A fintech Neon, o banco digital que sempre se posicionou perto das classes C e D, concluiu sua rodada Série E com uma captação total de R$ 720 milhões. A terceira etapa, recém-finalizada, marcou a entrada dos fundos de desenvolvimento IFC, braço do Banco Mundial, e da DEG, ligada ao banco alemão KfW.

“É um novo perfil de investidor. Como são fundos de desenvolvimento, o enfoque é ainda maior nos aspectos de risco e processos ASG [ambiental, social e de governança corporativa]”, diz Jamil Marques, CFO da Neon, em entrevista ao NeoFeed.

O investimento ocorre logo após a Neon ter atingido o breakeven. De acordo com o demonstrativo financeiro da companhia, o resultado positivo foi alcançado pela primeira vez em novembro e dezembro de 2024.

No primeiro trimestre deste ano, a companhia teve um lucro líquido de R$ 9,3 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 161,7 milhões apresentado no mesmo período de 2024 - foi o segundo trimestre consecutivo com a conta no azul. A receita bruta do período teve um acréscimo de 63% na comparação trimestral, para R$ 806 milhões.

Ao longo do exercício de 2024, a Neon concentrou esforços em iniciar a originação de crédito a partir da Neon Financeira, o que reduz substancialmente o custo de funding à medida que reduz a dependência exclusiva de FIDCs.

A rodada Série E da Neon foi dividida em três etapas. A primeira foi realizada em dezembro de 2023 e a segunda, em agosto de 2024. A fintech havia captado R$ 518 milhões junto aos investidores.

Nessas duas fases participaram da captação investidores que já faziam parte da base acionária da empresa, como BBVA e General Atlantic. Ao todo, 11 investidores institucionais entraram na última rodada. Desta vez, não foi divulgado o valuation da operação.

“O que eu posso dizer é que a gente continua sendo unicórnio, não viramos decacórnio”, diz o CFO, em referência a empresas que valem mais de US$ 10 bilhões.

Considerando todas as rodadas, a Neon já levantou cerca US$ 1,15 bilhão junto a 16 investidores institucionais. Com a Série E finalizada, Marques vê uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) como “passo natural”, mas evitou cravar uma data para a operação.

“É bem possível que a próxima rodada de captação seja um IPO ou uma rodada associada a um IPO logo à frente, que também é bem comum”, diz ele.

“Não temos um horizonte claro, até porque é algo que não controlamos, depende do mercado. Mas temos trabalhado nos processos para estarmos aptos quando o mercado permitir”, complementou.

Destinação dos recursos

Com o dinheiro da última captação, a Neon projeta a expansão de sua carteira de crédito, que está aproximadamente em R$ 6 bilhões. Uma das grandes apostas da instituição financeira é o novo crédito consignado privado.

A companhia atuava no modelo anterior desde 2021, que necessitava o convênio com as empresas empregadoras, e vê no novo modelo, via plataformas centralizadas do governo, uma grande oportunidade de acelerar o negócio.

“Estamos nos preparando para esse novo produto desde meados do ano passado e estamos nele desde o início”, diz Marques. Ele conta, no entanto, que o produto segue em fase de maturação e aprendizado, sobretudo com os aspectos operacionais.

Marques conta ainda que parte dos recursos captados também será destinada a investimentos em tecnologia, tanto para reforçar o time quanto para aprimorar sistemas. O foco está em evoluir o aplicativo, melhorar a experiência do usuário e avançar nas iniciativas ligadas ao Pix, open finance e inteligência artificial.