A americana Renee Mauldin, que comandou o RH na Uber e no Twitter, chegou, no final de 2018, para ocupar o cargo de Chief People Officer. Em 2020, Jag Duggal, que tocava a gestão de produtos do Facebook, se tornou o Chief Product Officer, e o marroquino Youssef Lahrech, ex-líder de tecnologia do banco Capital One, veio para ser o Chief Operating Officer.
No mês passado, o americano Matt Swann, ex-Amazon e Booking, foi anunciado como o novo Chief Technology Officer. Agora é a vez de mais um C-Level internacional desembarcar no Brasil. Trata-se do americano Arturo Nuñez, ex-vice-presidente de marketing global da Nike para basquete e ex-diretor de marketing da Apple para a América Latina. Ele será o Chief Marketing Officer.
Todos esses executivos têm algo em comum: ocuparam cargos de liderança em algumas das maiores estrelas do Vale do Silício e agora trabalham para uma companhia brasileira com ambições globais: o Nubank. “Temos muito orgulho do que construímos. Mas, ao mesmo tempo, sabíamos que precisávamos mudar de patamar na nossa execução”, diz Cristina Junqueira, cofundadora e CEO do Nubank no Brasil, ao NeoFeed.
Criado em 2013, o Nubank chegou num tamanho colossal e num ritmo de crescimento que impressiona. São quase 40 milhões de clientes no Brasil e presença no México e Colômbia. O que era uma operação exclusivamente de cartão de crédito acabou ganhando corpo com conta corrente, crédito pessoal, conta pessoa jurídica, seguro e, com a compra da Easynvest, investimentos.
Um recente relatório feito por analistas da XP classificou a fintech criada por David Vélez como “a ameaça roxa” e aponta que o banco deve ultrapassar o Banco do Brasil, hoje com 74 milhões de clientes, em 2023. Mas, segundo Junqueira, as ambições da companhia vão muito além disso. E é aí que entra o time de C-levels que vem sendo construído.
“Temos uma visão de que não tem limite para o que a gente vai fazer. Somos uma empresa global de tecnologia. Justamente por isso, a gente quer ter um time parecido com o que poderia estar no Uber, em São Francisco, ou no Facebook, no Twitter, no Google”, afirma a comandante do Nubank no Brasil. E prossegue. “Nossa ambição é grande. Estamos buscando o melhor talento onde quer que ele esteja.”
Na conversa com o NeoFeed, a cofundadora do Nubank deixa muito claro que o banco não vai ficar restrito apenas ao setor financeiro e, mais do que isso, não quer ser visto como uma empresa do segmento. “A gente sempre se viu como uma empresa de tecnologia e não como um banco ou uma financeira. E a gente sabe que tecnologia, hoje em dia, é tudo. Olha a Tesla com o market cap maior do que todas as montadoras somadas.”
Além do exemplo da Tesla, que também se posiciona como uma empresa de tecnologia, Junqueira dá exemplos de empresas de e-commerce que têm entrado no setor financeiro e vice-versa. “Hoje, as linhas que separam serviços financeiros de outros setores são muito cinza”, diz ela. “Da mesma maneira que os outros têm feito, conseguimos expandir as fronteiras do nosso escopo.”
Aqui mesmo no Brasil há diversos exemplos de empresas entrando em outros segmentos que não eram o seu core. O Inter, por exemplo, está se tornando um dos “varejistas” mais relevantes do mercado com o seu marketplace Intershop. O Mercado Livre, uma referência em marketplace, virou um gigante da indústria financeira com o Mercado Pago.
O Magalu, por sua vez, tem entrado em segmentos como conteúdo, delivery, meios de pagamento, entre outros. O PicPay, que nasceu como uma plataforma de meio de pagamento, também tem expandido seus tentáculos para outros segmentos como até publicidade. E o mesmo pode-se dizer sobre B2W, Rappi, entre outras companhias que estão criando seus superapps.
Mas a necessidade do Nubank de fortalecer seu management passa, principalmente, pelo seu plano de se tornar uma empresa internacional. De acordo com um ranking da CB Insights, o Nubank ocupa a décima posição entre os maiores unicórnios do mundo. Em janeiro deste ano, a startup recebeu um aporte de US$ 400 milhões que fez seu valuation alcançar US$ 25 bilhões.
Sua marca é constantemente lembrada em mercados poderosos como o americano. Recentemente, a fintech foi eleita como uma das 100 companhias mais influentes do mundo pela revista TIME. No mercado, são também fortes os indícios de que a fintech se prepara para abrir seu capital em uma bolsa americana, fato noticiado pela Reuters.
A exemplo do que a empresa tem feito com o management, no mês passado, o Nubank anunciou um conselho de administração global. A companhia trouxe Jacqueline Reses, ex-CEO da fintech Square e atual presidente do Conselho Consultivo Econômico do FED; Luís Alberto Moreno, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Daniel Goldberg, ex-presidente do Morgan Stanley no Brasil, e a escritora, palestrante e consultora americana Anita Sands.
Indagada pelo NeoFeed sobre a possível abertura de capital, Junqueira afirma que “a turma de investment banking” vem rodeando o Nubank há anos. “Mas não temos pressa e não estamos correndo para fazer IPO. Temos fila de investidores para entrar, não precisamos de mais dinheiro.” Mas há uma questão importante na abertura de capital que é a de trazer mais governança para a operação e, claro, ser um cartão de visita para a entrada nos Estados Unidos.
“É um mercado interessante, mas precisamos que algumas coisas amadureçam mais antes de colocarmos mais coisas no prato”, diz ela. E esse amadurecimento passa também pelo fortalecimento da marca. Nuñez, que acaba de ser contratado para o cargo de CMO, passou por um funil de 100 profissionais.
“Conversamos com muita gente no Brasil e na América Latina. Mas queríamos alguém com experiência internacional porque o desafio de quem está nessa cadeira é a expansão internacional”, diz Junqueira. Além de ter atuado em marcas globais em vários mercados, ele também traz a experiência de ativação de marcas em grandes eventos. “Podíamos aprender, mas cometeríamos erros se ele não estivesse aqui.”