Veterano do mercado financeiro, Maurício Quadrado dedicou os últimos anos da sua carreira ao Banco Master. Como sócio e head desde o início de 2021, ele participou de uma série de acordos do grupo. Entre eles, as compras do Voiter (ex-Indusval), do will bank e de uma fatia da farmacêutica Biomm.
Em setembro de 2024, Quadrado deixou, porém, a operação. Mas, ao que tudo indica, manteve esse ímpeto pelos M&As. Ele acaba de fechar a compra de 100% do Digimais, banco de varejo controlado pela BA Empreendimentos e Participações.
Os valores do deal, que ainda depende de aprovação do Banco Central, não foram revelados. Mas o plano do empresário e investidor é aportar R$ 800 milhões na companhia assim que esse sinal verde for obtido. E, com essa injeção de recursos, chegar a um patrimônio líquido de R$ 2 bilhões na operação.
A aquisição, por sua vez, marca a preparação para um movimento mais amplo de Quadrado: o lançamento do BlueBank, instituição financeira que começou a ser estruturada justamente quando ele se desfez de sua participação de 30% no Master.
Como parte desse acordo, além dos valores envolvidos, que estão financiando agora a aquisição e o plano de investimentos na Digimais, Quadrado ficou com o LetsBank, banco digital do Voiter, comprado pelo Master no início de 2024. E cuja transferência também depende ainda do aval do Banco Central.
Reunido sob a marca BlueBank, as operações que estarão embaixo desse guarda-chuva dialogam diretamente com a bagagem acumulada por Quadrado em longas passagens pelo Bradesco e pela corretora Planner.
Fruto da vontade do empresário de estruturar um banco do seu “jeito”, o grupo, além do LetsBank e do Digimais, vai abrigar todas as verticais de um banco de investimentos. Isso incluirá, por exemplo, quatro gestoras – entre elas, a MAM Asset Management, com R$ 14 bilhões sob gestão -, que serão rebatizadas com a marca Blue.
Esse portfólio envolve ainda uma corretora, que lançará uma plataforma digital em meados do segundo trimestre, além de braços de M&As, wealth management, trade finance e special situations.
Com todas essas frentes, o BlueBank vai nascer com R$ 100 bilhões em administração, custória e gestão. Uma boa parcela do time será formado por ex-executivos do banco de investimentos do Master, dado que, conforme apurou o NeoFeed, Quadrado ficou com toda essa divisão da instituição.
Entre os nomes que vão compor essa equipe do novo grupo estão executivos como Roberto Musto e Reinaldo Hossepian, diretores de negócios do banco de investimentos; Renata Borges, diretora de riscos e finanças; e Viviane Rodrigues, diretora do jurídico e compliance. Quadrado, por sua vez, será o presidente do Blue Bank.
O NeoFeed apurou que, nesse pacote, a compra do Digimais segue uma tese de diversificação do BlueBank. Quadrado buscava um ativo desse porte para ser o braço de varejo do grupo e estruturar uma fonte de renda recorrente para ser uma alternativa a períodos de menor atividade no atacado.
Segundo fontes a par do acordo, o plano do BlueBank é estruturar um banco completo, mas para competir em nichos e não bater de frente com os grandes players tradicionais do setor. A principal referência é o modelo costurado pelo BTG Pactual, a partir da compra do Banco PAN, em 2021.
Com a aquisição, cujas negociações tiveram início há quatro meses, o BlueBank também não parte do zero no varejo. O Digimais mantém operações de financiamento de veículos e crédito consignado, com 100 mil clientes, cerca de R$ 9,1 bilhões em ativos e um patrimônio líquido próximo de R$ 700 milhões.
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Digimais, relativos ao exercício de 2023, o banco encerrou o período com um lucro líquido de R$ 99,6 milhões, ante um prejuízo de R$ 322,6 milhões em 2022. Já a carteira de crédito somou o total de R$ 2,8 bilhões.
O banco de varejo foi fundado em 1981, como Banco Renner. Em 2009, a BA Empreendimentos e Participações, ligada ao pastor Edir Macedo e controladora de ativos como o Grupo Record, comprou uma fatia de 40% na empresa. E, em 2020, assumiu 100% do negócio, que foi rebatizado como Digimais.
Novo “dono” do ativo, o BlueBank já está estudando os primeiros movimentos a serem executados assim que a transação for aprovada pelo Banco Central. O nome que comandará essa operação também dependerá desse aval.
À parte dessa escolha, o primeiro passo envolverá a transferência do time de cerca de 250 pessoas do Digimais, cuja sede está instalada na Vila Mariana, em São Paulo, para a sede do BlueBank.
Hoje, o grupo ocupa três andares, com 2 mil metros quadrados cada, no Birmann 32, mais conhecido como o “prédio da Baleia”, na avenida Faria Lima, em São Paulo. No local, aproximadamente 400 profissionais já compõem a equipe do grupo.
Conforme apurou o NeoFeed, no que diz respeito a produtos, a ideia inicial com o Digimais dentro de casa é entender melhor a maturidade das ofertas do banco e explorar as oportunidades desse seu “aquário” de 100 mil clientes, entre pessoas físicas e jurídicas, na conexão com o portfólio do grupo.
Ao mesmo tempo, o BlueBank avalia reforçar esse leque de ofertas no médio prazo. Cartões de crédito, seguros e capitalização são alguns dos próximos produtos, entre outras possibilidades, que podem ampliar o portfólio do Digimais.