O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu na terça-feira, 8 de abril, que o Brasil será menos prejudicado do que outros países com a imposição de tarifas de importação pelos Estados Unidos.

Haddad - que participou de evento do Bradesco BBI - disse que os produtos brasileiros poderão ficar mais baratos frente aos concorrentes, pelo fato de o País ter recebido a tarifa mínima, de 10%, determinada pelo presidente americano, Donald Trump.

Ele também destacou que a guerra comercial ocorre num momento em que o Brasil não tem dívida externa, conta com reservas cambiais expressivas e saldo comercial robusto. Esses fatores, segundo ele, dão graus de liberdade para reação do Brasil a choques internacionais que não são comuns, em especial na comparação com os vizinhos da América Latina.

"Relativamente, diante do incêndio, estamos mais perto da porta de saída do que nossos pares", afirmou o ministro responder aos impactos da política comercial americana.

Por essa razão, prosseguiu, recomendou prudência do governo brasileiro ao tomar qualquer medida como reação à política tarifária dos EUA: "A pior coisa que o Brasil pode fazer nesse momento é sair a campo sem a prudência que sempre tivemos, devemos esperar a poeira baixar."

O ministro da Fazenda fez uma análise do momento geopolítico mundial causado pelo tarifaço de Trump. Segundo ele, é inegável que os EUA ganharam a corrida pela globalização da economia por todos os indicadores, como PIB, dinamismo tecnológico e renda per capita.

“O problema é que não estamos falando de economia, estamos falando de hegemonia, quem vai liderar a próxima etapa”, disse. “Os EUA não têm olhos para a Europa ou para a Rússia e sim para a China, que viram crescer como uma potência econômica e militar”, acrescentou.

Para Haddad, a atitude brusca dos EUA em relação ao mundo vai criar um desarranjo na economia mundial difícil de se prever: “É um solavanco forte demais para não ter consequência sobre ganho de produtividade e da economia global.”

Esse movimento, porém, não deve resolver a principal questão: eliminar o déficit comercial americano. Para Haddad, os EUA não vão conseguir produzir agora o que importa, uma vez que o déficit de transações correntes do país é de US$ 1 trilhão, equivalente ao superávit comercial da China. “Os EUA não vão conseguir mudar isso com tarifas”, assegurou Haddad.

Apesar da posição privilegiada do Brasil, Haddad admitiu que o País não é imune aos impactos da guerra comercial particular entre EUA e China.

O fato de o presidente Trump ter anunciado a entrada em vigor, à zero hora de quarta-feira, 9, de uma taxa adicional de 50% sobre produtos importados da China - aumentando as tarifas sobre bens chineses para 104% - deve reverberar no Brasil. O dólar fechou em alta de 1,29%, cotado a R$ 5,91.

“Quando você afeta a China, você afeta o Brasil de alguma maneira, é nosso principal parceiro comercial”, disse Haddad.


Neste sentido, sugeriu ao governo brasileiro manter sua postura historicamente diplomática, considerando parceiros comerciais cada vez mais relevantes, “exportando mais para os Estados Unidos, mas também mais para a Europa e para o Sudeste Asiático, particularmente para a China”.

Meta fiscal

O ministro também falou de política fiscal brasileira, assegurando que o governo está tomando todas as providências para o cumprimento da meta fiscal.

Segundo ele, a dívida pública está subindo não por causa do resultado primário – ou seja, a diferença entre o que o governo gasta, excluindo as despesas com a dívida, e arrecada -, mas sim em razão da alta dos juros.

A saída, sugeriu, é o governo criar condições para reduzir os juros, lembrando que os juros reais de 8% numa inflação de 5% “é uma anomalia”.

Haddad negou que medidas recentes tomadas pelo governo, envolvendo liberação de crédito consignado para funcionários da iniciativa privada, liberação de FGTS do saque-aniversário e o projeto de lei que prevê isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, tenham como intenção estimular a atividade econômica – o que prejudicaria o trabalho do Banco Central de esfriar a economia para baixar os juros.

“Em nenhum momento pensamos em arrecadar mais ou menos, ou fazer mais estímulos”, assegurou. Segundo ele, por trás das ações havia a tentativa do governo de fazer justiça social.

O crédito consignado a trabalhadores do setor privado, por exemplo, vai evitar o superendividamento no momento de alta dos juros: “Se o consignado privado reduzir os juros de 5% para 2,5% ao mês, os bancos vão continuar ganhando.”

Já a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil, alegou, foi uma “promessa de campanha” não só do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também de seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O projeto de isenção enviado pelo Executivo é neutro do ponto de vista fiscal, vale apenas a partir do ano que vem e beneficia 15 milhões de brasileiros a partir da cobrança de 141 mil pessoas – menos de 1% da população – que atualmente não pagam imposto de renda”, afirmou o ministro. “Não consigo enxergar projeto mais justo que esse.”