Shimeji, shitake e champignon… quem não conhece? Ricos em fibras, proteínas, minerais e vitaminas, os cogumelos são celebrados pela potência de seus nutrientes. Mas você já ouviu falar em maitake, reishi ou chaga?
Pois bem, eles têm um algo mais — oferecem benefícios para o corpo e a mente que vão além do valor nutricional básico das espécies mais comuns. Bem-vindos ao universo dos cogumelos funcionais.
Dos cerca de 22 mil tipos de cogumelos já catalogados pela ciência, apenas 9% são comestíveis. E, deles, aproximadamente 200 contêm compostos bioativos com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana… capazes de fortalecer o sistema imunológico, aliviar o estresse, regular a pressão arterial… e até ajudar na concentração, foco e energia… e por aí vão as doses de saúde dos cogumelos funcionais.
Há pelo menos 1,4 mil anos, esses fungos (sim, eles pertencem ao Reino Fungi) fazem parte das farmacopeias chinesa e japonesa. No Ocidente, porém, suas benesses eram pouco difundidas. Não mais. Já bem consolidados em mercados como o americano, canadense e alguns europeus, os cogumelos funcionais movimentam hoje uma indústria bilionária — em ascensão.
Os US$ 31,71 bilhões movimentados globalmente em 2023 devem virar US$ 66 bilhões em 2030, avançando a uma taxa de crescimento anual composta de 11,2%, segundo a consultoria Grand View Research. É bastante coisa.
No Brasil, o assunto ainda é incipiente. Por aqui, quando se fala em cogumelo, alguém sempre tem uma piada sobre “viagens alucinatórias” e “portas da percepção” — não, não… os fungos psicodélicos são uns, distintos dos comestíveis, dos funcionais e até dos tóxicos.
Pois bem, um grupo de empreendedores e investidores brasileiros está trabalhando para tornar o juba de leão, por exemplo, tão popular quanto o portobello. Eles estão reunidos em torno da Smush — Smart Mushrooms.
Fundada em setembro de 2022 pelo casal Laura e Lorenzo Rolim da Silva, a empresa é pioneira na produção de alimentos “enriquecidos” com bioativos de espécies funcionais.
Engenheiro agrônomo, Lorenzo trabalhava em uma multinacional alimentícia quando, há uns quatro anos, nas viagens para os Estados Unidos e Canadá, entrou em contato com os “supercogumelos”.
Na cozinha de casa, ele e Laura então começaram a experimentar algumas receitas — ela sempre esteve muito ligada ao universo da gastronomia. Primeiro foram os chocolates, depois os cafés, a granola… os amigos adoraram e sugeriram ao casal que transformassem o hobby em negócio. Assim, nasceu a Smush.
Em uma rodada seed avaliada em R$ 1 milhão, liderada ppelo fundo Time Out Participações, o casal lançou seu primeiro produto — as cápsulas de café, o carro-chefe da empresa até hoje. Desde o início, Lorenzo mirou o mercado internacional. O Mushroom Espresso chega aos americanos via Amazon. E à Alemanha e ao Reino Unido, por intermédio de parceiros locais.
“O faturamento nos Estados Unidos está muito próximo dos números do Brasil — cerca de 5 mil caixas”, diz o empreendedor em conversa com o NeoFeed.
A pausa estratégica e a volta com tudo
Depois de um ano de altos e baixos, como o próprio Lorenzo define, ele e Laura decidiram, no final de 2024, dar uma pausa para reestruturar a empresa e pensar em novos produtos. “Nós só mantivemos as operações no exterior”, lembra.
Nesse período, Lorenzo e Laura conquistaram dois parceiros importantes: Carlo Sabino e Fernanda Duarte Melzer. Com a chegada deles, o total arrecadado pelo casal subiu para R$ 3 milhões. Atingidas algumas metas, referentes, por exemplo, a faturamento, expansão no Brasil e no exterior, em dois anos, pode ser feito um novo aporte de R$ 3 milhões.
De roupa nova, mais robusta, a Smush reestreou recentemente na última edição da Naturaltech, a maior feira de produtos naturais da América Latina. Agora, os bioativos dos cogumelos funcionais estão, além dos cafés, em granolas (Smushnolas), em pastas de amendoim e de chocolate com avelã (Smushnuts), em barrinhas (Smushn’Go), em florais (Smushdrops), em cápsulas e sachês (Smushcaps).
As seis espécies de fungos com as quais a foodtech trabalha são importadas da Ásia sob a forma de pó (veja quais são eles e suas funções nas fotos acima). Como a Smush não tem fábrica própria, os produtos são desenvolvidos em parcerias com outras companhias.
Lorenzo já protocolou na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de registro dos seis cogumelos como ingredientes para suplementos alimentares. O aval da Anvisa é esperado para o final de 2025, diz o empresário.
Enquanto isso, os cafés, as granolas, as pastas e as barrinhas seguem a legislação de alimentos e os florais, cápsulas e sachês são operados conforme as normas aplicadas às farmácias de manipulação.
O modo como Fernanda descobriu a Smush ilustra à perfeição o quanto os brasileiros têm a descobrir (e se deslumbrar) sobre os cogumelos funcionais.
Advogada de formação, ela sempre foi adepta de um estilo de vida saudável, focado na expansão da consciência e no autoconhecimento. Em abril do ano passado, Fernanda foi a Punta del Este participar de um retiro comandado pelo guru americano Joe Dispenza.
Logo ao entrar em seu quarto no Fasano Las Piedras, notou as cápsulas de espresso oferecidas como cortesia pelo hotel. “Uau! Café com cogumelo?”, espantou-se.
Depois de experimentar o produto, Fernanda ficou encantada. A presença do cogumelo não alterava as propriedades organolépticas da bebida. E melhor.
Sem comprometer o sabor, o aroma, a textura ou a cor do preparo, seus compostos bioativos faziam daquele cafezinho uma xícara repleta de ingredientes funcionais. “Eu então fiquei ligada na marca”, conta a advogada ao NeoFeed.
Algum tempo depois, já em São Paulo, em um jantar, a advogada foi apresentada a Lorenzo e Laura.
Fernanda conheceu os investidores e (de novo) ficou encantada — agora, com o propósito do negócio. Esposa de Pedro Melzer, sócio do Patria Investments, ela esteve diretamente ligada ao reposicionamento da marca.
Agora a Smush está pronta para, como diz Lorenzo, ser “a porta-voz dos cogumelos funcionais no Brasil”.