A escassez de semicondutores para a indústria, que derrubou a produção de veículos em todo o mundo, tem forçado as montadoras a buscar soluções para se adequar aos estoques reduzidos e à falta de carros nas concessionárias.

A americana Ford aproveitou a crise para repensar a forma como vende seus carros e está começando a implementar um modelo sob demanda, no qual o consumidor faz o pedido à fábrica pela internet e só vai à concessionária para buscar o veículo, quando estiver pronto.

O plano da montadora é que cerca de 25% das vendas nos Estados Unidos sejam feitas dessa maneira. A companhia não especificou, no entanto, quando prentede atingir essa meta. A ideia é também reduzir os custos de manter os carros parados, tanto das montadoras quanto das concessionárias, e tornar a operação mais eficiente.

Segundo o CEO global da Ford, Jim Farley, com a nova estratégia, os estoques nas concessionárias poderiam ser suficientes para algo entre 50 dias e 60 dias, enquanto a média histórica é de 75 dias.

Quando anunciou a ideia pela primeira vez ao mercado, em julho deste ano, Farley disse que aumentar os pedidos por meio da fábrica deixará a empresa mais focada em modelos de maior demanda.

“A medida também permitirá que economizemos dinheiro em marketing e incentivos para que as pessoas comprem carros que não estão vendendo”, disse à época. No ano passado, a Ford teve prejuízo de US$ 1,3 bilhão, depois de um lucro líquido de US$ 84 milhões em 2019.

A montadora está implementando nos EUA um modelo que já é comum na Europa. Contudo, enfrentará uma cultura já enraizada entre os consumidores americanos de comprar um carro na concessionária e já levá-lo para casa.

De qualquer forma, a crise de semicondutores não tem dado escolha aos consumidores. Com a falta de carro, os consumidores vão às concessionárias, fazem o pedido e esperam por meses até que tenham o veículo à disposição.

No Brasil, as filas de espera têm sido de dois a três meses, a depender do modelo, disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, em entrevista ao NeoFeed.

Segundo um estudo encomendado pela Anfavea à consultoria BCG, a escassez de semicondutores durante a pandemia fará a indústria automobilística global deixar de produzir entre 5 milhões e 7 milhões de veículos em 2021. No Brasil, a associação estima que de 100 mil a 120 mil unidades deixaram de ser produzidas no primeiro semestre deste ano.

Vale lembrar que a Ford não teria como implementar esse modelo no Brasil. A empresa desativou as duas fábricas de veículos que mantinha em território brasileiro. A de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foi fechada em 2019 e a de Camaçari, na Bahia, foi encerrada em 2021.

As concessionárias americanas, embora possam reduzir seus custos com o novo modelo, se preocupam com a possibilidade de perder vendas, em razão de uma possível impaciência do consumidor para esperar o veículo ficar pronto, uma vez que ele pode simplesmente ir a uma outra revendedora e comprar na hora.

“E se reduzirmos os estoques, mas a Chrysler e a GM não?” disse Ed Jolliffe, um concessionário da Ford perto de Detroit, ao jornal The Wall Street Journal (WSJ).  “O tempo é a morte para uma venda. Há um velho ditado no ramo de automóveis que diz que quanto mais você espera após o primeiro contato com o cliente, maior é a chance de perdê-lo”.

A Ford, porém, não é a única a caminhar nessa direção. A Volkswagen também tem apostado no modelo. Scott Keogh, executivo-chefe dos negócios da montadora nos EUA, disse que ter clientes que encomendam carros traz benefícios. “Isso nos permite corresponder melhor ao mercado”, disse Keogh ao WSJ. “É uma maneira muito mais eficiente de gastar seu capital do que ter carros parados.”

Na GM, executivos já chegaram a dizer que não planejam manter tantos veículos nos estoques das concessionárias, enquanto a escassez de semicondutores diminui a produção. Eles, porém, não deram um plano concreto.