Após um 2022 bastante difícil, o início de 2023 só intensificou o momento crítico do varejo brasileiro. Um dos termômetros desse cenário é o varejo de moda, com exemplos como a Marisa e, mais recentemente, a Amaro, cujo pedido de recuperação extrajudicial foi deferido.
Acostumada a figurar entre as principais escolhas na prateleira de ativos do segmento listados na B3, nem mesmo a Renner está conseguindo reduzir os impactos de um pacote que inclui desde as más condições da economia até o avanço de players de fora do País.
Esses desafios são ressaltados em um relatório sobre a empresa publicado nesta quarta-feira, 29 de março, pelo Bank of America. O banco acrescenta, porém, uma outra peça a essa coleção para ilustrar – literalmente, o clima menos favorável para a rede.
“O clima mais quente e geralmente mais seco no acumulado do ano deve limitar o tráfego nas lojas da Renner e a demanda de outono/inverno”, escrevem os analistas Robert Aguilar, Melissa Byun, Vinícius Pretto e Wellington Santana.
A perspectiva de uma desaceleração nas vendas a partir dessa previsão de tempo adversa é um dos fatores que levaram o BofA a reduzir o preço-alvo da ação da Renner, de R$ 25 para R$ 22, e reiterar a recomendação neutra para o papel.
Em outra ponta, o banco também rebaixou as estimativas de lucro por ação da operação. Para 2023, a mudança foi de R$ 1,42 para R$ 1,26. E, para 2024, a atualização aponta para R$ 1,49, contra a projeção anterior de R$ 1,71.
“A Renner também saiu de 2022 com estoques mais pesados após um quarto trimestre abaixo do esperado, sugerindo um risco de crescimento moderado em mesmas lojas e um mix mais promocional”, observa o time do BofA.
O quarteto também destaca a expectativa de uma geração de crédito mais lenta que, combinada a níveis elevados de inadimplência, pode trazer mais perdas à Realize, seu braço de serviços financeiros, cujo desempenho já acendeu o sinal de alerta no terceiro trimestre de 2022.
Como um agravante no horizonte não apenas da Renner, mas de todo o setor, o Bank of America ressalta ainda a aceleração da escalada da varejista chinesa Shein e destaca o fato desse ganho de tração coincidir com a queda geral nos volumes do segmento de vestuário no País.
“A Shein é responsável agora por 68% de todo o tráfego em sites de vestuário, um crescimento de 99% em relação ao ano anterior”, observam os analistas, citando dados compilados dos meses de janeiro e fevereiro. No período, a fatia da Renner foi de 5,4%, queda de 6% sobre igual período, um ano antes.
O avanço da varejista de moda chinesa tem incomodado o varejo como um todo. Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, fez duras críticas à competição desleal que as empresas brasileiras vêm travando, conforme mostrou o NeoFeed.
Por volta das 15h46, as ações da Renner estavam sendo negociadas com um recuo de 6,38%, figurando entre as maiores baixas do dia na B3. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização superior a 18%. A companhia está avaliada em R$ 15,9 bilhões.