Como investidores, conselheiros e executivos, Eduardo Kyrillos e Daniel Guimarães acumulam mais de 20 anos de bagagem no e-commerce à frente da Real Capital Partners, dona do grupo Icomm e de operações como as plataformas de moda Shop2gether e OQVestir.

Agora, em uma informação antecipada com exclusividade ao NeoFeed, eles estão adicionando mais um nome a esse “carrinho”, com o lançamento da After Click. Empresa de serviços para o comércio eletrônico, a operação nasce com um investimento de R$ 50 milhões, liderado pela Real Capital Partners.

O sinal verde para a nova empreitada veio em novembro de 2024, com o fim do prazo do non-compete de Kyrillos e Guimarães com a Infracommerce. Três anos antes, em sua maior aquisição, a companhia de full commerce pagou R$ 1,2 bilhão pela rival Synapcom, outra empresa do portfólio da dupla.

“Nós já vínhamos elaborando e lapidando o projeto. E, com o fim do non-compete, botamos a bola para rolar no início deste ano”, diz Kyrillos, cofundador e investidor da After Click, ao NeoFeed. “Agora, estamos de volta ao jogo que nós gostamos.”

Nesse “retorno” ao campo dos serviços para o e-commerce, a After Click escalou um time que também tem ampla experiência no setor. A começar por Fábio Fialho, que, além de sócio minoritário – ao lado da controladora Real Capital e de um quarto acionista, de nome não revelado – será o CEO da operação.

Em quase 30 anos nesse segmento, Fialho passou por empresas como a própria Synapcom e, após a aquisição, pela Infracommerce. Outros nomes recrutados compartilham esse último CNPJ no currículo. São os casos de João Paulo Amádio, diretor comercial, e de Fernando Gobbi, COO.

Embora compartilhe laços com a Infracommerce, os sócios da After Click escolheram uma tese um pouco diferente para a reestreia nessa arena, de olho em abocanhar um “take rate” de um setor que, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), movimentou R$ 204,3 bilhões em 2024.

Isso não significa que a After Click não vai concorrer com a Infracommerce. Essa disputa acontecerá, porém, em uma trincheira mais restrita. Mais especificamente, como ressalta o seu próprio nome, nos processos que têm início após o clique do consumidor concluindo uma compra em uma loja virtual.

Apoiado por sistemas desenvolvidos internamente e por parcerias na cadeia, a empresa vai se concentrar na gestão de áreas como meios de pagamento, conciliações, prevenção a fraudes, customer service e toda a logística envolvida no pós-venda.

Dessa maneira, o formato abrange algumas das etapas atendidas no full commerce, o conceito que uniu justamente a Infracommerce e a Synapcom. E que embarca a gestão de 100% das operações de e-commerce dos clientes, da criação dos canais de venda digital à entrega dos produtos.

“Nós entendemos que havia uma grande questão quando falávamos de full commerce. Se eu faço tudo, eu tenho um problema de foco”, diz Fábio Fialho, sócio e CEO da After Click. “Então, a empresa nasce especializada e com uma operação simplificada, o que também traz custos muito menores.”

Kyrillos complementa: “O que nós percebemos é que, hoje, existe um mar vermelho quando se pensa nas etapas do pré-clique. Esse é um mercado já mais saturado”, afirma. “Por outro lado, o pessoal não quer sujar a mão de graxa no pós-clique. E é justamente onde nós temos mais experiência.”

Segundo a dupla, a “mão suja de graxa” e a especialização se conectam com uma demanda atrelada à evolução do e-commerce no País: a necessidade de as empresas lidarem com uma complexidade cada vez maior, dado o volume crescente de plataformas disponíveis. Isso sem contar seus canais próprios.

“Hoje, o Brasil tem 10, 12 marketplaces. Cada um com suas regras, modelos e especificidades definidas em contrato”, afirma Fialho. “A nossa ideia é ser um facilitador e o único pulmão dessas empresas para todos esses canais digitais.”

Menos é mais?

Apesar desse escopo mais reduzido, a After Click, cujo modelo de receita se baseará principalmente na cobrança de take rates pelo sucesso de cada venda, enxerga um aquário muito mais amplo de captação de clientes em seu formato. E um caminho para democratizar o acesso a esses serviços.

“No full commerce, você está mais restrito aos grandes clientes e indústrias, para quem faz mais sentido terceirizar toda a operação”, diz Kyrillos. “O pós-clique nos abre a oportunidade de oferecer um serviço de qualidade para qualquer cliente, de qualquer porte.”

Nessa direção, o foco inicial da After Click está mais concentrado em clientes cujo volume bruto de mercadorias (GMV) no e-commerce gira em torno de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões. A empresa não revela nomes – nem projeções, mas já tem uma carteira com dez contratos assinados.

Para escalar essa base, uma das principais estratégias será a associação com parceiros centrados nas etapas de pré-clique dessa cadeia. Aqui, a companhia já tem acordos para uma oferta conjunta aos clientes com empresas como Cadastra e Enext.

Na outra ponta, uma parcela dos R$ 50 milhões foi destinada a uma estrutura que, nessa largada, envolve mais de 100 profissionais. Esse time está distribuído na sede da operação e em uma unidade de SAC, em São Paulo, além de um centro de distribuição em Extrema (MG).

“Temos mais dois CDs previstos para os próximos 12 a 18 meses”, diz Fialho, que cita cidades como Itapevi, Cajamar e a região Nordeste como potenciais destinos desses projetos. “E esse aporte inicial de R$ 50 milhões garante tranquilamente todo o capex que vamos precisar nos próximos dois anos.”

Em reestruturação

A After Click chega ao mercado em um momento em que a Infracommerce está muito fragilizada. E a compra da Synapcom ajuda a entender, em boa medida, como a companhia chegou a uma situação que ainda inspira muitos cuidados.

Desde o seu IPO, em 2021, quando captou R$ 902 milhões, a empresa engatou uma leva de aquisições. Na sequência, porém, a elevação dos juros e um cenário macro menos favorável fizeram com que essa agenda de M&As – e a dificuldade de integrar e pagar por esses ativos – pesassem em seu balanço.

Como consequência, em março de 2024, a Infracommerce deu início a um processo de reestruturação com a chegada de Ivan Murias, como CEO – posteriormente, ele deixou o cargo para assumir como presidente do board em outubro do ano passado -, e a saída de Kai Schoppen, fundador da empresa, da operação.

Em pouco mais de um ano, dentro desse processo, a companhia tomou uma série de medidas. Entre elas, a renegociação e a amortização de dívidas com bancos e credores, injeções de capital, a revisão de contratos com clientes e a aposta em uma operação mais enxuta, numa espécie de “volta ao básico”.

Apesar de avanços nessas esferas, o fato é que a herança do passado recente, pós-IPO, ainda deixa marcas no resultado da empresa. Em 2024, por exemplo, a companhia apurou um prejuízo de R$ 1,75 bilhão, impactado por uma baixa de R$ 1,39 bilhão, relacionada, em boa parte, a aquisições.

Esses efeitos seguem se refletindo no mercado de capitais. Apesar de uma alta de 50% em 2025, as ações da empresa - cotadas a R$ 0,09, contra o patamar de R$ 16 no IPO - registram uma desvalorização de 88,6% em 12 meses, dando à companhia um valor de mercado de R$ 86,2 milhões.