No segundo dia do South Summit Brazil, dois dos mais influentes empresários brasileiro monopolizaram a atenção da plateia: Jorge Gerdau Johannpeter, ex-CEO e atual acionista controlador da Gerdau, e Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza.
Os dois lotaram suas apresentações na quinta-feira, 10 de abril. O primeiro falou sobre as lições de sua jornada empreendedora. A segunda, com seu carisma, abordou desde a responsabilidade social dos empresários até a inteligência artificial. Ambos foram aplaudidos.
Os investidores também deram seus recados. Marcelo Lombardo, o fundador e CEO da Omie, usou uma camiseta para deixar sua mensagem. E José Cacheado, sócio da Norte Ventures, lembrou que o FOMO (fear of missing out – algo como medo de ficar de fora) pode ser uma boa ferramenta para captar.
Confira abaixo alguns dos principais destaques do segundo dia do South Summit Brazil 2025:
Longa fila
Quem quis acompanhar o primeiro painel de Luiza Helena Trajano, sobre liderança consciente, precisou enfrentar uma longa fila para entrar na plenária.
No painel, ela cobrou responsabilidade dos empresários em relação à situação social do País, mas com carisma suficiente para arrancar aplausos em vários momentos da plateia. "Desigualdade não é responsabilidade apenas do governo, é de toda a sociedade", foi um dos pontos de sua fala.
“IA mais fácil do que Instagram e WhatsApp”
No segundo painel em que participou, dedicado ao tema de inteligência artificial (IA), Luiza Trajano afirmou que a tecnologia não deveria assustar, apesar de classificá-la como um "tsunami". Para ela, não é a IA que vai tirar as pessoas de seus trabalhos, mas sim as pessoas que não aderirem.
Luiza disse ainda que o aprendizado foi muito mais fácil do que a sua experiência na rede social, quando abriu sua conta no Instagram, há dez anos. "A IA é mais fácil do que o Instagram; é o WhatsApp", disse. "Olha para mim, é mais fácil do que o WhatsApp. Vocês vão ser big em IA, é só fazer perguntas que ela monta coisas para vocês."
Se mostrou entusiasmo com a IA, Luiza criticou o "excesso de tela" na vida das pessoas, afirmando que o uso excessivo de smartphones está fazendo com que as pessoas interajam menos. "Não acho que é tão perigosa quanto a tela está sendo para os nossos netos, nossos filhos", afirmou. "A pessoa entra lá no elevador da empresa e não diz nem bom dia."
Alexa, a "chatinha"
Luiza Trajano também falou sobre o futuro do varejo na era digital. Para ela, as lojas físicas não devem sumir tão cedo, mas devem passar por uma transformação, sendo mais um lugar de experiência. "Mas experiência precisa levar a vendas", disse. Ela lembrou que a própria Amazon abriu lojas físicas, tendo comprado a rede de varejo de alimentos americana Whole Foods.
Durante o painel, que contou com a participação de Paula Bellizia, vice-presidente para a América Latina da Amazon Web Services, ela aproveitou para dar uma "cutucada" na companhia americana, afirmando que a Lu, influenciadora digital do Magazine Luiza, é a maior influenciadora digital do mundo. "É a única coisa que ganhamos da Amazon, da Alexa, aquela chatinha", disse, arrancando risos da plateia.
Gerdau, amor e humildade
Quase faltaram cadeiras para acompanhar o painel de Jorge Gerdau Johannpeter, ex-CEO e atual acionista controlador da Gerdau, durante o South Summit Brazil 2025. Aos 88 anos, o empresário dividiu com a plateia de empreendedores algumas dicas de negócios que aprendeu ao longo de mais de 60 anos de carreira, em que transformou a Gerdau de uma fábrica gaúcha de pregos em uma multinacional avaliada em R$ 29,4 bilhões.
Além do foco no core, para não perder a "alma do negócio", ele destacou o diálogo, o respeito aos colaboradores, fazer as coisas com amor e, mais do que tudo, a humildade como cruciais para construir uma companhia perene. "A perda da humildade define o teto de desenvolvimento, porque com a vaidade você perde capacidade de ouvir e aprender", disse, para aplausos do público.
“Profits are the only thing that matters”
Um sinal de que o ecossistema de startups brasileiro mudou foi a camiseta que Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie, escolheu em sua apresentação no South Summit Brazil. Nas costas, estava escrito: “Profits are the only thing that matters”. Em bom português: Lucro é a única coisa que interessa.
Depois de anos de muita liquidez, em que o crescimento era a palavra do jogo, as startups tiveram que virar a chave e buscar o equilíbrio financeiro. A Omie, de acordo com Lombardo, é lucrativa desde meados de 2023 e tem uma receita anual recorrente na casa dos US$ 100 milhões.
No painel, o tema era liquidez para os empreendedores, que muitas vezes acumulam quase 100% de seu capital na startup. Quando a empresa entra na fase de scale-up, com um produto testado e aprovado, essa é a hora para os investidores darem uma certa liquidez aos fundadores, na visão de Lombardo.
FOMO como ferramenta de captação
A capacidade de execução e a solidez financeira são questões fundamentais para que empreendedores consigam ser bem-sucedidos no processo de captação, especialmente num momento em que os fundos de venture capital não conseguem atrair recursos com tanta facilidade.
Mas este cenário de escassez também pode ser alavancado pelas startups, diante da competição das gestoras pelas melhores histórias no mercado. "Quando mais próximo de uma rodada, existe uma 'tensão competitiva' que pode ser usadas pelo empreendedor, porque o investidor também é movido por um certo FOMO [sigla em inglês que significa medo de ficar de fora]", disse José Cacheado, sócio da Norte Ventures.