Maio sai do calendário com feriados enxugando a última semana. Na segunda-feira, 27, os pregões estarão suspensos em Nova York e Chicago pelo Memorial Day. O efeito global dessa paralisação será minimizado, porém, pelo feriado bancário no Reino Unido. Na quinta, 30 de maio, o feriado municipal de Corpus Christi interrompe os negócios no Brasil, onde a B3 terá a próxima trégua apenas em 15 de novembro pela Proclamação da República.

Entretanto, a semana mais curta não diminui a relevância da agenda de indicadores para a precificação de ativos domésticos e internacionais. Por aqui estarão no gatilho relatórios do Banco Central (BC) sobre crédito e resultado fiscal consolidado do setor público; criação de vagas formais de trabalho pelo Caged e taxa de desemprego pela Pnad Contínua – todos referentes a abril.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) publicará indicadores de confiança da construção, indústria, comércio e serviços de maio, além da “inflação dos aluguéis”, o IGP-M, que poderá dobrar sua variação mensal.

Em breve, a avaliação interanual desse indicador mais exposto à taxa de câmbio abandonará o campo negativo em que se encontra há meses. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciará a prévia da inflação oficial de maio, IPCA-15, também sujeita a forte elevação mensal.

Paralelamente, a agenda internacional reserva, sobretudo para os últimos dias da semana, dados sensíveis para os preços globais de ativos. Serão destaques entre os indicadores a segunda leitura do PIB dos EUA no primeiro trimestre e o deflator do PCE (Personal Consumption Expenditures) de maio.

Na primeira leitura do PIB trimestral norte-americano, o avanço foi de 1,6% em base anualizada, em firme desaceleração ante o último período de 2023, quando a economia avançou 3,4%. A segunda leitura, prevista para quinta-feira, 30 de maio, de feriado em várias capitais brasileiras, poderá confirmar se o ano começou, de fato, com redução relevante nos gastos do consumidor.

Consumo enfraquecido poderá evidenciar, em tese, um desaquecimento de atividade que favorece o corte do juro pelo Federal Reserve (Fed). Mais cedo do que mais tarde. Mas dados de atividade publicados na quinta-feira 23, relativos a abril, exibiram força, validando a ata da última reunião de política monetária do Fed, que saiu na véspera, e sem abrir sequer uma fresta para o relaxamento monetário.

Reconhecido como o índice de inflação mais importante para o Fed na formulação de sua política de juros por traduzir o comportamento dos preços de itens efetivamente comprados pela população, o PCE de abril será divulgado na sexta, 31, quando o mercado brasileiro retorna do feriado.

Em março, o PCE reprisou a alta de 0,3% observada em fevereiro e, em base anual, subiu 2,7%. Pouco acima da projeção de analistas, de 2,5%. O núcleo, que exclui alimentos e energia, avançou 2,8%. Variações ainda distantes da meta de inflação de 2% perseguida pelo Fed.

Isso vale também para o índice de preços ao consumidor americano – CPI na sigla em inglês. Esse indicador, considerado inflação oficial nos EUA, diferentemente do PCE, reflete os preços de uma cesta de itens que, em abril, também variou 0,3% na passagem mensal e 3,4% em base anual. O mercado, que esperava alta maior, comemorou o resultado que não comoveu o Fed.

“Prova dos nove” para inflação americana

A inflação medida pelo PCE poderá ter efeito de “prova dos nove” para a expectativa de flexibilização monetária nos EUA com potencial repercussão no comportamento global do dólar. E, por tabela, no Brasil, onde a curva de juros não aponta Selic abaixo de dois dígitos neste ano.

Patamar alcançado após a decisão dividida do último Copom que reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50%, e não em 0,50 ponto, como preferiam quatro membros do comitê indicados pelo presidente Lula.

Na esteira do Copom rachado e mudanças nas metas fiscais a partir de 2025, na primeira quinzena de maio as projeções para indicadores econômicos e financeiros pioraram. A inflação estimada para este ano avançou a 3,80% e, para 2025, a 3,74%; a Selic esperada para 2024 cravou 10%, mas algumas instituições já preveem 10,50%; e os prognósticos para o câmbio ganharam consistência acima de R$ 5,00 até 2027. Sem refresco, por ora.

Embora o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 2º bimestre, divulgado na quarta, 22 de maio, tenha elevado o déficit primário projetado para o ano, de R$ 9,3 bilhões para R$ 14,5 bilhões – cifra bem abaixo de R$ 28,8 bilhões contemplados no arcabouço fiscal – o mercado azedou.

Não exatamente pelo desempenho fiscal, enaltecido pelo ministro Fernando Haddad, durante audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, mas por suas declarações sobre meta de inflação e juros. O ministro não economizou adjetivos. Disse que a meta de 3% é “exigentíssima e inimaginável” e que o patamar da Selic de 10,50%, “ainda é muito restritivo”.

As afirmações de Haddad – vistas como spoiler por experientes economistas – agravaram a já nebulosa expectativa de agentes financeiros com a mudança no comando do BC, a partir de 1º de janeiro; elevaram o temor quanto ao risco de ingerência política nas decisões futuras do Copom; colocaram a meta de inflação na berlinda; e contrataram um esforço bem maior que o próximo presidente do BC terá de despender para conquistar a confiança do mercado. Manter a inflação sob controle custará mais caro.