O pesadelo fiscal vivido pela economia brasileira - com juros altos, inflação acima da meta e contas públicas desequilibradas - pode ganhar uma nova preocupação nos próximos dois anos: a possibilidade de o País cair na estagflação, situação em que a economia entra numa rota de estagnação, sem crescimento, mas com inflação elevada.

O alerta foi emitido pelo banco de investimento UBS BB, que divulgou na segunda-feira, 17 de fevereiro, um relatório prevendo essa possibilidade.

“Uma combinação de crescimento fraco, indicadores de deterioração econômica e inflação persistente sugere que o Brasil caminha para a estagflação em 2025 em 2026”, diz o relatório, assinado pelo economista-chefe do banco, Alexandre de Ázara, e pelos economistas Rodrigo Martins e Fabio Ramos.

É a primeira vez que o risco de estagflação aparece nas análises macroeconômicas com mais ênfase durante o atual governo – a última vez no País ocorreu no final de 2021, no ciclo final da pandemia, quando a economia apresentava inflação de dois dígitos (10,06%), desemprego de 12,6% e previsão de crescimento pífio do PIB para 2022 (4,78%), que apenas iria repor a queda de 3,9% da economia em 2020.

O relatório do UBS BB aponta a perspectiva de estagflação no País nos próximos dois anos dentro de um quadro que inclui vários indicadores sinalizando uma retração forte do crescimento do PIB, acompanhada de disparada de preços.

A perspectiva de variação do PIB mereceu atenção do banco. O relatório enfatiza a provável forte retração da economia, diferente de recessão - cenário mais comum para a estagflação prosperar, quando a economia teria uma perda no valor de seus bens e serviços por um período de pelo menos 6 meses, ou dois trimestres consecutivos.

O cuidado existe porque o crescimento econômico do Brasil superou consistentemente as estimativas desde a pandemia. No documento, o banco cita as projeções da pesquisa Focus feitas com um ano de antecedência em comparação com os resultados do PIB.

“O crescimento foi em média 2,3 pontos percentuais superior ao esperado desde 2020 e uma média de 2 pontos percentuais superior nos últimos quatro anos”, aponta o relatório, acrescentando que o erro sistemático de previsão do PIB criou uma "tendência positiva" em relação às expectativas de crescimento para 2025-26.

Assim, segundo o banco, nos últimos três anos, o crescimento do PIB manteve-se em torno de 3% ao ano. No entanto, os indicadores prospectivos sugerem um abrandamento para cerca de 1%.

Para chegar a esse número, foi levado em consideração um crescimento de 0,6% da economia no quatro trimestre de 2024 pela maioria dos analistas, diferente da projeção de 0,2% estimada pelo UBS.

“A nossa previsão para o crescimento do PIB para 2025 é de apenas 1,3%, significativamente abaixo da previsão de consenso de 2,0% da pesquisa Focus e da estimativa de 2,3% do Ministério da Fazenda do Brasil”, diz o relatório.

O PIB mais baixo aliado a outras expectativas negativas reforçam o risco de estagflação. Entre elas, o documento cita a perspectiva de arrefecimento dos principais motores que apoiaram o crescimento do PIB de 2024, como o estímulo fiscal e os investimentos.

Também observa os dados econômicos decepcionantes em novembro e dezembro, incluindo vendas no varejo, produção industrial, e indicadores de desempenho abaixo do esperado para o setor de serviços e baixa expectativa de crescimento do emprego como drivers de uma desaceleração econômica mais ampla.

“Os indicadores de sentimento para janeiro de 2025 mostram um declínio generalizado da confiança em vários setores, com indicadores caindo abaixo do nível neutro (100), reforçando as preocupações sobre a fraqueza da economia”, enfatiza o documento.

A inflação, por fim, completa o quadro preocupante apontado pelo banco. “Esperamos que a inflação permaneça elevada ao longo de 2025, acima do limite superior da meta oficial para os próximos 13 meses”, diz o relatório.

De acordo com os economistas do UBS BB, a desaceleração econômica não será suficiente para permitir cortes nas taxas este ano porque a inflação e as expectativas estão bem acima da meta.

“Esperamos que o Banco Central eleve a política taxa de 100 pontos base nas próximas duas reuniões, embora acreditemos que os cortes nas taxas são prováveis apenas em 2026, na ausência de desenvolvimentos orçamentais negativos adicionais”, segue o relatório.

O quadro de estagflação, na visão dos economistas do banco, corre o risco de se consolidar a partir do final deste ano.

“A procura interna tem apresentado um forte crescimento médio, mas pensamos que será seguido por uma desaceleração acentuada (mais acentuada que o PIB)”, diz o relatório. “Ambos poderão convergir até ao final de 2025.”