Economista, governador do Espírito Santo em três oportunidades, prefeito de Vitória, a capital do estado, além de mandatos como deputado estadual, deputado federal e senador. Com esse currículo, Paulo Hartung tornou-se uma figura carimbada e bastante ativa nos debates sobre a política e a economia do Brasil.

No início de novembro, por exemplo, ele participou de um evento da Bradesco Asset Management. Na ocasião, entre outras questões, frisou que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva precisava “descer do palanque”, abandonar o tom populista da campanha e realinhar as expectativas do País.

Na manhã desta terça-feira, 6 de dezembro, Hartung foi, novamente, o convidado de um evento ligado ao mercado financeiro, dessa vez, o Safra Trends, promovido pelo banco Safra. E, em sua participação, avançou em direção ao que julga ser prioritário no mandato de Lula a partir da posse em 1° de janeiro de 2023.

“A reforma tributária deveria ser a primeira reforma a ser feita”, afirmou Hartung. “É preciso implantar o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), pegar estudos e projetos que estão tramitando e colocar para andar. Isso aumentaria a atratividade de investimentos para o país.”

A partir da bagagem acumulada em quase 40 anos de carreira na política, o ex-governador do Espírito Santo também falou sobre o caminho das pedras sobre os desafios de concretizar uma reforma desse porte diante dos interesses e resistências em diversas esferas do governo, incluindo estados e municípios.

“Eu aprendi que quando você faz uma regra de transição, você não modifica os termos imediatamente, e sim, ao longo do tempo, gradativamente”, observou Hartung. “Dessa maneira, você encaixa muitas das expectativas e quebra muito a oposição ao que você quer fazer.”

Ele citou como exemplo o fim da reserva no mercado de informática, na década de 1990, quando era deputado federal. “Nós fizemos uma regra futura”, disse. “Anos depois, no dia em que a reserva de fato acabou, isso não era uma notícia de jornal, não houve briga, porque a regra de transição foi bem feita.”

Ao mesmo tempo, Hartung disse que não vê espaço para uma reforma administrativa, algo que, em sua visão, também seria um passo essencial a ser dado logo na largada do novo governo.

“Se tivéssemos um conteúdo de mais modernidade, assim como vemos na esquerda europeia, eu também colocaria a reforma do RH do setor público em pauta”, afirmou. “Mas até pela característica de quem ganhou a eleição, acho que isso não vai andar.”

Hartung ressaltou que é preciso um choque de produtividade na máquina pública e investir na adoção de metas e mecanismos de avaliação de desempenho, assim como acontece na iniciativa privada. E destacou os desperdícios em áreas como educação, saúde e segurança pública.

Outro ponto abordado por Hartung em sua participação foi a questão da responsabilidade fiscal, tema que vem dominando o debate, as cobranças e as expectativas sobre o próximo mandato de Lula. Para ele, é preciso ter sinais claros do que vai ser feito nessa direção para “reancorar” as expectativas do País.

“Essa é uma questão que independe de posição política, ideológica. Você só coloca os pobres no orçamento se cuidar das contas”, disse. Em paralelo, Hartung citou que a convivência dessas correntes e a montagem de um base sólida e confiável é o maior desafio do novo governo.

“Ninguém governa sozinho. Todos que tentaram governar sem uma base sólida deram com os burros n’água”, observou. Ele acrescentou como referência os movimentos recentes na Alemanha, quando o governo social democrata, eleito com uma maioria apertada, se aproximou de outros partidos.

“Eles montaram um programa de 183 páginas para dar sequência ao ciclo da Angela Merkel”, afirmou. “Estamos longe disso, mas acho que é possível ter pontos mínimos e programáticos para criar um campo de convergência em torno de temas como combate à pobreza e a questão ambiental.”