O cenário global mudou e a preocupação com a inflação ficou para trás. Com isso, os family offices ao redor do mundo voltam a se posicionar no risco. É o que mostra o estudo 2024 Family Office Survey, do Citi, que entrevistou em junho deste ano 338 family offices ao redor do mundo.

Pela primeira vez desde 2021, a principal preocupação de curto prazo deixou de ser a inflação para ser as perspectivas para as taxas de juros nos Estados Unidos, cuja trajetória de corte começou nesta quarta-feira, caindo 0,5 ponto percentual, ficando entre 4,75% e 5% ao ano.

Em seguida, estão as atenções com as relações EUA-China e a sobrevalorização do mercado, com as ações renovando máximas nos países desenvolvidos.

Os gestores de grandes fortunas estão mais otimistas do que no ano passado e aumentando a sua alocação no risco, com 97% dos entrevistados esperando retornos positivos em 2024 e quase metade antecipando retornos acima de 10%.

Como resultado, os family offices botam o dinheiro para trabalhar e diminuíram a exposição a caixa de 45% para 34% em relação ao ano passado. E quase metade (49%) deles aumentou a alocação em crédito, atraídos por taxas de juros nas máximas dos últimos anos.

Ao mesmo tempo, 43% deles aumentaram a alocação em ações e 42%, em private equity. Já os investimentos em real estate ficaram estáveis, com cerca de 55% mantendo a sua posição do ano passado.

“O mercado agora espera a queda na taxa de juros e há um movimento claro para a tomada de risco. Ao mesmo tempo, há uma preocupação de onde encontrar retornos atrativos em um mercado que parece que já subiu demais”, afirma Richard Weintraub, head do family office Group para as Américas, do Citi, em entrevista ao NeoFeed.

Na média global, a alocação está agora 28% em ações, 18% em renda fixa, 12% em caixa, 12% em real estate, 9% em private equity via fundos e 8% diretamente, 4% em hedge funds, 3% em crédito privado e 6% em outros.

Em relação a distribuição geográfica dos portfólios, os Estados Unidos lideram a preferência com em média 60% dos investimentos por conta do mercado de ações pujante. Ele é seguido por Europa (16%) e Ásia (excluindo China), com 12%. Enquanto a China perdeu quase metade da sua representatividade, caindo de 8% para 5% devido a desafios econômicos.

Sobre investimento em ativos digitais, a Ásia lidera essa tendência, com 37% dos entrevistados afirmando investirem na classe de ativo. Segundo a pesquisa, 1 em cada 20 family offices reportaram ter mais de 10% de alocação. Na América Latina, 83% dos entrevistados disseram não ter investimentos em ativos digitais.

A América Latina chama a atenção por ser a região que tem o portfólio mais concentrado em investimentos nos Estados Unidos e com maior exposição a empresas privadas. E 88% dos family offices não estão considerando mudar essa concentração de risco.

“Pela proximidade com os Estados Unidos, a América Latina concentra muito seus investimentos por lá em relação a outras regiões. Também é interessante ver como há uma preferência por ativos privados”, afirma Weintraub. “Será interessante acompanhar se isso mudará aos longos dos anos com o seu desenvolvimento.”