A sinalização inequívoca de aumento das taxas de juros pelos maiores bancos centrais do mundo e de conclusão – ou quase – do aperto monetário pelo Banco Central do Brasil abre um leque de alternativas para os investimentos financeiros. Aqui e lá fora. E diversificar é a palavra de ordem.

Não é um mundo novo, mas parece. Em nome do combate à inflação, os bancos centrais encerram uma era de juro próximo de zero ou negativo no exterior. No Brasil, a taxa básica foi resgatada da mínima histórica de 2%, está encastelada em 13,75%.

Neste cenário de rearrumação, o juro volta a ser árbitro de uma partida que favorece o investidor interessado na renda fixa ou no ganho de capital, alertam João Scandiuzzi, estrategista-chefe, e Marcelo Santucci, gestor de portfólio, do BTG Pactual.

Em entrevista ao NeoFeed, eles avaliam que, apesar da atual turbulência externa, há oportunidades de diversificação de investimentos que contemplam estrangeiros interessados em aplicar no Brasil e brasileiros dispostos a compor portfólios com ativos no exterior.

A eleição não deve comprometer o interesse pelo Brasil, avaliam. A grande interrogação dos investidores estrangeiros é sobre o arcabouço fiscal de médio prazo no país, “mas com uma solução razoável, o cenário pode ser muito bom”, pontua Scandiuzzi.

No cenário mais benigno, afirma, todos os ativos brasileiros vão oferecer boas oportunidades. Queda de juro é positiva para ativos de risco e também para aplicações na parte mais longa da curva.

De modo geral, avalia Scandiuzzi, este ano está sendo surpreendente para ativos brasileiros que poderiam, naturalmente, estar sofrendo com a deterioração do cenário externo. “Entretanto, o real e os demais ativos têm sido resilientes”.

Soma-se a isso o fato de o Brasil estar com baixa alocação de capital externo. Portanto, mesmo com o aumento do juro internacional, “não há tanto capital para deslocamento”, observa o estrategista para quem o diferencial de juros ainda é muito favorável ao Brasil.

Scandiuzzi informa que os ativos brasileiros são vistos hoje “apropriadamente” como ativos de valor (“value”). “A bolsa brasileira comporta empresas muito bem estabelecidas, pagadoras de dividendos e que não prometem crescimento acelerado. Entretanto, trazem resultados de curto prazo.”

E o atual cenário econômico global, favorece a rotação de investimentos, segundo o BTG, uma vez que o aumento de juros penaliza ativos de crescimento (“growth”) – dependentes de fluxo de capital que está custando mais caro.

“Na comparação com pares globais, o Brasil fica mais interessante. E talvez seja o único país ‘investível’ entre os grandes emergentes no momento.”

A Rússia está fora do radar dos investidores e a China tem tido muita incerteza regulatória, além de risco político, avaliam. A Turquia, por sua vez, tem sido muito instável. Entre os emergentes, o Brasil é uma alternativa e com essa característica de valor, pondera Scandiuzzi.

Focado na estruturação de carteiras, o gestor Marcelo Santucci também vê a capacidade de o Brasil atrair estrangeiros de “maneira mais pronunciada para renda variável e aplicações em juros mais longos” com o próximo governo endereçando questões fiscais adequadas e oferecendo juro alto que, na prática, funciona como um amortecedor para o real.

Marcelo Santucci, gestor de portfólio, do BTG Pactual

“A grande incerteza em termos globais é quanto ao ponto do ciclo de juros estão os bancos centrais. Enquanto no Brasil o sinal é de que já paramos de subir, nos EUA e Europa o ciclo está no início ou no meio. Certamente, não está no final”, observa Santucci que chama atenção para oportunidades.

Ele avalia que para o investidor individual ou famílias brasileiras, mesmo com o Brasil bem-posicionado no ambiente global de juro mais elevado, faz sentido uma diversificação internacional de portfólio.

“É importante. E não porque algo vai dar errado no Brasil ou no câmbio. Quando se pensa em alocação de recursos, faz sentido avaliar aplicações em outra fronteira, em outra moeda, para gerar descorrelação com o portfólio ou a exposição do investidor ou família aqui no Brasil.”

Santucci observa que entre 2008 e 2020, portanto por mais de uma década, o mundo conviveu com juros muito baixos, até negativos, atividade econômica desaquecida e inflação também baixa.

Esse cenário fez com que os recursos migrassem para as bolsas e para empresas de crescimento. Mas isso está mudando com a elevação dos juros no mundo. Ele cita o título do Tesouro americano com prazo de 2 anos que, com a alta recente e forte do juro pelo Federal Reserve (Fed), está pagando 4,30%.

“As empresas que emitem títulos ‘grau de investimento’ nos EUA pagam 1 ponto percentual acima dos Treasuries. Isso significa que boas empresas vão pagar 5,30% a 5,40% em dólar. Sinal de que a renda fixa do mundo desenvolvido volta a ser um competidor no universo dos investimentos”, afirma.

Na renda variável é interessante ficar posicionados em empresas de valor bem estabelecidas e que paguem dividendos, diz o gestor do BTG, porque essas companhias devem ter capacidade de transferir para os preços a inflação e também promover aquisições de outras empresas.

“Construir um portfólio de qualidade é possível. E este é um momento de tornar simples os portfólios”, diz Santucci para quem o Brasil tem nove meses de cenário muito positivo, com câmbio bem ancorado e a caminho da redução dos juros.

Nesse cenário, é importante tem um olhar prospectivo e de longo prazo para diversificação de ativos porque eles estão mais baratos. Em junho – quando o mercado internacional começou a apostar em corte de juro nos EUA e foi contrariado pelo Fed que acelerou a alta da taxa básica – ocorreu uma liquidação de ativos, lembra Santucci.

“E, como em toda liquidação, muitos produtos bons e outros encalhados, sofreram reduções de preços. Portanto, existem boas oportunidades”, alerta o gestor.

O BTG avalia que os EUA estão, na margem, economicamente menos vulneráveis do que a Europa, Japão ou emergentes asiáticos.

Atualmente, a instituição está com alocação acima do ‘neutro’ no mercado americano e abaixo do ‘neutro’ na Europa, pela sensibilidade da região à energia e guerra na Ucrânia, e na China em função da incerteza com a reabertura da economia ante a política de Covid zero.