No início da noite desta terça-feira, 8 de novembro, ao divulgar seu balanço referente ao terceiro trimestre de 2022, a XP voltou a destacar – e a contabilizar – os efeitos do cenário macroeconômico que pesaram em alguns dos indicadores reportados pela companhia no decorrer de 2022.

Para ilustrar esse contexto, a expressão “ventos desfavoráveis” foi usada diversas vezes durante a conferência realizada logo após a publicação do resultado. Entretanto, dessa vez, ela foi acompanhada de algumas palavras que abrem a perspectiva de um horizonte mais otimista para a operação.

“Ainda temos inflação e recessão global, taxas de juros mais altas, uma guerra que segue e o Brasil que precisa dizer qual será a sua política fiscal”, disse Bruno Constantino, sócio e CFO da XP. “Ou seja, ainda há muita incerteza pela frente. Mas a boa notícia é que vimos sinais de estabilização. O pior já passou.”

Um dos pontos para referendar essa visão foi a captação líquida. Entre julho e setembro, a entrada de novos recursos totalizou R$ 35 bilhões, uma retração de 7% sobre igual período, há um ano. Mas bem menos significativa que o recuo anual de 43% reportado no segundo trimestre de 2022.

Sob esse viés, Constantino também destacou o fato de que, mesmo diante desse cenário, no varejo, a XP conseguiu manter o guidance de captação mensal entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, ainda que no patamar inferior dessa projeção. No trimestre, a média mensal foi de R$ 11 bilhões, uma queda anual de 28%.

Na divulgação do resultado, a XP também trouxe uma novidade na tentativa de dar mais visibilidade e transparência ao mercado em meio a esses “ventos desfavoráveis”. A empresa passou a apresentar os resultados de cada linha de negócio separadamente, com suas principais classes de produto.

A medida ajuda a dar um termômetro dos impactos e, ao mesmo tempo, da evolução de algumas dessas operações. No segmento de varejo, que reúne pessoas físicas e empresas com faturamento anual abaixo de R$ 700 milhões, os números e o mix mostram os efeitos de fatores como os juros em alta.

Carro-chefe e responsável por 69% do faturamento da XP no período, o varejo registrou um crescimento de 2% em receita bruta, para R$ 2,6 bilhões. Os pontos negativos vieram nas linhas de renda variável e de plataforma de fundos, que recuaram, respectivamente, 22% e 20%, para R$ 1,1 bilhão e R$ 282 milhões.

Em contrapartida, a receita de renda fixa cresceu 12% no período, para R$ 489 milhões. A XP também ressaltou o desempenho de negócios mais recentes no varejo. A receita de cartões, por exemplo, teve um salto de 171%, para R$ 146 milhões, e um TPV de R$ 6,6 bilhões, 100% superior ano contra ano.

Ainda no varejo, a receita de previdência privada cresceu 50%, para R$ 50 milhões, e a de seguros, 45%, para R$ 21 milhões. A XP encerrou o trimestre com uma carteira de crédito de R$ 16,2 bilhões, um volume 88% maior do que há um ano.

“O varejo é o negócio que tem sido mais impactado por conta desse bear market. Os ventos desfavoráveis tiraram mais de R$ 1,5 bilhão da nossa receita em 2022”, afirmou Constantino. “Ainda assim, conseguimos registrar crescimento, graças a nossa aposta em diversificação e em ir além dos investimentos.”

Nesse sentido, uma das áreas com indicadores positivos foi o segmento institucional, cuja receita avançou 105% na comparação anual, para R$ 577 milhões. Outro destaque foi a área de corporate, que reúne empresas com faturamento acima de R$ 700 milhões, que reportou receita de R$ 207 milhões, cinco vezes superior ao patamar de um ano atrás. Já em mercado de capitais, o desempenho foi superior em 9%.

“O trimestre foi muito forte para os três segmentos”, observou Constantino. “E isso tem relação com as eleições. Houve muita antecipação e um impacto positivo nos derivativos de balcão e no trading que fizemos com clientes institucionais e corporativos.”

Em outro componente que se sobressaiu no balanço, a XP reportou um lucro líquido de R$ 1,03 bilhão, um crescimento de 10% em relação ao número reportado um ano antes na última linha do balanço. Já o lucro líquido ajustado ficou em R$ 1,14 bilhão, um desempenho 11% superior sobre o mesmo intervalo de 2021.

“O número foi ajudado pelo terceiro Ebitda mais alto da nossa história, atrás apenas do segundo e do quarto trimestre de 2021”, disse o CFO. “Lembrando que o segundo e o quarto trimestre costumam ter o reforço de receitas sazonais que o terceiro trimestre não tem, em função, por exemplo, das taxas de performance.”

O Ebitda no período foi de R$ 1,15 bilhão, um avanço de 15% sobre igual período, um ano antes. Entre julho e setembro, a receita líquida cresceu 14%, para R$ 3,6 bilhões e a XP chegou a R$ 925 bilhões sob custódia, alta de 17%.

A empresa fechou o trimestre com 3,8 milhões de clientes ativos, um salto de 15%. Já o número de assessores autônomos evoluiu 21% nesse intervalo, para 11,6 mil profissionais. Na divulgação do balanço, a XP também anunciou um aumento de R$ 1 bilhão em seu programa de recompra de ações, aberto em maio desse ano, com um valor inicial também de R$ 1 bilhão.

As ações da XP encerraram o pregão de hoje na Nasdaq cotadas a US$ 18,35, um ligeiro recuo de 0,65%. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de aproximadamente 36%. A empresa está avaliada em US$ 10,2 bilhões.