Na semana passada, analistas do Itaú BBA fizeram uma pequena “turnê” com uma série de reuniões com investidores nos Estados Unidos. Além do estado da Califórnia, o grupo fez escalas em cidades como Nova York, Chicago e Minneapolis para encontros com 25 fundos globais e focados em mercados emergentes.

As perspectivas macroeconômicas, oportunidades e riscos do Brasil sob a ótica do mercado de ações foram a pauta do roadshow e a síntese desses encontros foi publicada nesta terça-feira em um relatório do banco de investimentos.

“Há muito interesse em entender o que está acontecendo no Brasil, mas eles ainda não aumentaram substancialmente sua alocação. Parece que, uma vez que as incertezas sejam removidas, pode haver fluxos massivos para o Brasil”, escreveram os analistas Marcelo Sá e Matheus Marques.

O resultado das eleições presidenciais e a nova composição da Câmara e do Senado figuram entre os principais fatores por trás desse “modo de espera” dos investidores americanos em relação aos ativos brasileiros.

A principal questão envolveu o risco de os resultados serem contestados caso a diferença na votação entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva for apertada. A política econômica dos dois candidatos também foi um tema recorrente, bem como a questão das políticas fiscais e de controle da dívida pública.

As reuniões trouxeram ainda uma visão positiva sobre a inflação em queda e os números “surpreendentemente fortes” do PIB brasileiro. Para a maioria dos investidores, ficou claro que o Banco Central pode começar a cortar as taxas de juros mais cedo que outros países.

Em contrapartida, os investidores sinalizaram que a dinâmica da inflação e as taxas dos Estados Unidos devem afetar o apetite no Brasil e se mostraram surpresos com a resiliência da pressão inflacionária no mercado americano e quanto à extensão das políticas de contenção do Federal Reserve nesse cenário.

No saldo dessas impressões, os investidores também apontaram os segmentos da economia e suas respectivas ações de preferência. A principal escolha recaiu sobre o setor de varejo, dado que a crença é de que esse será um dos mercados que mais será beneficiado com as taxas mais baixas de juros e com os incentivos governamentais para impulsionar o consumo.

“No espaço do varejo alimentar, a preferência segue no Assaí, embora alguns clientes tenham se interessado pelo Grupo Mateus. Entre os demais varejistas, Renner e Arezzo foram os mais consensuais, enquanto alguns investidores citaram RD e Grupo Soma”, afirmam os analistas.

Ainda nesse espaço, mas no plano do comércio eletrônico, o Mercado Livre continua no topo das escolhas de boa parte dos clientes. No lado oposto, o Itaú BBA ressaltou que há visões muito negativas para Magazine Luiza, Via e Americanas.

Outro setor com perspectivas positivas é o financeiro, porém, com uma visão mais neutra para os grandes bancos. “B3, XP e BTG foram as principais escolhas entre os investidores dos EUA, pois essas empresas provavelmente se beneficiarão da redução das taxas de juro, seja por meio de ganhos mais expressivos ou expansão dos múltiplos”, destaca outro trecho do relatório.

A visão positiva se estende aos setores de utilities e de shopping centers. No primeiro, os principais nomes citados pelos investidores foram Equatorial, Eletrobras, Energisa e Sabesp. Alguns deles citaram ainda a Cemig e a Copasa, mas o Itaú BBA se mostrou mais cético quanto aos desafios de privatização desses ativos.

Já em shoppings, a lista de top picks na visão dos americanos inclui Multiplan, Iguatemi e BRMalls. O segmento de construtoras, por sua vez, quase não atraiu interesse. Segundo os analistas, houve muita decepção com a MRV e o único nome citado foi o da Cyrela, dada a qualidade e a liquidez da empresa.

Em saúde, o único nome mencionado foi o da Hapvida, com os investidores “cada vez mais construtivos” sobre o ativo. A Rede D’Or, em contrapartida, não atraiu tanto interesse, dado seu valuation alto. Em outro segmento, a Weg também foi citada como uma boa escolha, com um crescimento forte esperado para os próximos anos, especialmente ao colher frutos da transição energética.

No plano das locadoras de automóveis, a preferência é pela Localiza, em função de sua qualidade e liquidez. Já a Movida foi alvo de preocupações, pois muitos investidores entendem que a companhia pagou um preço caro com o aumento da sua frota durante a pandemia.

Também na contramão das visões de alta, os investidores americanos ressaltaram o viés de baixa para o segmento de commodities e, entre os nomes no espaço da siderurgia, mencionaram apenas a Gerdau como uma escolha.

“Houve algumas dúvidas sobre a Suzano, mas muitos temiam uma possível correção nos preços da celulose. Houve visões negativas para a Vale, dado o pessimismo sobre a China e não houve interesse pelos nomes das proteínas, apesar do valuation muito barato”, observaram os analistas.