Quase um ano após enfrentar a pior crise climática da história do País, Porto Alegre volta a receber mais uma edição do South Summit Brazil. Sob o tema Beyond Resilience (além da resiliência, em tradução livre), o Cais Mauá, local em que foram registradas algumas das piores imagens das enchentes que atingiram a capital gaúcha, une o Brasil e o mundo em prol do empreendedorismo, inovação e discussões sobre o futuro do nosso planeta.

O primeiro dia da quarta edição de um dos principais eventos de empreendedorismo do calendário brasileiro e regional, do qual o NeoFeed é parceiro de mídia, foi marcado por discussões sobre a força do empreendedorismo brasileiro e gaúcho e o papel do País na questão da descarbonização da economia global.

Também foi bastante debatido os desafios para os investimentos em startups e inovação num mundo de incertezas, em que a guerra comercial entre Estados Unidos e China atinge todas as outras nações.

A inteligência artificial (IA) também foi protagonista do dia, assim como dicas de empreendedores bem sucedidos e de gestores para aqueles que estão começando sua jornada, além da presença ilustre de um dos pioneiros das redes sociais, atraindo a simpatia e nostalgia do público.

Confira abaixo alguns dos principais destaques do primeiro dia do South Summit Brazil 2025:

Orkut pop-star

O engenheiro turco Orkut Buyukkokten, que fundou a rede social que leva seu nome e tanto sucesso fez no Brasil em meados dos anos 2000, foi saudado como uma celebridade em um pré-evento antes do começo do South Summit.

Ele apareceu de surpresa em um side event que reunia investidores que vão participar do South Summit. E se cansou de tirar fotos com muitos dos participantes. Um dos pioneiros das redes sociais, Orkut hoje é um crítico desse modelo.

Divertida Mente

O South Summit é um evento de inovação, que reúne os principais investidores do Brasil. Mas quem chamou a atenção no palco principal foi Marcos Piangers, um reconhecido palestrante sobre paternidade e chamado de o “papai pop do Brasil”. O tema de sua palestra: Emoção, Trabalho e Vida.

No melhor estilo de palestrante de autoajuda, ele usou todo tipo de recurso para emocionar as pessoas, com frases de efeito, memórias afetivas e mensagens para que as pessoas vivam a vida real, longe das redes sociais. Saiu aclamado.

Divertida Mente 2

Juliana Motta, fundadora da Pismo, vendida para a Visa por US$ 1 bilhão, foi questionada sobre uma dica que daria aos empreendedores. E mais uma vez o tema saúde mental veio à nota.

“A jornada empreendedora é muito difícil. E ter inteligência emocional faz toda diferença porque as coisas não acontecem no tempo que a nossa ansiedade gostaria que acontecesse. Sempre vai ter mais obstáculos do que conseguimos prever. Manter a cabeça no lugar e focada é o que faz a diferença e vai ajudar a atravessar todos os perrengues”, disse Juliana.

Unicórnio em família

A Pismo, aliás, conseguiu se tornar um unicórnio, como são chamadas as empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, com um perfil que foge do tradicional.

Primeiro, por contar com duas mulheres como fundadoras - Juliana e Daniela Binatti criaram a empresa em 2016, junto com Ricardo Josua e Marcelo Parise, num país em que apenas 2% dos recursos de venture capital vão para companhias com esse perfil. Segundo, pelo perfil "familiar", com Juliana e Daniela sendo irmãs e Marcelo sendo marido de Daniela.

Para Juliana, CPO da Pismo, esse perfil não representou uma vantagem, mas ajudou a lidar com a jornada solitária do empreendedor. "Nossa dinâmica, a confiança no trabalho de um e do outro, além de disciplinas complementares, nos fez um time forte", disse.

Segundo ela, o caminho até o status do unicórnio é duro, por isso ter confiança em seus parceiros e desenvolver inteligência emocional é fundamental.

"As coisas demoram mais do que gostaríamos, existem muito mais obstáculos do que conseguimos prever. Inteligência emocional ajuda a atravessar os perrengues que não estavam previstos no plano de negócio, porque vai ter muito mais obstáculos do que imaginávamos nos nossos piores pensamentos", afirmou.

Pontualidade britânica

No debate que reunia Gustavo Werneck, da Gerdau, Daniel Raul Randon, da Randoncorp, e Erasmo Battistela, da B28, a pergunta sobre o que os três achavam das tarifas de Trump ficou sem resposta.

Não que os três não quisessem responder. Werneck até tentou, mas foi interrompido por uma música alta, sinalizando que o tempo havia se esgotado. A pontualidade britânica dá o tom em todos os painéis.

Líder da economia verde?

O trio, no entanto, conseguiu desenvolver o tema da economia. E todos demonstraram concordância sobre o potencial do Brasil numa economia de baixa emissão de carbono. Mas quando o assunto foi se o País será protagonista desse novo mundo, as opiniões divergiram.

Para Randon, considerando a matriz energética brasileira, com mais de 80% da geração vindo de matrizes limpa, o futuro é positivo. "Com a preocupação do mundo com mudanças climáticas, com a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com a descarbonização, ainda mais na questão dos transportes, vemos o Brasil muito bem posicionado", disse Randon.

Para Werneck, o protagonismo fica ameaçado quando o assunto é capital humano. Ele ressaltou que outros países estão investindo fortemente para desenvolver e atrair talentos e lembrou as dificuldades competitivas enfrentadas pelas indústrias locais, um segredo para ninguém.

"Falar que seremos protagonistas é um pouco demais", disse, citando uma dificuldade enfrentada pela própria Gerdau. Segundo ele, o País formou menos de 100 engenheiros metalúrgicos no ano passado. "Outros países estão alguns degraus acima. Mas num papel um pouco mais de coadjuvante, temos ido muito bem, estamos muito bem-posicionados", afirmou.

A TV KondZilla

O dispositivo que mais cresce em consumo de conteúdo é a tevê conectada. Quem disso isso foi KondZilla, nome artístico de Konrad Dantas. E ele aproveitou para dizer que vai ter seu próprio canal de tevê.

“Hoje, quando você liga uma tevê Samsung vai olhar o Samsung Plus. E pode escolher os canais NetFlix, YouTube e, em breve, a TV KondZilla”. De acordo com ele, a ideia é estruturar o maior canal de cultura e música urbana do Brasil, usando a base de quase 70 milhões de inscritos de seu canal no YouTube.

Vivo: quase R$ 6 bilhões em novos negócios

Faz tempo que a Vivo tem uma estratégia de negócios para ir além de seu core que é a conexão. Mas Christian Gebara, o CEO da Vivo, trouxe alguma cor para ela em sua participação no South Summit Brazil.

De acordo com ele, os novos negócios já representam 10% da receita da Vivo, quase R$ 6 bilhões anuais. A fintech, segundo Gebara, já fatura R$ 400 milhões. E a área de saúde, R$ 60 milhões. A empresa investe também em educação.

A Vivo também vende os serviços de streaming de empresas como Netflix e Globoplay, entre outras empresas. São 3 milhões de assinaturas, que segundo Gebara, rendem um faturamento de R$ 750 milhões por ano.

As dores e delícias do Brasil, na visão de um estrangeiro

Empreender no Brasil não é fácil. Mas isso não significa que o País não apresente boas oportunidades, segundo Kosuke Mori, CEO do Credit Saison International.

Investindo em fintechs brasileiras há quase três anos, o grupo financeiro japonês se mostra impressionado pela evolução regulatória na parte financeira. "O Banco Central é muito progressista em seu plano de aumentar a competição no mercado", disse.

Por outro lado, "coisas básicas" como impostos e a burocracia para abrir uma empresa foram destacadas pelo executivo como pontos negativos. "Como trazer nossos recursos, como lidar com isso, foi um desafio", disse.

Apesar das dificuldades, ele disse que a intenção é seguir investindo, vendo o País em condições de se tornar um mercado central tanto quanto a Índia, em que já aportou US$ 2 bilhões.