Em 2021, foram duas as tentativas da fabricante de baterias de lítio e produtos de iluminação LED Unicoba de concretizar seu IPO. Na primeira, registrada em fevereiro, a companhia buscava levantar R$ 800 milhões, o que incluía uma oferta secundária em que todos os sócios, entre eles, as gestoras GEF, Confrapar e Performa, venderiam parte de suas ações.

Sob condições menos favoráveis, a empresa recuou. Mas voltou a entrar na fila da B3 em agosto, dessa vez, mirando uma captação de R$ 450 milhões, restrita a uma oferta primária, também suspensa. Agora, sem a perspectiva de refazer esse percurso tão cedo, o grupo está recalculando parte dos seus planos.

“Não vemos essa opção em 2022 e voltaremos a avaliar a janela em 2023”, diz Eduardo Park, cofundador e membro do conelho de administração da Unicoba, ao NeoFeed. “Sem o IPO, nós ajustamos nossos planos e eliminamos a questão dos M&As, que eram 40% dessa estratégia.”

O fato de ter tirado o pé do freio nas aquisições não significa que a empresa está parada. A Unicoba planeja captar recursos por meio de debêntures, cédulas de crédito bancário (CCB) e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC) para dar fôlego a outros pilares da sua estratégia.

“O IPO era um dos caminhos, mas não era o único”, afirma Park. “Nossa vantagem é o fato de estarmos muito bem posicionados em mercados com perspectivas de crescimento muito fortes para os próximos 10, 20 anos.”

Esses mercados estão representados nas duas divisões da operação da Unicoba. A primeira, batizada de Unipower, reúne os negócios de baterias de lítio, voltadas a aplicações industriais e a dispositivos como celulares e notebooks.

A segunda, que tem Park como CEO, é a Ledstar. Com esse braço, a Unicoba atua no mercado de iluminação profissional, com tecnologia LED, fornecendo seus produtos para concessões e projetos de iluminação pública, além dos segmentos de indústrias, comércio e de serviços.

É nessa divisão que a Unicoba enxerga mais oportunidades. Em 2021, o setor movimentou R$ 3,7 bilhões no País, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux). Desse total, 65% vieram do segmento residencial, um espaço dominado por importadores, em geral, chineses.

Os 35% restantes foram gerados no segmento comercial, onde o grupo concentra sua atuação, com um market share de mais de 30%. No setor, as barreiras de entrada são mais elevadas, dada a customização dos projetos, e os principais rivais são a alemã Osram e a holandesa Signify, antiga Philips Lighting.

Apesar de representar a menor fatia do mercado total de iluminação, os projetos comerciais, industriais e de serviços, e as parcerias público-privadas apresentam perspectivas de um crescimento exponencial nos próximos anos.

“O mercado de infraestrutura e projetos públicos tem um mercado endereçável de R$ 13 bilhões”, afirma Park. “E no segmento de indústrias, logística e varejo, o mercado potencial é de R$ 47 bilhões.”

Eduardo Park, cofundador e membro do board da Unicoba, e CEO da Ledstar

Alguns componentes ajudam a explicar as projeções otimistas nos dois segmentos. O ponto de partida é o fato de a tecnologia LED proporcionar mais eficiência energética, com um retorno do investimento, em média, entre seis e 12 meses.

No caso dos projetos para empresas, a demanda está sendo puxada justamente pelo fator economia, já que a energia é um dos principais custos dessas operações. E esse cenário vem sendo reforçado pela elevação das tarifas e o contexto macroeconômico adverso.

Já no âmbito das concessões, a migração para LED está sendo acelerada na trilha da Contribuição de Serviço de Iluminação Pública (Cosip), taxa recolhida na conta de energia elétrica e cujos valores só podem ser usados em projetos de iluminação pública.

“Esse contexto une o útil ao agradável, com recursos disponíveis e redução de custos”, afirma Park. “E a Cosip dá mais garantias para o setor privado de fazer parcerias e investimentos nesses projetos.”

Sob essa ótica, ele projeta que, no prazo de cinco anos, a Ledstar pode responder por 60% do faturamento da Unicoba. Em 2021, a receita bruta do grupo foi de pouco mais de R$ 1 bilhão. A divisão respondeu por 40% dessa cifra, enquanto a Unipower gerou os 60% restantes.

No caminho para consolidar essa virada no balanço, em iluminação pública, a Ledstar parte de uma base que inclui a presença em projetos de 70% das capitais e mais de 400 municípios.

Esse portfólio envolve capitais e projetos como São Paulo, com a Ponte Estaiada, Marginal Pinheiros e avenida 23 de Maio, entre outros; Florianópolis, com a ponte Hercílio Luz; Recife, no bairro Casa Amarela; Aracaju, com a avenida Beira-mar; e os aeroportos de Brasília (DF) e Guarulhos (SP).

A adição mais recente a esse pacote veio em março, com um projeto do estado do Mato Grosso, abrangendo 136 cidades e mais de 385 mil luminárias, que serão fornecidas ao consórcio vencedor. Com a adoção do LED, a iniciativa está orçada em R$ 156 milhões, um valor 38% inferior à estimativa inicial.

Além de projetos em curso em cidades como Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA), o grupo está atento a outras parcerias público-privadas que serão abertas nesse ano, com a projeção de movimentar mais de R$ 1,8 bilhão, segundo um levantamento divulgado pelo jornal Valor Econômico.

“Há diversas outras parcerias público-privadas a caminho”, diz Park. “Curitiba (PR) deve ser a próxima capital a entrar nos próximos meses.”

O grupo vai monitorar a evolução desses processos e bater na porta dos consórcios vencedores para fornecer as luminárias. A ideia é captar recursos conforme o avanço dessa demanda, para ajustar a produção em suas fábricas instaladas em Manaus (AM) e Extrema (MG).

A mesma abordagem se aplica aos projetos industriais, comerciais e de serviços, área na qual a Ledstar já atende empresas como Mercado Livre, Leroy Merlin, Decathlon e Fiat (Stellantis).

“Alguns setores, como as indústrias de base, seguraram os investimentos e estão retomando esses projetos agora”, explica Park. “E outro segmento que está crescendo muito é o de galpões logísticos.”