A Blue3, um dos maiores escritórios de assessoria de investimentos do País, com cerca de R$ 26 bilhões sob gestão, acaba de recomprar 8% das ações da sua sócia XP. Agora, a empresa detém 58% das ações e a XP, 42%.

A renegociação ocorre após a Blue3 desistir de se tornar uma corretora light com a XP, acordo firmado em 2021 que resultou na sociedade entre as duas empresas. A assessoria pretende virar uma corretora full no futuro. Mas, antes, é preciso crescer mais. A meta é chegar aos R$ 100 bilhões sob custódia nos próximos três anos.

“Quando fomos procurados pela XP para virar corretora, o cenário era outro", afirma Wagner Vieira, CEO da Blue3, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. "Fomos entendendo melhor o que significava virar uma corretora light e vimos que não íamos ganhar nada agora com isso. Apenas perder o foco para o crescimento que precisamos ter.”

Nessa decisão, pesou o fato do aumento de custo que a transformação traria. Do lado fiscal, virar uma instituição financeira aumentaria em 6 pontos percentuais a alíquota tributária. E haveria aumento de custo operacional para atender às novas demandas regulatórias.

A avaliação é que os ganhos de independência pensados não seriam supridos no modelo de corretora light, já que o backoffice seguiria com a XP. Ao mesmo tempo, a custódia dos clientes passaria para eles, obrigando um aceite por parte dos 35 mil investidores para migrar da corretora XP para a corretora Blue3.

E do ponto de vista do investimento financeiro por parte de futuros sócios, como Private Equitys, a custódia em si não tem valor, e sim o relacionamento com o cliente. “Decidimos segurar um pouco para negociar com a XP para virar uma corretora full lá na frente. Só assim a gente fica realmente independente, construímos nossa estrutura e o nosso backoffice”, conta Vieira.

Também pesou o fato que a regulação de assessoria de investimento no País permite um sócio capitalista a um AI. Mas para concretizar esse modelo, era preciso ter margem para vender algum equity futuramente. Por isso, a assessoria aumentou a sua participação societária em negociação com a XP.

Os valores da transação não foram revelados. Mas a companhia afirma que continua bastante capitalizada e não pretende buscar um sócio capitalista tão cedo. E irá em busca de aquisições para chegar à meta de R$ 100 bilhões.

A empresa quer ser uma consolidadora do mercado de assessoria e busca escritórios na faixa dos R$ 500 milhões a R$ 1,5 bilhão sob custódia, dentro e fora da rede XP. E após comprar o Multi Family Office Troon Capital no ano passado, está em busca de outras gestoras de patrimônio.

“O mercado está passando por uma grande consolidação e muitos escritórios menores estão vendo que faz sentido se juntar a uma estrutura mais consolidada. E nós estamos prontos para capturar isso”, diz Vieira.

Há também um plano de crescimento orgânico, com a contratação de 150 assessores em 2024, que reforçarão as 14 cidades em que a Blue3 está: Ribeirão Preto (SP), São Paulo (capital), Franca (SP), São José do Rio Preto (SP), Bauru (SP), Marília (SP), Uberlândia (MG), Patos de Minas (MG), Uberaba (MG), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Goiânia (GO), São José dos Campos (SP), Campinas (SP) e Brasília (DF).

Até o fim do ano, a Blue3 espera chegar a R$ 40 bilhões sob custódia, e, no ano que vem, a R$ 70 bilhões, para depois bater a marca de R$ 100 bilhões. Como ajuda para conquistar novos clientes, a empresa conta também com uma casa de análise própria, a Blue3 Research, e a empresa Contabilidade da Bolsa.

Wagner Vieira, CEO da Blue3

A decisão da Blue3 ocorre logo após a sua aprovação para virar uma corretora light pelo Banco Central em 3 de janeiro, e é um novo capítulo dentro do segmento das super assessorias que entraram com o mesmo pedido de virar  após o acordo da EQI com o BTG para virar uma corretora.

A Monte Bravo, segunda maior assessoria da XP com R$ 35 bilhões sob custódia, virou corretora em outubro deste ano. Mas a Fami (resultado da fusão da Faros com Messem), maior assessoria da rede com R$ 65 bilhões, desistiu do processo no mesmo mês. A Nomos, com R$ 7 bilhões sob custódia, não mudou de planos e espera a aprovação para virar uma corretora ainda neste semestre.

A Blue3 pretende analisar o passo de corretora full no futuro depois de explorar os ganhos como uma super assessoria. Mas para isso, será necessário um outro procedimento frente ao Banco Central. E isso irá levar tempo. Mas Vieira não vê como se estivesse em desvantagem postergando esse passo:

“Acreditamos que esse é o passo certo, mas no tempo certo. E, na minha avaliação, ninguém virou corretora ainda. Porque ser light não é ser corretora. Eu não preciso ser uma light para depois ser uma full. Pode ser que sejamos os primeiros”.