O mercado de criptomoedas no Brasil, que cada vez mais tem despertado a atenção de investidores do varejo e tem sido um terreno fértil para o surgimento de novas plataformas de negociação, atraiu o interesse de uma das maiores bolsas de ativos digitais da Ásia, a OSL, sediada em Hong Kong.

Nesta terça-feira, dia 19 de outubro, a companhia lança na América Latina, com foco maior no mercado brasileiro, o seu serviço de exchange, dedicado exclusivamente a atender investidores profissionais, como gestoras de investimento e escritórios de family office.

São casas que contam com criptomoedas no portfólio de seus fundos, movimentam recursos significativamente maiores que os investidores pessoa física e precisam de uma plataforma que seja capaz de prover liquidez no dia a dia para tal. Até o fim do ano, os clientes brasileiros terão isenção na taxa de negociação.

"Queremos estar nos países mais relevantes e o Brasil tem um mercado de capitais gigantesco. Nós nos tropicalizamos", afirma Guilherme Rebane, head da OSL no Brasil, com exclusividade ao NeoFeed.

Na largada, os fundos que já contam com alguma ou total exposição a criptomoedas são o alvo natural da OSL, que estima haver cerca de R$ 5 bilhões em recursos aplicados por carteiras dedicadas a essa classe de ativos no Brasil.

Entre as gestoras especializadas em investimentos em criptoativos, destacam-se a Hashdex e a QR Capital. Algumas casas mais generalistas também têm apostado em fundos de criptomoedas, como Vitreo, BTG Pactual e BLP Asset.

A OSL, porém, vê potencial para que os tradicionais fundos multimercado entrem de cabeça nesse mercado. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos multimercado do Brasil contam com R$ 1,5 trilhão em patrimônio líquido, de um total de R$ 6,8 trilhões para a indústria de fundos.

“Com o aumento da demanda por ativos alternativos, onde os ativos digitais se encaixam, os fundos multimercado vão começar a fazer alguma alocação nisso, e é aí que entramos”, diz Rebane, que responde ao escritório da OSL na Cidade do México, o único da companhia no continente americano.

Guilherme Rebane, head da OSL no Brasil

Por ser focado em investidores institucionais, a OSL não chega ao mercado brasileiro para competir com players como Mercado Bitcoin e Bitso, dedicados a investidores do varejo.

A OSL não será a primeira a explorar esse terreno de investidores institucionais. A 2TM, holding dona do Mercado Bitcoin, tem a MezaPro. A BitBlue, do grupo B&T, também atua com serviços de exchange para investidores profissionais. A FlowBTC, da Finchain, embora seja mais focada no varejo, trabalha também com clientes institucionais.

Internacionalmente, outros nomes que oferecem serviços de liquidez em criptoativos para investidores profissionais são a Genesis, Fidelity e Gemini.

A OSL não se arrisca a fazer projeções para o Brasil, mas Rebane diz que o mercado brasileiro é um dos “mais maduros do mundo”, fruto do trabalho que tem sido desenvolvido pelas exchanges voltadas ao varejo.

Segundo estimativas de mercado, cerca de 4 milhões de CPFs já negociaram algum tipo de criptoativo no Brasil. No início do mês, em evento do BTG, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, disse que os brasileiros acumulam fluxo de US$ 12 bilhões em investimentos em criptoativos, não muito distante do patamar de aplicações em ações americanas, de US$ 16 bilhões.

Globalmente, a OSL, controlada pela BC Technology Group, listada em Hong Kong, registrou US$ 15 bilhões em negociações no primeiro semestre, expansão de 70% em relação à primeira metade de 2020.

Enquanto a China aperta o cerco na regulação para criptoativos, a empresa de Hong Kong mira outros mercados. Além da América Latina, Estados Unidos e Canadá estão no radar.

Além do negócio de exchange para investidores institucionais, a OSL também oferece serviços de software as a service (SaaS), para empresas que querem ter a própria plataforma, e prime brokerage, que inclui empréstimos de criptomoedas, mercado de balcão e execução eletrônica - ambos já em operação no Brasil.

De olho nos bancos que querem oferecer a própria plataforma de negociação de criptoativos, como fará o BTG com a Mynt, a OSL acredita que o serviço de SaaS é o que tem mais potencial para crescer e se tornar o negócio mais relevante da companhia nos próximos anos, posto hoje ocupado pelo prime brokerage.

No primeiro semestre, a receita da OSL somou US$ 14,6 milhões, alta de 70% em relação à primeira metade do ano passado. O segmento de prime brokerage representou 92% do total. No negócio de SaaS, os volumes negociados atingiram US$ 630 milhões.

“Estamos quase fechando com um banco da América Latina, fora do Brasil, e estamos conversando com várias instituições brasileiras, que querem entender melhor esse mercado”, afirma o executivo da OSL. O BTG, primeiro banco brasileiro a ter uma plataforma de criptomoedas, usa tecnologia própria.

Ao ter as próprias plataformas, o bancos fazem um esforço para manter consigo o dinheiro dos investidores que poderiam ser aplicados em exchanges independentes. Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), só em 2021, cerca de R$ 25 bilhões saíram das instituições financeiras para plataformas de criptomoedas.

Na Europa, a OSL já tem uma parceria com o banco britânico Standard Chartered. Ambos firmaram uma joint venture para desenvolver uma plataforma de negociação de criptomoedas que terá o objetivo de atender os investidores do continente.

Questionado sobre se a OSL pretende, em algum momento, atuar no varejo, Rebane nega. "Podemos ter um investidor pessoa física que seja qualificado e queira investidor conosco, mas ele passará por toda o processo de 'onboarding' de um institucional. O varejo não está no nosso radar."