A onda dos tokens não fungíveis (NFTs) tomou conta do Brasil (e de boa parte do mundo) entre os anos de 2021 e 2022. Na época, o apelo de possuir um item digital, colecionável e único, fez grandes marcas e artistas desenvolverem seus NFTs próprios. Em meio ao hype, algumas peças nesse formato chegaram a ser vendidas por milhões de dólares.
Nomes como Adidas, McDonald's, Coca-Cola, Samsung, Gucci e muitos outros destinaram grandes quantias em investimentos para os NFTs e, quando a moda começou a esfriar, em 2023, o modelo, que foi usado em grande parte como meio de conexão com o público, acabou sendo deixado de lado.
Algumas dessas marcas conseguiram simplesmente “colocar panos quentes” no assunto, mas esse não parece ser o caso da gigante americana de artigos esportivos Nike. Em abril, a companhia recebeu uma ação coletiva que a acusa de tentar dar um golpe ao encerrar as operações de sua plataforma de NFTs, a RTFKT.
O processo, encabeçado pelo australiano Jadeep Cheema, foi protocolado em um tribunal federal no Brooklyn, em Nova York. Cheema acredita que foi prejudicado pela plataforma da marca de tênis, que, segundo ele, não registrou os NFTs como valores mobiliários na Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). Ao seu lado está um grupo de clientes insatisfeitos com a empresa.
A ação também argumenta que o valor dos tokens da RTFKT dependia dos esforços promocionais da Nike, que não aconteceram. Na visão do grupo, no momento em que a empresa retirou esse “suporte”, os investidores ficaram na mão com os ativos digitais.
“O autor da ação e outros jamais teriam comprado os NFTs da Nike pelo preço que pagaram — ou sequer teriam comprado — se soubessem que esses NFTs eram valores mobiliários não registrados ou que a Nike acabaria retirando o suporte de forma abrupta”, diz o processo.
Com a ação, Cheema está em busca de uma indenização de pelo menos US$ 5 milhões. Além disso, ele quer que haja a devolução dos lucros obtidos pela RTFKT e uma medida cautelar para impedir a Nike de oferecer novos NFTs.
Com o anúncio do encerramento das operações da RTFKT, “os detentores dos NFTs da Nike sentiram que a decisão os deixou com ativos cripto obsoletos”, diz o documento enviado à justiça. Até o momento, a Nike não se pronunciou sobre o assunto.
Antes do tombo
A RTFKT foi fundada em 2020, antes mesmo da moda dos NFTs ganhar força, e adquirida pela Nike um ano depois, em 2021.
Na época, o então CEO da Nike, John Donahoe, afirmou que a decisão de compra ocorreu com a perspectiva de acelerar a digitalização da companhia. “Essa aquisição nos permite atender atletas e criadores na interseção entre esporte, criatividade, jogos e cultura”, disse no documento enviado ao mercado.
“Nosso plano é investir na marca RTFKT, atender e expandir sua comunidade inovadora e criativa, e ampliar a presença e as capacidades digitais da Nike”, completou o executivo.
Foi isso que a marca fez, pelo menos em seus anos de sucesso. Aos poucos, a Nike passou a criar colecionáveis com base em sua marca digital, a Swoosh. Muitos deles eram apenas tênis digitais, enquanto outros davam direito a peças físicas exclusivas, o que elevava o valor desses tokens.
Assim, a empresa lucrava tanto com a venda inicial dos tokens quanto com uma porcentagem de cada transação feita no mercado secundário, ou seja, com sua compra e venda por terceiros.
Com essa estratégia, a coleção de NFTs CryptoKicks da Nike estreou em 2022 negociada a uma média de 3,5 Ether, o que correspondia a cerca de US$ 8 mil na época. Hoje, esse mesmo token está sendo vendido por cerca de 0,011 Ether, o que representa aproximadamente US$ 28.
A queda, porém, não ocorreu só para os ativos da Nike. No primeiro trimestre de 2025, os NFTs viram suas vendas recuarem 63% na comparação anual, atingindo US$ 1,5 bilhão ante os US$ 4,1 bilhões registrados no mesmo período de 2024.