Ao longo dos últimos anos, investidores, imprensa e quem mais acompanhou a divulgação de resultados do Softbank se acostumaram a ver Masayoshi Son, o fundador e CEO do grupo japonês, falar com entusiasmo sobre os investimentos e os planos para o mercado de startups.

A animação era tanta que a apresentação trazia desenhos de unicórnios e de ovos de ouro. Mas isso parece que está chegando ao fim. Na próxima divulgação de resultados da companhia com sede em Tóquio, agendada para a próxima sexta-feira, 11 de novembro, os grafismos divertidos não aparecerão, segundo o jornal The Wall Street Journal (WSj).

O que também dificilmente marcará presença será o entusiasmo de Son em relação ao mercado, já que o momento atual do grupo japonês é bem diferente daquele desejado pelo empresário e pelos seus acionistas.

Son vai adotar um tom mais sério durante seu discurso de apresentação de resultados do terceiro trimestre do Softbank, de acordo com WSJ. O empresário também não vai responder perguntas. A ideia é de que ele faça um breve comentário antes de passar a palavra para o diretor financeiro do grupo, que ficará encarregado da apresentação.

O tom mais moderado tem relação direta com o momento atual do Softbank. A desvalorização do setor de tecnologia no período pós-pandemia vem colocando em xeque os critérios de escolha do grupo japonês para realizar investimentos em startups.

Somente no primeiro semestre deste ano, o Softbank registrou prejuízo de mais de US$ 35 bilhões. Os resultados da metade deste ano também marcaram a primeira vez em 17 anos que a empresa registrou dois trimestres consecutivos com perdas.

Os resultados dos meses de julho, agosto e setembro também devem ser negativos. De acordo com o WSJ com base nas participações que o grupo detinha em empresas do Vision Fund no último balanço divulgado, o Softbank viu seus ativos desvalorizarem US$ 2,5 bilhões no período.

Um exemplo é o investimento na corretora americana Compass. A empresa que começou 2022 avaliada em pouco mais de US$ 4,1 bilhões perdeu 63% de valor de mercado no primeiro semestre e mais 50% nos últimos três meses. O negócio está avaliado agora em US$ 902 milhões.

Outro caso, agora no mercado privado, é o da indiana Oyo, empresa do setor hoteleiro que já foi uma das estrelas da carteira do Softbank. Com 45% do negócio, o grupo japonês reduziu o valuation de sua investida de US$ 10 bilhões para US$ 2,7 bilhões.

O último trimestre foi conturbado para o grupo. No fim de setembro, o grupo demitiu mais de 150 pessoas no mundo – inclusive em sua operação da América Latina.

Por falar em saídas, o grupo japonês também aproveitou o trimestre para liquidar suas participações em alguns negócios, em especial na Uber e na Kahoot. Na primeira, a venda foi lucrativa. Na segunda, o grupo saiu da operação da startup norueguesa com um prejuízo de pelo menos US$ 63 milhões.

Ainda que em apresentações mais recentes Son já tenha usado até mesmo a imagem de um samurai derrotado e tenha falado em vergonha e arrependimento, o mercado parece ainda não ter perdido a fé no grupo.

As ações do Softbank negociadas na bolsa de Tóquio acumulam alta de mais de 20% desde o começo do ano e mantiveram-se estáveis no último trimestre. O bom humor do mercado parece ser uma resposta das ações defensivas do Softbank para lidar com as perdas.

Ainda no primeiro semestre, a ordem de Son já era para que a empresa desacelerasse os investimentos. A outra medida de resguarda veio com a venda de parte da participação no Alibaba e com as próprias demissões, como forma de enxugar custos.