A Riachuelo mostra que sua estratégia de reconexão com as raízes nordestinas e o aprimoramento do portfólio de produto está rendendo resultados. O primeiro trimestre, tradicionalmente o mais fraco do ano para o varejo de moda, trouxe bons números para a empresa.

A receita líquida consolidada alcançou R$ 2,2 bilhões, ante R$ 1,99 bilhão no mesmo período de 2024. Desse total, R$ 1,57 bilhão veio da receita de mercadorias e R$ 617 milhões da Midway, o braço financeiro do grupo.

O crescimento de mesmas lojas (same-store sales) no segmento de vestuário atingiu 12,8% – número robusto que se aproxima dos 13,9% registrados no terceiro trimestre de 2024 e dos 14,6% do quarto trimestre.

"É o melhor número de Ebitda do primeiro trimestre desde 2017", diz André Farber, CEO da Riachuelo, em entrevista ao NeoFeed.

Ele reforça que o indicador vem em evolução: saltou de R$ 87 milhões no primeiro trimestre de 2023 para R$ 211 milhões no mesmo período de 2024 e, agora, para R$ 258 milhões.

Um dado que chama atenção no balanço é a expansão consistente das margens. Em dois anos, a margem bruta de mercadorias saltou de 46,3% no primeiro trimestre de 2023 para 50,8% no mesmo período de 2025 – incremento de 4,5 pontos percentuais.

"Temos trabalhado melhor a integração fábrica-loja, a estratégia de pricing e promoções", diz Farber. "O quanto a gente ‘promociona’ é definido por como a gente compra bem, e como a gente compra bem é definido por processos, sistemas e inteligência de compra."

No campo financeiro, a dívida líquida caiu de R$ 940 milhões em março de 2024 para R$ 869 milhões em março de 2025, reduzindo a alavancagem (relação dívida líquida/EBITDA) de 0,8x para 0,6x. A meta é encerrar 2025 com alavancagem próxima a zero.

O resultado final ainda apresenta prejuízo de R$ 26 milhões no trimestre, mas representa uma melhora frente ao prejuízo de R$ 116 milhões no mesmo período de 2024 – redução de 77,5%.

"A partir do segundo trimestre a gente vai dar lucro", projeta o CEO, lembrando que em 2024 a empresa entregou lucro nos três trimestres subsequentes ao primeiro.

O nordestino como diferencial

A celebração das origens no Rio Grande do Norte não é apenas uma jogada de marketing para a Riachuelo. Farber, CEO da companhia há dois anos, destaca que a nova coleção outono-inverno, fotografada no sertão do Seridó, coração do Rio Grande do Norte e berço da Riachuelo, com modelos brasileiras, representa uma guinada genuína na identidade da marca.

"Vamos celebrar de onde a gente vem", afirma Farber. "Temos muito orgulho da onde a gente vem. É muito genuíno. A gente tem a maior fábrica de vestuário da América Latina, localizada no Rio Grande do Norte. Esse site emprega 10 mil pessoas."

Além da fábrica principal, a Riachuelo mantém um ecossistema de aproximadamente 100 oficinas associadas no interior potiguar, gerando cerca de 4.000 a 5.000 empregos adicionais.

"Temos um ecossistema de geração de oportunidade da moda muito robusto, principalmente no Rio Grande do Norte", diz o executivo.

Para Farber, esse movimento de reconexão cultural estimula a criatividade e melhora os produtos. A recente colaboração com a Missinclof, a segunda do ano após parceria com a marca carioca Makai, comprova essa tese.

"Estamos tendo que revisitar os volumes, a estratégia de longo prazo", diz ele, mencionando o feedback positivo de consumidores.

A ação GUAR3, da Riachuelo, acumula valorização de 39,5% no ano. O valor de mercado da companhia é de R$ 3,95 bilhões.