O Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) ainda nem iniciou o ciclo de redução da taxa de juros, mas os quatro maiores bancos dos EUA já preveem uma queda de arrecadação de US$ 170 bilhões a partir deste ano.

O valor se refere à chamada receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês) - a diferença entre o que os bancos receberam dos pagamentos de juros de empréstimos de clientes durante grande parte de 2023 em comparação com o que pagam sobre os depósitos.

O ciclo dos juros altos proporcionou uma arrecadação de US$ 250 bilhões em juros de empréstimos para os quatro maiores bancos no ano passado, um aumento de US$ 80 bilhões em relação a 2022.

Executivos dos maiores bancos, porém, advertem que a receita tende a cair quando o Fed começar a cortar os juros de longo prazo – que ajudam a determinar as taxas de juro dos empréstimos bancários. Isso porque muitos depositantes devem sacar os depósitos, buscando produtos de maior rendimento.

Esse movimento, na verdade, já teve início. Relatório do Goldman Sachs, na semana passada, previu uma queda de 10% da receita líquida de juros dos maiores bancos no quarto trimestre, depois dessas instituições reservarem dinheiro para cobrir empréstimos vencidos e, ao mesmo tempo, pagarem mais aos depositantes.

De acordo com o relatório, um declínio estimado de 15% nas receitas comerciais também afetará os lucros. A incerteza em torno de futuros cortes nas taxas, o aumento dos custos dos depósitos e os ventos econômicos contrários alimentam a cautela.

“Fatores como o declínio médio de empréstimos e desgaste de depósitos em bancos e empréstimos ao consumidor vão pesar para o setor”, diz Charlie Scharf, CEO do Wells Fargo, alertando ainda para a natureza volátil das suposições de mercado. O Wells Fargo prevê um declínio do NII de 9%.

O J.P. Morgan, apoiado pela aquisição da First Republic, alcançou uma receita líquida de juros recorde no último trimestre, mas antecipa também um declínio.

A perspectiva de margem financeira do banco para 2024, tendo em conta seis cortes de taxas e reavaliações de depósitos, sugere uma redução de US$ 8 bilhões em relação ao seu valor anualizado no quarto trimestre.

O Citigroup, que atingiu o pico de receita líquida de juros no segundo trimestre de 2023, reportou US$ 47,6 bilhões em NII no ano passado e prevê uma ligeira diminuição este ano.

Além disso, o Citigroup está realizando uma redução significativa de postos de trabalho como parte da sua revisão global.

O crescimento dos empréstimos, especialmente nos cartões de crédito, oferece alguma esperança para esses bancos, mas pode não compensar totalmente as pressões sobre os custos dos depósitos.

A adaptabilidade e a alocação eficiente de recursos serão cruciais para que os grandes bancos dos EUA possam navegar no cenário pós-pico obtido em receita líquida de juros no ano passado.