Desde 2015, o português Rui Santoro é dono de uma frota de barcos em Ibiza, na Espanha. Acostumado a receber turistas, ele percebeu que a maioria não sabia o que fazer quando visitava a ilha e conhecia, basicamente, os roteiros turísticos tradicionais. “Tem pessoas que conhecem Ibiza e tem pessoas que conhecem Ibiza comigo”, diz Santoro, em uma referência aos passeios exclusivos que faz com seus barcos.

Pensando nisso, Santoro teve a ideia de criar uma rede social que conectaria turistas aos residentes locais que conhecem os segredos desses lugares – desde os melhores restaurantes passando por dicas de cultura e de arte até práticas esportivas na natureza.

Foi assim que surgiu a ideia da Local, uma espécie de Tripadvisor, site de viagens que ajuda pessoas a escolher hotéis e passeios turísticos, e GetNinjas, um marketplace de prestadores de serviços, que acaba de abrir o capital na B3.

Santoro desenvolveu o plano de negócios na Europa, se afastou do dia a dia dos barcos de Ibiza e se mudou para o Brasil. Ele veio para cá em busca de tecnologia e profissionais para desenvolver o aplicativo e foi incubado na CMA, empresa que atua no desenvolvimento de soluções tecnológicas para o mercado financeiro e de commodities, que comprou 10% da Local.

Agora, a Local está anunciando captação de pouco mais de R$ 5 milhões com investidores-anjos. Entre eles, está o jogador de futebol do São Paulo e da Seleção Brasileira, Daniel Alves, e o investidor Marcos Olmos, que atua no fundo de impacto Vox Capital, mas está fazendo o investimento como pessoa física.

O aplicativo está em teste em São Paulo com um grupo limitado de pessoas. A intenção, nesse momento, é avaliar os recursos e fazer ajustes finos de tecnologia, como o processo de cadastramento. Mas a startup que foi fundada por um português e tem sede no Brasil vai estrear o seu serviço em Miami em 4 de julho deste ano.

Rui Santoro, fundador da Local

A escolha da Flórida como primeiro lugar a ter o serviço da rede social se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, Miami tem uma grande comunidade de brasileiros. E, principalmente, devido à vacinação avançada, o turismo começa a voltar à região.

Na estreia, a Local selecionou 200 pessoas “locais” que vão dar dicas e prestar serviços em quatro categorias: noite e lifestyle; gastronomia e bem-estar; cultura e arte; e desporto e natureza.

As próximas cidades a receberem o aplicativo serão Barcelona e Ibiza. Daniel Alves, que jogou muito tempo na Europa, deve ajudar a abrir as portas no Velho Continente.

As cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro só serão “abertas” para o “público” quando a pandemia permitir a volta do fluxo de pessoas sem risco às ruas, assim como o retorno de turistas às duas metrópoles brasileiras.

O modelo de negócio da Local é uma mistura de rede social a de um marketplace. Ao mesmo tempo que conecta pessoas com afinidades, o aplicativo une viajantes a moradores locais, que cobram pelo serviço que prestam. A startup fundada por Santoro ganha uma comissão de 15%. Há também um percentual de 3% para quem indicar um serviço, no estilo dos programas “member get member.”

“As pessoas vão ser remunerados pelo aquilo que sabem fazer”, diz o investidor-anjo Marcos Olmos. “E não vão, como na gig economy, topar fazer um bico por estar desempregado e ser mal remunerado.”

De acordo com Santoro, o algoritmo vai fazer um match entre uma pessoa que se cadastra na rede social com aquelas que podem prestar um serviço, segundo os interesses definidos pelo usuário. “Queremos juntar pessoas que se complementam”, diz o empreendedor.

Os prestadores de serviço vão passar também por um processo de seleção que envolve entrevistas e testes de conhecimento para saber se são qualificados para dar informações valiosas e exclusivas aos turistas. “Não me interessa ter mil pessoas prestando o serviço. Quero 100 pessoas boas, mas que vão fazer a diferença”, afirma Santoro.

O aplicativo Local

A entrada de Daniel Alves na base de acionistas da Local mostra a veia empreendedora do jogador do São Paulo. Ele já lançou uma marca de óculos chamada Bam Bam e é sócio do restaurante Alquimia Fogo, de Barcelona. Em 2019, investiu na Good Crazy, que organiza campeonatos de e-sports.

Mais recentemente, começou a apostar em empresas de tecnologia. Uma delas é a corretora de criptomoedas americana Kraken. Na Local, o que motivou Alves a investir foi a pegada social do negócio, capaz de gerar renda para as pessoas.

Mas será que há espaço para mais um negócio nessa linha? Nos últimos tempos redes sociais especializadas, com foco em públicos específicos, têm atraído a atenção de investidores.

É o caso da Clubhouse, uma espécie de podcast ao vivo que já vale US$ 4 bilhões. Ou mesmo da polêmica Parler, que segue a linha do Twitter e tem atraído pessoas conservadoras nos Estados Unidos.

Mesmo no Brasil, experiências com redes sociais de nicho começam a ganhar espaço. Um exemplo é a Delirec, uma rede social de chefs de cozinha, receitas e pessoas interessadas em cozinhar.

A Astella Investimentos “comprou” a ideia e fez um investimento seed na startup, fundada por Claudio Gandelman, que já comandou a Match.com na América Latina, dona do aplicativo de relacionamentos Tinder.

O DeliRec conta com um time de 12 chefs, incluindo Pedro de Artagão, Manu Biar, Bruno Gandelman, Leo Santos e Téia Lofrano, que compartilham dicas especiais e receitas exclusivas por meio de uma assinatura mensal de R$ 4,90.

Nenhuma dessas redes sociais têm potencial de se tornar um novo Facebook, com mais de 2 bilhões de usuários ao redor do mundo. Mas, ao que tudo indica, sempre haverá um lugar ao sol para uma nova rede social que não seja generalista – pelo menos, por um tempo.