Num trimestre em que a Vale apresentou resultados considerados neutros pelos analistas, o corpo executivo da mineradora viu as perguntas se concentrarem na guerra comercial travada entre Estados Unidos e China e como essa disputa pode afetar seu desempenho.

A preocupação se dá pelo fato de a China ser o maior comprador de minério de ferro do mundo, destino de 60% da produção da Vale, e pelos riscos de que a “troca de tiros” tarifária pode pesar sobre o  crescimento da economia global.

A respeito destas questões, o CFO da mineradora, Marcelo Bacci, disse que a companhia não tem sentido diretamente os efeitos da guerra comercial, seja no minério de ferro ou no níquel, que escapou das tarifas aplicadas pelos americanos contra o Canadá, onde a Vale tem produção do minério.

Bacci, no entanto, destacou que, assim como muitas companhias, a Vale está olhando para extrair ganhos dentro de casa. “Todos nós, todos os mercados, estamos jogando na defesa, com todo mundo olhando para robustez financeira, para liquidez, tentando ficar cada vez mais competitivo nos custos, para se preparar para um cenário mais grave lá na frente”, disse, nesta sexta-feira, 25 de abril, em entrevista a jornalistas.

O CFO lembrou os esforços da Vale para reduzir seus custos de produção, um tema que a direção vem sinalizando ao mercado ser uma de suas principais prioridades. No primeiro trimestre deste ano, o custo do minério de ferro C1, que considera o custo de transporte da mina até o porto, caiu 11%, em base anual. O custo operacional do cobre recuou 63% na mesma comparação e o do níquel baixou 4%.

Este esforço vai ajudar a diferenciar a Vale perante seus concorrentes, na visão de Bacci, ainda que tenha admitido que a companhia “não é a melhor do mundo em custos” em termos absolutos. “Diferentemente de nossos competidores globais no minério de ferro, estamos numa trajetória de queda de custos e nossos competidores globais não estão nessa mesma trajetória”, disse.

Ao mesmo tempo em que se prepara internamente para lidar com um cenário instável, a Vale mantém o olho na situação da China. E os primeiros indícios, segundo os executivos, é de que a demanda permanece estável, sem sinais de piora no futuro próximo.

Apesar de uma desaceleração da parte de construção civil, que enfrenta uma situação de excesso de demanda, Bacci afirmou que os segmentos de infraestrutura e industrial seguem com suas aquisições, com um certo aumento no segundo setor.

“O mix para qual aplicação o minério é usado tem mudado, mas o volume total tem permanecido, com um pequeno crescimento”, afirmou. “Não temos nenhuma indicação de redução de demanda na China, isso não se coloca agora.”

Sobre o preço do minério de ferro, Bacci acrescentou que não existem razões para o mercado se distanciar da faixa de US$ 100 por tonelada em que a commodity é negociada nos últimos meses. O preço foi considerado o principal detrator dos resultados da Vale no primeiro trimestre, por conta dos menores valores do minério de ferro e do níquel.

“Não existe neste momento crescimento relevante de oferta ou de demanda”, afirmou. “Se não houver um fato muito fora do esperado, o mercado deve continuar oscilando em torno de US$ 100.”

A Vale fechou o primeiro trimestre com um lucro líquido de US$ 1,4 bilhão (R$ 8 bilhões), uma queda de 17% em relação ao mesmo período de 2024. A receita líquida recuou 4%, para US$ 8,1 bilhões (R$ 46,1 bilhões), e o Ebitda ajustado caiu 9%, para US$ 3,1 bilhões (R$ 17,7 bilhões).

Por volta das 14h01, as ações da Vale caiam 2,13%, a R$ 54,13. No ano, os papéis acumulam queda de 0,22%, levando o valor de mercado da companhia a R$ 245,6 bilhões.