Algumas experiências verdadeiramente imersivas ao ar livre só um acampamento pode proporcionar. Mas esqueça as viagens onde o perrengue é inerente e o arrependimento, quase uma certeza. Não é disso que se trata. Bem-vindos ao universo glamping. Combinação entre glamour e camping (sim, isso é possível!), o conceito ganha força entre os chamados turistas da natureza.
Globalmente, a modalidade movimentou US$ 3,45 bilhões, em 2024. E, até 2030, deve avançar a uma taxa de crescimento anual composta de 10,3%, nos cálculos da consultoria Grand View Research.
O glamping já vinha em ascensão desde meados dos anos 2010, mas ganhou força com a pandemia de covid-19, impulsionado sobretudo pelos millennials. Durante o isolamento social, eles encontraram na mistura entre aventura e luxo a saída perfeita para as tão almejadas vida ao ar livre, privacidade e exclusividade. Tudo com as comodidades típicas dos melhores hotéis. Alguns contam com wi-fi, camas confortáveis, lençóis e toalhas de muitos fios e refeições caprichadas. Os mais sofisticados dispõem até de spa.
Atualmente uma das propriedades mais badaladas hoje entre os glampers é o peruano Puqio Tented Camp. Localizado no coração do Vale do Colca, nos Andes, oferece oito “tendas”, cujos tamanhos variam de 53 a 60 metros quadrados.
As acomodações foram inspiradas nas barracas usadas por exploradores da região, na década de 1930. Sem comprometer a autenticidade da experiência, o conforto, porém, é típico da contemporaneidade.
Os visitantes podem explorar trilhas, sítios arqueológicos e comunidades locais, para um mergulho na cultura andina. Com tudo incluso, as diárias variam de US$ 660 a cerca de US$ 1,1 mil, por pessoa, na baixa temporada. E, na alta, de US$ 792 a quase US$ 1,3 mil.
No Delta do Okavango, em Botsuana, o Duba Explorers Camp se anuncia aos amantes da vida selvagem, que “apreciam o estilo elegante, mas discreto, dos safáris dos anos 1920”.
Montadas sobre deques de madeira, as cinco tendas têm banheiros cinco estrelas, vista panorâmica e integração total com a vida selvagem. Além das acomodações exclusivas, os hóspedes desfrutam de safáris diurnos e noturnos, entre outras atividades. O preço? De US$ 1,3 mil a US$ 2,5 mil, a diária, por pessoa.
Do Peru a Botsuana; dos Estados Unidos à Itália; do Canadá à Tailândia; da Austrália à Suíça... há glampings espalhados por todo o mundo. Inclusive no Brasil.
“Estamos só começando, mas um país como o nosso, com destinos naturais maravilhosos, tem muito espaço para expandir”, diz Guilherme Padilha, CEO da Auroraeco, especializada em viagens de aventura e culturais na América Latina, em entrevista ao NeoFeed.
Aqui, conforme dados do Ministério do Turismo, uma em cada quatro viagens domésticas de lazer são de natureza.
Atendendo a pedidos
Um dos primeiros glampings brasileiros é o Korubo Safari Camp, no Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins. Nos anos 1990, quando Cinthia e Luciano Cohen conheceram o lugar logo se apaixonaram e decidiram compartilhá-lo com outros viajantes.
No início, a estrutura era simples: barracas pequenas, camas de campanha e banho aquecido à base de solar shower, um sistema de bolsas de plástico pretas que aquecem a água no sol. Mais “raiz”, impossível.
Oito anos depois, no entanto, o projeto ganhou um upgrade, acompanhando o desejo dos hóspedes por mais conforto. Inspiradas nos modelos usados nos nos safáris africanos, as tendas hoje são feitas de madeira, lona e palha, têm camas de verdade e banheiro privativo.
No refeitório, é servida comida caseira, com ingredientes orgânicos. O “acampamento” tem piscina, áreas de relaxamento e um mirante. Tudo isso em meio às dunas douradas, rios cristalinos e cachoeiras selvagens.
Para garantir exclusividade, os hóspedes têm acesso a áreas privadas e protegidas, incluindo fervedouros e praias fluviais. Atividades como canoagem no rio Novo e trilhas pelo Cerrado complementam a experiência.
O transporte é feito em veículos 4x4 adaptados, garantindo conforto e vista panorâmica. Exceto feriados e julho, o pacote, de sete dias e seis noites, inclui hospedagem, alimentação e passeios, a quase R$ 6 mil, por pessoa.
“Nosso público é formado, principalmente, por viajantes experientes entre 35 e 65 anos”, diz Cinthia, ao NeoFeed. “Só nas férias e feriados recebemos famílias com crianças, acima de oito anos.”
No meio da floresta
Outro destino de sucesso no Brasil é o Amazon Glamping, da Amazon Emotions, empresa pioneira neste tipo de turismo na floresta amazônica. Em operação desde 2006, fundada por Vanessa Marino, a propriedade oferece duas modalidades de hospedagem: fixa em sua propriedade de 300 hectares, localizada na cidade Presidente Figueiredo, no Amazonas, e acampamentos pop-up em diferentes pontos do rio Negro, montados sob demanda.
Vanessa aprimorou seus conhecimentos de logística e segurança antes de criar o Amazon Glamping. Só depois de organizar cinco expedições ao Pico da Neblina, feita junto ao povo indígena Yanomami, se sentiu preparada para se lançar no negócio.
“Para os acampamentos pop-up, eu tenho parceria com proprietários que permitem que eu instale as tendas em suas terras”, conta Vanessa, ao NeoFeed. As experiências são customizadas de acordo com as expectativas de cada viajante.
Para quem busca isolamento absoluto, por exemplo, um dos destinos oferecidos é São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com Colômbia e Venezuela, lar de 23 etnias indígenas.
Barcos dão apoio aos pop-ups. Ali funciona uma cozinha, com refrigeração. A gastronomia oferecida é a base de peixe e de produtos comprados de produtores locais. Já no acampamento fixo, Vanessa hospeda os clientes nos “refúgios” localizados em cima de um morro. No estilo “rústico-chique”, as cabanas têm uma visão privilegiada para a floresta.
As atividades incluem trilhas aquáticas, caminhadas na floresta, passeios de caiaque e observação de vida selvagem. Também há a possibilidade de interações com comunidades ribeirinhas e indígenas. Como cada experiência é feita sob medida, os valores variam muito.
Embora o conceito de glamping tenha se popularizado recentemente, sua origem remonta ao início do século 20, quando a aristocracia britânica, em expedição pela África e o Oriente Médio, fazia dos acampamentos uma extensão do bem-estar e sofisticação que tinham em casa.
O conceito evoluiu, mas a essência permanece: oferecer experiências na natureza, muito confortáveis.