As inconsistências na política tarifária dos Estados Unidos durante as negociações do presidente Donald Trump têm colocado muitos investidores em modo de espera enquanto não há uma decisão final sobre as taxas. É nesse cenário de incertezas que a Vista Capital se destaca, comprando justamente aquilo que assombra muitos gestores: a volatilidade.
A casa, que tem aproximadamente R$ 2 bilhões sob gestão, alcançou os melhores resultados de sua pouco mais de uma década de história. Principal fundo da gestora, o Vista Capital Multiestratégia rendeu 37% no mês – mais que o dobro da melhor performance mensal registrada até então. Outros fundos da casa, com menor volatilidade, chegaram a entregar retornos superiores a 15%.
Em carta aos investidores, os gestores da Vista afirmam que o fundo é estruturalmente comprador de volatilidade, por meio do uso intensivo de opções e posições relevantes em ações e commodities.
A gestora defende que a estratégia não exige alavancagem para gerar retornos expressivos ao longo do tempo e, embora demande um custo de carrego maior, protege o portfólio contra perdas em eventos extremos ou, como ocorreu em abril, ajuda a impulsionar os ganhos.
“Esse arcabouço tático é a etapa final de um processo que começa com uma análise abrangente do cenário global”, diz a carta. Além da forma de se posicionar, a direção para a qual a gestora estava apontada também teve grande peso na performance.
O maior ganho veio da posição comprada em ações domésticas, combinada com a venda de ações da Petrobras, que tombaram 17,4% no mês.
Na avaliação da gestora, os recentes resgates dos fundos de renda variável criaram assimetrias significativas em empresas de qualidade. Embora ainda veja riscos fiscais no horizonte, a Vista defende que os preços atuais compensam as incertezas, que deverão se arrastar, pelo menos, até as eleições de 2026.
Para maio, a gestora mantém as posições vendidas em Petrobras, que vê como um “bom funding”, e compradas em ações domésticas, especialmente aquelas com exposição a mercados regulados ou com estrutura de “quase-monopólio”.
Outra tese que tem impulsionado a performance do fundo é a aposta contrária aos ativos americanos. “Continuamos céticos quanto à manutenção do excepcionalismo dos Estados Unidos, apesar da capitulação recente do governo Trump na guerra comercial com a China”, diz a carta da Vista.
Na avaliação da gestora, o mercado americano atravessa um momento de maior fragilidade, com preços elevados em relação à média histórica e alta concentração de investidores globais em ativos do país.
“Qualquer erosão marginal na percepção de estabilidade ou qualquer retorno relativo dos Estados Unidos pode, por si só, desencadeia realocações marginais que provoquem movimentos relevantes nos preços.”
Mais pessimista com as ações americanas, a gestora mantém posição vendida nas bolsas dos EUA, parcialmente via opções. Na outra ponta, segue comprada em mercados emergentes, como Brasil, China e Argentina.
Uma das primeiras gestoras brasileiras a apostarem na retomada da Argentina sob o governo de Javier Milei, a Vista acredita que, apesar da recuperação dos ativos no país, a melhora estrutural ainda é “subestimada pelo mercado”. “Do ponto de vista de valuation, o quadro segue favorável: as ações continuam sendo negociadas a múltiplos atrativos, especialmente no setor bancário.”