Düsseldorf — Lançada em 1974, pelo alemão Theo Gerlach, a Seaside Hotels, agora rebatizada para Seaside Collection, se firmou como uma sofisticada marca hoteleira, com 11 propriedades espalhadas pelas Ilhas Canárias, Espanha, Alemanha e Maldivas. Mais recentemente, os herdeiros do fundador decidiram levar o requinte dos resorts e hotéis boutique da família para um nicho da indústria do turismo em franca expansão — o dos cruzeiros de alto padrão.
Já seria uma decisão acertada, mas os irmãos Gregor e Anouchka “mergulharam” ainda mais fundo no segmento e focaram nas viagens por rios europeus. Assim nasceu, em 2022, a Riverside Luxury Cruises, a primeira armadora de ultraluxo 100% dedicada aos cruzeiros fluviais. Desde então, os ventos têm soprado a favor da nova empresa.
No primeiro ano de operação, a Riverside foi eleita uma das dez melhores armadoras do mundo no World's Best Awards da revista Travel + Leisure. Em breve, mais duas embarcações devem se somar aos três navios já em operação. Além disso, os Gerlach estão de olho no mercado latino-americano, em especial no brasileiro.
"As viagens de luxo na América Latina experimentam um crescimento significativo, com o Brasil liderando esse movimento”, explica Jennifer Halboth, CEO da Riverside North America, em entrevista ao NeoFeed. Atualmente, 67% dos passageiros e 73% da receita da Riverside vêm da América do Norte e da América Latina.
Quando decidiram se aventurar pelos rios, Gregor e Anouchka compraram os barcos fluviais da então falida Crystal Cruises (hoje de volta apenas ao mercado marítimo, após ser adquirida pela americana Abercrombie & Kent). Mas foram longas negociações para começar a comprar as embarcações.
Primeiro veio o Riverside Mozart, extensivamente reformado e hoje dedicado à navegação no rio Danúbio. A aquisição dos outros navios só foi concretizada quase um ano depois — o Riverside Ravel foca nos rios franceses Rhône e Saône, e o Riverside Debussy navega pelos rios alemães.
"Ele [Gregor] percebeu que o serviço e a culinária caprichados que criava para seus hotéis poderiam ser oferecidos também nos rios, já que navios são essencialmente um hotel que acompanha o hóspede", conta Jennifer.
Hoje, os três navios da Riverside oferecem, juntos, mais de 170 saídas anuais em 52 itinerários europeus distintos, entre castelos medievais, vilarejos pitorescos, patrimônios tombados pela UNESCO, vinhedos e até alguns dos mais charmosos mercados de Natal — uma tradição na Europa, sobretudo nos países de língua alemã, entre novembro e dezembro.
Tudo isso com mordomo, culinária estrelada, serviço de quarto 24 horas, open bar, piscina, spa, academia e excursões e traslados terrestres, entre outras amenidades, incluídas — ao custo de US$ 5 mil a US$ 7 mil por pessoa, a viagem de sete noites. Em todas as rotas, os navios pernoitam em algumas cidades, permitindo maior imersão na história e na cultura locais.
Nos cruzeiros da Riverside, há um tripulante por suíte — a proporção mais alta do nicho. Os espaços nas embarcações da empresa também são maiores. Por questões legais, por exemplo, os navios que viajam pelo Reno, o rio com a maior concentração de castelos do mundo, têm de ter o mesmo tamanho. Mas cada armadora pode usar o espaço como quiser.
Assim, enquanto, outras empresas, como Viking, Emerald, AMA e Uniworld, levam até 190 passageiros, a lotação do Riverside Debussy é de no máximo 110. Menos hóspedes representam, na prática, suítes maiores, mais área de convivência e até um restaurante extra.
Além disso, o orçamento destinado à gastronomia a bordo também é o dobro por viajante em comparação com a concorrência. Outro “pulo do gato” da Riverside foi apostar em formatos diferentes para seus cruzeiros — todos customizáveis, algo antes impensável nas viagens fluviais.
É possível, por exemplo, embarcar apenas com pensão completa, com custo reduzido. Ou, mais importante ainda, o próprio viajante decide quanto tempo quer ficar a bordo — e também onde embarcar e desembarcar. Hoje, os itinerários da Riverside Cruises têm duração, decidida pelo próprio cliente, entre três e 23 dias.
Ao contrário das primeiras previsões catastróficas para o setor, a indústria global de cruzeiros demonstrou extrema resiliência em relação à Covid-19. Nos últimos cinco anos, o número de passageiros e as receitas não só superou os níveis pré-pandêmicos como a quantidade de novos navios e empresas também cresceu.
Segundo a Cruise Lines International Association (CLIA), em 2024 foram 6% a mais de viajantes em comparação a 2019.
Só em cruzeiros oceânicos, no ano passado, o número de passageiros atingiu quase 35 milhões, com receita global superior a US$ 40 bilhões — ambos novos recordes do setor. Em 2029, essa indústria deve movimentar US$ 53,49 bilhões.
Em meio ao crescimento dos cruzeiros em geral, o nicho de luxo se destaca. Desde 2010, as embarcações mais sofisticadas triplicaram. E novas marcas e armadoras começaram a operar — além da Riverside, Explora Journeys, Ritz-Carlton Yachts e Swan Hellenic, entre outras.
Em 2028, 1,5 milhão de turistas devem subir a bordo de um navio de alto padrão no mundo. E as receitas devem evoluir a uma taxa de crescimento anual composta de 12,32%, atingindo US$ 23,08 bilhões em 2032. Nas previsões da J.P. Morgan Research, em cinco anos, os cruzeiros de luxo devem representar 4% da indústria global do turismo.