Gêmeos univitelinos, Guilherme e Renato Stuart percorreram um caminho bastante similar nas áreas de M&A e private equity de casas como BTG Pactual, J.P. Morgan e UBS. Até que, em 2013, a dupla decidiu criar sua própria empresa, a RGS Partners, e focar na assessoria de acordos para médias empresas.
Desde então, a boutique esteve por trás de 55 M&As, que somaram R$ 9 bilhões. E, nessa trilha, há três semanas, transferiu sua antiga sede de 350 metros quadrados para um escritório de 1,2 mil metros quadrados, no coração da avenida Faria Lima, em São Paulo.
O espaço encontra abrigo na projeção do crescimento da operação previsto para os próximos cinco anos. Mas, no curto prazo, já acomoda uma das novas apostas na meta da RGS para movimentar R$ 4 bilhões no prazo de dois anos: sua recém-criada área de debt capital markets (DCM).
“Essa oferta é extremamente complementar ao que fazemos”, diz Guilherme Stuart, fundador e CEO da RGS Partners, ao NeoFeed. “Ela cria uma porta de relacionamento contínuo e de longo prazo. Já no M&A, há clientes desse porte que, com muita sorte, fazem mais de uma transação na vida.”
A área começou a ser montada há cerca de seis meses, com a chegada de Victor Barreira, ex-Banco Modal. Ele está à frente do braço de emissões de debêntures, certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), entre outras operações.
Até então, essas captações eram pontuais na RGS. “Nós só fazíamos em situações especiais que, assim como nos M&As, eram negociadas bilateralmente, no um para um”, explica Stuart. “Agora, no mercado de capitais, estamos falando de um emissor e múltiplas partes. É algo menos artesanal.”
A entrada no segmento também se justifica pelo cenário atual mais restrito de crédito e na busca por estruturar produtos e emissões de menor porte. Um filão que não está sendo atendido pelos grandes bancos e cuja demanda não se esgota no curto prazo.
“Nos últimos cinco anos, o mercado começou a reduzir sua dependência do balanço dos bancos”, observa Stuart. “E, por mais que a taxa de juros esteja alta agora, nossa expectativa é de que, daqui para frente, um volume mais elevado dessa carteira dos bancos migre pro mercado de capitais.”
Stuart não revela o peso que essa vertente pode ter na RGS. Tampouco abre nomes de clientes, dado que as emissões ainda estão sendo estruturadas. Mas ressalta que já são mais de 20 operações no radar, com tíquetes que devem variar entre R$ 30 milhões e R$ 200 milhões.
Em 2022, a RGS esteve por trás de 16 acordos, entre eles, a compra da Remessa Online pelo Ebanx, por R$ 1,3 bilhão
Com 90% da sua atuação no sell side, nos M&As, a faixa da RGS varia, em média, de R$ 50 milhões a R$ 1 bilhão. Em 2022, foram 16 acordos, ante 11 em 2021. A empresa assessorou, por exemplo, as vendas de 50% da ZEG Biogás, para a Vibra, por R$ 571,5 milhões, e da Remessa Online para o Ebanx, por R$ 1,3 bilhão.
Segundo o relatório M&A Brazil Report, produzido pela empresa, o mercado registrou, porém, uma queda de 28% no número de acordos em 2022, para 201 transações. Já o valor somado das operações recuou 29% em relação a 2021, para R$ 214 bilhões.
“Com a eleição e a insegurança em relação ao novo governo, o último trimestre de 2022 foi um desastre para o mercado”, diz Pedro Scharam, sócio da RGS. “Esse cenário ainda se refletiu no primeiro trimestre de 2023, mas agora, em abril, começamos a sentir que o mercado está voltando.”
A ampliação da atuação não é o único passo para concretizar a meta de R$ 4 bilhões em dois anos. A empresa decidiu implantar uma estrutura de C-Level e, entre outras medidas sob essa orientação, reforçou seu time de sócios.
A chegada mais recente, em março desse ano, foi a de André Levy. Com experiência em investment banking, finanças, private equity e M&A, ele tem passagens por empresas como Credit Suisse e 2B Capital, ele assumiu o recém-criado cargo de COO da RGS.
“Nós demoramos para entrar em DCM, por exemplo, porque éramos reféns em dividir a nossa agenda com esse papel mais institucional na RGS”, diz Stuart. “Então, passamos a ter uma pessoa 100% dedicado para a RGS, enquanto os demais sócios investem na execução dos projetos dos clientes.”
A RGS também investiu na especialização desse time por setores. Nessa direção, trouxe como sócio Lucas Pogetti, ex-BNP Paribas, Deutsche Bank e XP, onde cobria o mercado de consumo. Na boutique, ele assumiu a recém-criada divisão de consumo e agro.
A empresa, que construiu seu portfólio basicamente via indicações, estruturou ainda uma área de prospecção. Essa estratégia teve início há pouco mais de dois anos e começa a render seus frutos.
“Nosso serviço tem um ciclo longo, em média, de dois anos”, observa Scharam. “O que nos dá segurança de falar em R$ 4 bilhões é essa máquina de prospecção que começamos a montar lá atrás e que está refletindo agora na conversão de leads.”
Com uma visão mais otimista para segmentos como saúde, educação básica, consumo, varejo, energia e qualquer acordo ligado à tecnologia, a RGS tem atualmente uma carteira de 40 mandatos ativos.
A empresa não está sozinha no chamado middle market. Em janeiro, por exemplo, a Galapagos Capital, fundada por Carlos Fonseca, ex-BTG Pactual, comprou a Cypress, boutique de M&As dedicada a esse segmento.
Entretanto, a maior rival da RGS é a IGC Partners, casa de M&A fundada por Dimitri Abudi e que movimentou quase R$ 4,2 bilhões nos últimos 36 meses, por meio de 76 deals.