar a ser o que era anos atrás? Não, mas voltamos ao velho normal”, diz Mussi, durante o painel do evento realizado em Porto Alegre. “Para os investidores, essa tem sido uma safra muito boa. Investimos quase R$ 2 bilhões no ano passado e vemos 2024 com otimismo, mas razoabilidade”.

Para Igor Piquet, que comanda a operação da Endeavor Catalyst na América Latina, o investidor “precisa ser otimista”. Piquet afirma que este “não está sendo um dos melhores períodos para investir, mas sempre existem ciclos de entrada e saída de capital na região”.

Lucas Mussi (Warburg Pincus), Joaquim Lima (Riverwood Capital), Milena Oliveira (Volpe Capital) e Igor Piquet (Endeavor) no South Summit Brazil

Piquet cita que um dos problemas para a enxurrada de capital em 2021 e a escassez dois anos depois foi a fuga do capital turista na região. “Aqueles investidores que chegaram, investiram e depois foram embora”, explica. “É o dinheiro que passa férias no Brasil."

Quem também está com boas expectativas para este ano é Joaquim Lima. O sócio da Riverwood Capital, gestora que no ano passado captou US$ 1,8 bilhão para seu quarto fundo e investiu na Logcomex, também espera uma boa safra de startups. “Miramos negócios com alto crescimento e no caminho da rentabilidade”, afirma.

Lima concorda com a tese do capital turista. “Houve um tsunami de liquidez que foi motivado pelo cenário de juros baixos em uma escala global”, afirma. Segundo ele, enquanto investimentos estavam “caros” fora do Brasil, as startups brasileiras se apresentavam como uma alternativa mais em conta para os estrangeiros.

O obstáculo maior segue pelo caminho: os juros americanos. Nesta quarta-feira, 20 de março, o Federal Reserve (Fed) manteve a taxa básica de juros no maior patamar registrado no país em mais de duas décadas. O intervalo atual está entre 5,25% e 5,5%.

Existe a expectativa de que esse spread diminua ao longo deste ano. O Fed prevê três cortes de 0,25 ponto percentual em 2024, fazendo com que o intervalo de juros passe para entre 4,5% e 4,75%. E que o juro caia para algo próximo de 3,6% em 2025.