Os resultados da Ambev no segundo trimestre terão um gostinho de “cerveja choca” segundo analistas que acompanham a empresa, com a perspectiva de forte crescimento da receita líquida sendo ofuscada pelo avanço dos custos com matérias-primas. Mas, olhando mais à frente, a situação pode melhorar. 

Marcado para ser divulgado no próximo dia 28 de julho, o balanço da fabricante de bebidas deve registrar um crescimento de 10% no volume de venda de cerveja no Brasil, principal categoria da empresa, segundo a XP Investimentos. A expectativa está baseada na alta de 11,7% da produção de bebidas alcoólicas nos dois primeiros meses do segundo trimestre, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

“Estimamos que a Ambev deve superar o setor devido às suas sólidas vantagens competitivas, como sua sólida capacidade industrial e a capilaridade comercial de sua marca”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, que recomendam a compra das ações, com preço-alvo de R$ 18,80, potencial de alta de 36%. 

O Itaú BBA também projeta aumento do volume de vendas de cerveja no País no segundo trimestre, mas a estimativa é um pouco mais conservadora, com alta de 5%. Segundo os analistas Gustavo Troyano, Renan Moura e Victor Gaspar, esse avanço foi provocado por fatores exógenos, com a piora do mercado de consumidor pesando muito em concorrentes menores. Eles têm recomendação neutra para a Ambev, com preço-alvo de R$ 18,00. 

A venda de cerveja no Brasil, combinada com o bom desempenho da área de bebidas não alcoólicas, cujo volume comercializado deve subir 14% para o Itaú BBA e 17% para a XP, serão determinantes para que a receita líquida consolidada cresça na casa dos dois dígitos no segundo trimestre. Para a XP, a alta será de 11%, a R$ 17,4 bilhões, e para o Itaú BBA, de 14,3%, a R$ 18 bilhões. 

O fator que jogará água no chopp desse bom desempenho é a questão dos custos. No caso da divisão de cerveja, os principais ingredientes – cevada, malte e lúpulo – são importados, em sua maioria, de Ucrânia e Rússia, além de terem ganho um impulso da valorização do real e do preço do diesel. Nas bebidas não alcoólicas, os custos também subiram, principalmente do açúcar, de embalagens PET e do alumínio.

“A lucratividade deve continuar prejudicada no segundo trimestre, com os altos preços das commodities pesando sobre as margens de todas as áreas”, diz trecho do relatório do Itaú BBA. 

Os analistas do banco projetam uma compressão de 1,3 ponto percentual da margem Ebitda da Ambev no segundo trimestre, em base anual, para 24,6%. A XP estima um recuo de 3,3 pontos percentuais da margem Ebitda ajustada, para 23,7%. 

Ainda que não estejam otimistas em relação ao segundo trimestre, os analistas da XP acreditam que a Ambev pode registrar um bom fim de ano. Para eles, a companhia está se beneficiando da retomada de grandes eventos, como o Carnaval e as festas de São João, e deve assistir a um crescimento ainda maior do consumo a partir de novembro, quando começa a Copa do Mundo. 

“A sazonalidade sugere que a produção deve continuar crescendo até outubro, com um breve hiato em novembro, mas com dezembro estabelecendo recorde”, diz trecho do relatório. “Se a Ambev seguir o desempenho do setor, o aumento no volume e a redução das pressões sobre os custos devem resultar em melhores margens.”

Por volta das 13h01, as ações da Ambev subiam 5,58%, a R$ 14,56. No acumulado do ano, os papéis recuam 5,57%, levando o valor de mercado da empresa a R$ 229,5 bilhões.