O investidor Jim Chanos, fundador da Kynikos Associates, que ficou conhecido ao apostar contra a gigante de energia Enron no início dos anos 2000, fez um alerta: a especulação nos mercados está se aproximando perigosamente de extremos históricos vistos pela última vez em 2021, durante a pandemia.
Mais do que a excessiva valorização das ações tech – que nos últimos meses levou outros investidores a advertirem sobre o surgimento de uma bolha no mercado financeiro –, Chanos se diz preocupado com o “teatro político” montado no início de mandato pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujos efeitos podem arrastar o mercado para uma crise no curto ou médio prazos.
“A enxurrada de emissões de novas moedas meme chegando ao mercado nos últimos meses é um sinal desse fervor especulativo”, diz Chanos, que é também um famoso short-seller do mercado financeiro americano, lembrando o lançamento da moeda meme $Trump no fim de semana que antecedeu a posse.
Segundo ele, isso pode eventualmente levar a um ambiente mais desafiador para os investidores, sugeriu Chanos, chamando o boom de ações da era Covid como o período mais especulativo de todos os tempos para os mercados.
"A especulação já está visível no cenário, não tanto quanto estava em 2021, que é o mercado mais especulativo que já vi, mas está voltando”, diz. “O mercado poderá em breve ver muitas 'emissões', como aconteceu em 2021 e, como sempre digo, Wall Street também tem uma impressora, assim como o Fed."
Outros riscos potenciais citados pelo investidor são o "teatro político" que se desenrola nos EUA e o surgimento da startup chinesa DeepSeek, que desenvolveu um modelo de IA que apresenta praticamente os mesmos resultados que o ChatGPT, mas por uma fração do custo da OpenAI.
Em relação à agenda econômica de Trump, Chanos adverte sobre o plano do presidente de cobrar tarifas de importação de até 25% de vizinhos e aliados, como México e Canadá, e realizar uma reforma administrativa abrangente no governo americano, cortando cerca de 10% do número de funcionários públicos federais.
No ano passado, Chano fez uma previsão semelhante de que os mercados estavam voltando ao ciclo especulativo da era da pandemia, citando a supervalorização das ações tech, que atribuiu ao efeito FOMO (fear of missing out, ou “medo de ficar de fora”), que distorce o preço dos ativos.
Chanos também vê risco na tecnologia disruptiva que poderia potencialmente chocar os mercados. Em particular, ele apontou para a DeepSeek, a startup chinesa que provocou uma debandada de US$ 1 trilhão em ações em janeiro.
"Você tem sempre que considerar o risco de que a tecnologia seja disruptiva por si só", disse ele sobre inteligência artificial e ações de IA. "Isso ressalta os riscos de pagar múltiplos de receita que são historicamente considerados exagerados, e agora temos empresas rotineiramente negociando a 20, 30, 40 vezes as receitas."
Os mercados, portanto, correm maior risco de algo completamente imprevisto. "Os riscos reais serão algo como o DeepSeek, que surge do nada e muda o pensamento das pessoas” diz Chanos. “E, por definição, ninguém sabe ainda o que isso representa."