Brasília - Mesmo depois de 24 horas do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% produtos brasileiros, parlamentares ainda assistem aos movimentos com perplexidade. E, tirando petistas e bolsonaristas, deputados e senadores do centro, mais voltados para a defesa do setor empresarial, se mostram cuidadosos ao falar sobre as ações do chefe norte-americano.
Um dos poucos a demonstrar indignação publicamente é Vitor Lippi (PSDB-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo. Em entrevista ao NeoFeed, Lippi afirmou que os setores produtivos brasileiros devem sofrer impactos gravíssimos com o tarifaço de Trump, prejudicando a indústria nacional.
“Os Estados Unidos são o segundo país que o Brasil mais exporta no mundo, primeiro é a China. E nós temos setores que têm uma exportação muito significativa”, afirma Lippi.
“Não há dúvida de que a medida vai afetar a competitividade das empresas brasileiras. É preciso ainda avaliar o tamanho do impacto, mas será enorme", complementa.
Para além dos prejuízos financeiros para parte dos setores da economia brasileira, o parlamentar destaca a instabilidade nos atuais contratos de comércio exterior. “Já se cria uma instabilidade enorme”, diz Lippi, que tem atuação voltada para o desenvolvimento, ciência e tecnologia e reforma tributária.
Na tarde de quarta-feira, 9 de julho, depois de cobranças de integrantes do governo, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, divulgaram nota citando a Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso como uma forma de reação. Mas falam também da necessidade de diálogo nos campos diplomático e comercial.
“Nós temos que buscar soluções diplomáticas, inclusive, para esclarecer que o que está escrito naquela carta do presidente Trump não é verdade”, diz ele. “Importamos muito mais dos EUA do que exportamos. Portanto, esse argumento que ele usou para outros países não serve para o Brasil.”
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o senhor avalia a medida anunciada por Trump em aumentar tarifas?
Essas medidas afetam diretamente a competitividade do Brasil. Se você aumentar em 50% a alíquota de importação daquilo que vai para os Estados Unidos, você vai afetar as indústrias brasileiras, os setores econômicos do Brasil, que são muito importantes. Mas estamos avaliando o tamanho desse impacto de maneira mais precisa.
O que se pode observar neste momento, 24 horas após a carta?
Os Estados Unidos são o segundo país que o Brasil mais exporta no mundo, primeiro, como se sabe, é a China. E nós temos setores que têm uma exportação muito significativa. Um dos maiores exemplos é o setor da aviação. A Embraer, para citar uma empresa, tem parte expressiva da sua produção voltada para os Estados Unidos, que exporta para ela, até porque a companhia monta aviões lá nos EUA e leva peças daqui para lá. Então ela tem aí uma atividade econômica muito intensa com os Estados Unidos. Mas não é só ela, que deixe claro.
Quais os demais setores que serão impactados?
A WEG, que é a maior indústria do mundo de motores elétricos, que vende muito para os Estados Unidos, também deve ser afetada, o setor de peças automotivas. Mas, veja, tem o setor calçadista, o de petróleo, os demais derivados, de celulose. Todos esses setores são muito importantes para a economia brasileira e serão afetados. É preciso citar o café, outro produto muito importante para a exportação, mas temos também o setor metalmecânico, laranja. No caso das carnes brasileiras, calcula-se que de 10% a 12% das exportação brasileira vá para os Estados Unidos.
O que isso pode causar de imediato na avaliação do senhor?
Todos esses setores podem sofrer consequências gravíssimas, inclusive dos contratos já existentes, criando uma grande insegurança, uma grande instabilidade. Vemos isso, portanto, com uma grande preocupação. [Essas tarifas] para todos esses setores e para o Brasil como um todo pode ter consequências de aumento do dólar, instabilidade do mercado, instabilidade de novos investimentos. Então é realmente muito preocupante. Recebemos esse anúncio de aumento de tarifas com perplexidade.
E qual a saída, recompor o diálogo, usar a Lei de Reciprocidade aprovada pelo Congresso recentemente?
Diante de uma notícia de altíssimo risco para o Brasil, e que traz grande perplexidade e consequências, a saída, sem dúvida, é negociação. Temos que buscar soluções diplomáticas, inclusive, para esclarecer que o que está escrito naquela carta do presidente Trump não é verdade.
O que o senhor defende?
É muito importante que saiba disso: a carta de Trump diz, justifica, que o Brasil tem vantagens comerciais em relação aos Estados Unidos, e que a balança comercial prejudica os Estados Unidos. Mas é o contrário. Importamos muito mais dos Estados Unidos do que exportamos para os Estados Unidos. Portanto, esse argumento que ele usou para outros países não serve para o Brasil. Eu entendo que isso precisa ser esclarecido, até porque existem 200 anos de relação comercial com responsabilidade, com reciprocidade com os Estados Unidos Tudo isso acaba ficando em risco diante dessa considerada agressão do presidente Trump à economia do nosso país.
E como o senhor avalia a reação dos produtivos brasileiros em relação ao aumento de tarifas?
Todos os setores, quer seja os setores de petróleo, de mineração, do agronegócio, de atividades ligadas à produção de eletroeletrônicos e metalmecânica no Brasil estão muito preocupados com as consequências e esperando que haja alguma solução diplomática ou de negociação para minimizar ou pelo menos afastar esse risco para o nosso país.