A sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que vai desacelerar o ritmo de aperto monetário deu um pouco de esperança aos investidores de que o bear market pode estar próximo do fim nos EUA. 

Só que dois dos principais bancos de Wall Street não compram essa tese. Para o Morgan Stanley e o J.P. Morgan, as ações americanas devem continuar tendo desempenho ruim em 2023, esperando que o S&P 500 caia mais de 20% em relação aos níveis atuais.

A projeção pessimista para o índice acionário americano veio de Mike Wilson, estrategista-chefe para ações dos Estados Unidos do Morgan Stanley. Segundo ele, as recentes altas nos mercados provocadas pelas falas do presidente do Fed, Jerome Powell, sobre a desaceleração do ritmo da alta dos juros, são temporárias e podem enganar os desavisados. 

“Os comentários do Powell estão bem em linha com que estamos dizendo, de que eles (membros do Fed) devem pausar (a alta dos juros) provavelmente em janeiro e os mercados estão se adiantando”, disse ele na quinta-feira, dia 2 de dezembro, em entrevista à Bloomberg TV. “Este é um rally clássico provocado pela pausa do Fed.”

Para Wilson, essa alta ainda deve perdurar por mais um tempo, com as empresas de tecnologia e aquelas com características de growth aproveitando o alívio provocado pelas declarações de Powell para recuperar parte das perdas que enfrentaram em 2022. 

Mas o estrategista-chefe para ações dos Estados Unidos do Morgan Stanley alerta que o rally deve sofrer uma parada brusca quando as empresas começarem a divulgar os resultados do quarto trimestre, com declarações a respeito dos efeitos da recessão prevista para os Estados Unidos e revisão negativa das metas financeiras para 2023. 

Segundo Wilson, este cenário, combinado com uma queda de 26% do S&P 500 na primeira metade de 2023, “não é um exagero”. 

O J.P. Morgan também se mostra pessimista com o S&P 500 em 2023, projetando que ele voltará a testar as mínimas em que chegou em 2022. Em outubro, o índice atingiu a mínima do ano, de 3.491 pontos. 

Segundo o site americano Business Insider, o estrategista-chefe do banco para os Estados Unidos, Dubravko Lakos-Bujas, escreveu em um relatório que o mercado e as empresas sentirão a piora dos fundamentos econômicos dos Estados Unidos provocados pela alta dos juros, que resultará em uma leve recessão em 2023, além de fatores externos. 

Lakos-Bujas revisou para baixo a projeção para o lucro por ação agregado das companhias que compõem o S&P 500 em 2023, de US$ 225 para US$ 205, citando a “política monetária restritiva, a evaporação da poupança dos consumidores e os elevados riscos geopolíticos”.

Mas, ao mesmo tempo em que espera uma piora do mercado no começo de 2023, o estrategista-chefe do J.P. Morgan para os Estados Unidos projeta uma recuperação do S&P 500 ao final do ano. 

Para ele, com a inflação começando a convergir para a meta de 2% estabelecida pela autoridade monetária, o desemprego alcançando 5% e a confiança dos empresários em baixa, o Fed deve sinalizar uma mudança de postura quanto à política monetária. 

A combinação desses fatores deve fazer com que os investidores fiquem mais confiantes quanto às perspectivas para o mercado de ações, empurrando o S&P 500 para cerca de 4,2 mil pontos ao final de 2023.