Há uma velha máxima – quase um lugar comum – de que as startups nascem pequenas. Mas a Quiq já surgiu gigante, fruto da união da 4all, holding de José Renato Hopf, fundador da Getnet, com nove grupos econômicos do setor de fast food, dono de marcas como McDonald´s, Giraffas, Outback, Domino´s Rei do Mate e Spoleto, entre outras, no ano passado.

De uma só tacada, Hopf reuniu os principais pesos-pesados setor de fast food que atuam no Brasil para criar uma solução B2B que integrasse na mesma plataforma diversos aplicativos de delivery, vários sistemas de PDVs e muitos operadores logísticos para que restaurantes e bares pudessem gerenciar melhor os pedidos online, uma dor operacional e logística do segmento.

Agora, a Quiq está ficando ainda maior e dobrando de tamanho com a aquisição do módulo de delivery da Cadis, uma empresa de tecnologia e consultoria que atua no setor de food service. Com a transação, o seu primeiro M&A, a plataforma passa a contar com 2,5 mil clientes, donos de diversos estabelecimentos.

“Esse é um setor de muito competição e complementariedade”, diz Hopf, com exclusividade ao NeoFeed. “Com a aquisição, trazemos mais canais, mais expertise e mais volume”.

O negócio, de valor não revelado, aumenta também o número de integrações da plataforma da Quiq, que passa a cobrir aproximadamente 95% dos aplicativos de delivery e dos sistemas de PDV do mercado brasileiro, segundo estimativas da startup.

Além de iFood e Rappi, os dois principais apps de delivery do mercado, a Quiq passa a contar com AiQFome, do Magazine Luiza, Pede Pronto, da Alelo, Delivery Much e Delivery Direto. No total, o negócio traz para a plataforma da Quid 12 aplicativos de delivery, três operadores logísticos e 12 sistemas de PDVs.

Antes da aquisição, a Quiq contava com 17 apps de delivery, dez sistemas de PDVs (entre eles, Linx, Totvs e Oracle) e sete empresas de logística.

Plataforma da Quiq integra diversos apps de delivery

A plataforma da Quid faz toda a gestão do pedido online de diversos apps, integrando com as informações fiscais do PDV e dando opções de operadoras logísticos para fazer a entrega. Ao mesmo tempo, permite que alterações do cardápio sejam feitas em todos os aplicativos de delivery simultaneamente, sem a necessidade de atualizar um por um.

Em uma época em que ter informações do cliente é cada vez mais fundamental, a Quiq permite também que os restaurantes possam ter os dados do consumidor final. Hoje, essa informação fica com os apps de delivery.

O modelo de negócio é o tradicional SaaS (Software as a Service), cobrando uma mensalidade por pedidos, que começa em R$ 79,90 e pode chegar a R$ 289,90 para mais de 800 pedidos por mês. Acima desse número pedidos e para redes com franquias em diversas localidades, os preços são negociados caso a caso.

Cristian Mairesse Cavalheiro, CEO da Quiq

A meta é chegar a 5 mil restaurantes em 2023, boa parte deles do portfólio dos próprios sócios. Nos próximos cinco anos, a estimativa é alcançar 60 mil pontos de venda que pagam pela plataforma, cerca de 10% do número de restaurantes e bares do Brasil com algum tipo de delivery, de acordo com as previsões da Quiq. “Já estamos realizando 2 milhões de pedidos por mês na plataforma”, diz Cristian Mairesse Cavalheiro, CEO da Quiq.

Questionado se a Quiq é uma resposta desses pesos-pesados de fast food ao domínio do iFood no setor de delivery – estima-se que a empresa da Movile tenha uma fatia de mais de 80% das entregas -, Cavalheiro diz que “vai haver um balanceamento natural do mercado de delivery no Brasil.” A plataforma, no entanto, permite que os restaurantes criem seus próprios aplicativos de entregas.

“Na pandemia, o peso do delivery no fast food cresceu muito e se estabilizou em um patamar muito alto”, diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Consultoria. “Essas empresas têm o desafio de conciliar capilaridade, velocidade do nível de serviço e ao mesmo tempo proteger margem.”

De acordo com Serrentino, o food service precisa conviver com esses aplicativos de delivery em uma relação que não crie dependência e não provoque a perda de clientes. “Claramente é um desafio de longo prazo”, diz.

Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), as vendas por delivery no mercado de food service movimentaram cerca de R$ 35 bilhões, representando 20% do que o setor faturou em 2021.

Desde que surgiu, a Quid já investiu R$ 41 milhões na operação. O dinheiro veio dos próprios sócios e de uma captação série A que trouxe para a base de acionistas o Marfrig e o Safra.

Ambos devem, ao seu modo, usufruir dessa base de restaurantes. No caso do Marfrig, a intenção é se relacionar com a cadeia de food service. No Safra, o objetivo é oferecer serviços financeiros a esse público. Detalhes sobre os planos de ambos não são comentados por Cavalheiro e Hopf.

A Quid deve buscar mais recursos para tocar seu plano de negócios. O plano é investir mais R$ 60 milhões até 2025. “Queremos sócios para acelerar o negócio”, afirma Hopf. A nova captação pode acontecer em 2023.

Criador de startups

Hopf é um dos fundadores da empresa de adquirência Getnet comprada pelo Santander em 2014. Na época, o banco espanhol pagou R$ 1,1 bilhão por 88,5% da empresa. Quatro anos depois, adquiriu a fatia restante por R$ 1,4 bilhão.

Desde 2015, Hopf se enveredou por outros negócios, quando criou a 4all, uma holding que investe em startups e, na maioria das vezes, cria seus próprios negócios do zero, no modelo de uma venture builder. “Estou criando plataformas para ecossistemas”, diz. “Nesta guerra digital, é preciso ter frequência e engajamento emocional”.

A 4all já desenvolveu diversos negócios. Um deles é a Phi, uma plataforma que cria e acelera fintechs. Outros são a Uhuu!, que atua no mercado de entretenimento, e a Ground, que conecta clubes de futebol aos seus torcedores.

As startups que surgiram da 4all incluem também a DX.CO, que atua com grandes empresas em projetos de transformação digital; a Iris, que pretende ganhar uma fatia do mercado data driven; a martech AIO; e a Wine Locals, startup dona de uma plataforma de enoturismo e de experiências com vinhos que recebeu um investimento minoritário da Evino.

Hopf está também por trás do South Summit Brazil, evento de startups que surgiu na Espanha e no qual ele trouxe para o Brasil. A primeira edição aconteceu neste ano em Porto Alegre. O próximo está previsto para março de 2023 na capital gaúcha.