A Mindset Ventures é mais uma gestora a entender que o mercado de games não está para brincadeira. A empresa de venture capital brasileira que investe em startups dos EUA e Israel participou de uma rodada de US$ 5 milhões levantada pela Sizzle, startup americana que usa inteligência artificial para auxiliar na gravação de momentos de destaque em jogos eletrônicos.

O investimento é liderado pela gestora de capital de risco americana White Star Capital e conta ainda com a participação de outros fundos, como Eterna Capital, do Reino Unido, e Play Ventures, de Cingapura. A Xoogler, gestora formada por atuais e ex-funcionários do Google, também está envolvida na injeção de capital.

Conforme apurou o NeoFeed, a participação da Mindset Ventures no aporte é de aproximadamente R$ 3 milhões, ou cerca de US$ 550 mil, considerando o câmbio atual. Ainda que o valor não seja alto, o montante marca o primeiro investimento da gestora brasileira na área de games. A ideia é que ampliar a alocação de capital na operação ao longo do tempo.

“O mercado de games sempre chamou a atenção. Mas o desafio era buscar um negócio que atacasse o mercado B2B”, diz Daniel Ibri, um dos sócios da Mindset Ventures ao lado de Nemer Rahal e Camila Potenza, com exclusividade ao NeoFeed. “Estávamos procurando por tecnologias que estão por trás da infraestrutura e não um estúdio de jogos.”

A Sizzle se encaixa nessa tese. Fundada em 2018 por Murali Raju e Vijay Koduri, a startup utiliza técnicas de inteligência artificial para auxiliar na gravação automática de microclipes em partidas. Esses vídeos podem ser usados por jogadores e empresas em postagens de redes sociais ou serem transformados em NFTs. Em ambos os casos, a ideia é gerar receita com o conteúdo.

O dinheiro alocado na startup americana vem do terceiro fundo da Mindset Ventures, que tem capacidade para investir até US$ 52 milhões em negócios de tecnologia. A Sizzle é uma das 20 startups que foram investidas com o veículo. O vigésimo investimento ainda está para ser anunciado.

Com o plano de captar US$ 100 milhões, um quarto fundo deve começar a ser utilizado a partir de agosto deste ano, quando terá seu primeiro closing, com cerca de 30% do valor pretendido. O restante deverá ser obtido até o fim do ano.

Ibri não revela quem está colocando dinheiro no fundo, mas diz que 90% do montante vêm do Brasil e, a maior parte, de investidores qualificados, mas ainda na figura de pessoa física, e de family offices. Uma parcela menor vem de empresas.

Com o novo fundo, a intenção é aumentar o valor dos cheques que serão investidos em cada operação da faixa  de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões para algo entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões. A ideia é buscar negócios early stage, “mas que estejam mais perto da Série A do que do seed”, segundo Ibri. Em relação ao número de investimentos, a expectativa é fazer 20 aportes.

O que também não muda é a tese de buscar empresas apenas em dois países: Israel e Estados Unidos. “Israel tem um mercado minúsculo e o empreendedor já cria um negócio olhando para fora”, diz Ibri. Sobre o mercado americano, o executivo diz que “se você quer se posicionar como um venture capital internacional, é preciso incluir os EUA”.

O foco está em companhias de software e cuja operação siga o modelo B2B. Entre os setores, há atenção para as fintechs. “A gente tem olhado para fintechs que se relacionam com outros setores, como saúde, seguros e educação”, diz. “Outro mercado é o de SaaS, que utiliza tecnologias como inteligência artificial e machine learning para automatizar processos.”

Daniel Ibri, sócio da Mindset Ventures

Por ora, a Mindset Ventures já fez 57 investimentos ao todo. O principal aporte realizado foi na operação da Brex, fintech fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi em São Francisco, que vale US$ 12,3 bilhões. O investimento foi concluído antes de Ibri fundar a Mindset Ventures.

Nas próximas semanas, a gestora brasileira deve finalizar o 59º aporte (e o último do terceiro fundo). Para esse ano, a meta é fazer entre três e cinco investimentos, mas agora já com o dinheiro do quarto veículo. “O mercado está bom. A competição caiu muito e os valuations também”, diz Ibri. “Podemos ser mais agressivos nas posições.”

Na tese de saída, Ibri explica que o plano é obter retornos entre cinco e sete vezes o capital investido. O desinvestimento deve ser feito, em boa parte dos casos, por operações de M&A, mas há a possibilidade de que alguns negócios cheguem até o estágio de IPO. Ao todo foram sete saídas realizadas em seis anos de operação. “O ciclo tem sido melhor e mais rápido do que a gente esperava”, afirma Ibri.