O setor de energia elétrica está aquecido no Brasil. A projeção é que a geração cresça, pelo menos, 13% até 2027, para 208,1 GigaWatts (GW), com a grande maioria de projetos ligados às fontes renováveis. A Equus Capital, gestora criada por executivos ex-Tarpon, está entrando neste mercado com o lançamento de um fundo de investimento de R$ 1 bilhão.
Um terço desse dinheiro já está na Equus. Os dois terços que faltam para complementar o investimento podem vir tanto da captação como da emissão de dívida. A gestora estuda, neste momento, se emitir uma debênture ou um green bond, que pode atrair o investidor internacional, não seria a melhor maneira de acelerar o projeto.
O modelo pensado pela Equus para o seu veículo de investimento é inspirado na relação entre a Tarpon, fundada por Zeca Magalhães, e a Omega, empresa de energia renovável avaliada em R$ 5,5 bilhões na B3.
Felipe Vasconcellos e Paulo Merotti, sócios-fundadores da gestora ao lado de Rubens Terra e Felipe Uchida, participaram ativamente do processo de IPO da Omega, em 2017 - Merotti era o legal da Tarpon que acompanhou o processo junto à empresa de energia elétrica e Vasconcellos o relações com investidores da gestora.
No modelo da Tarpon, a gestora não investe diretamente no ativo final. Ela faz um aporte em uma empresa, que garante management independente e autonomia para tomar suas próprias decisões na operação. Dessa forma, a gestora entra apenas com capital financeiro e humano, que vai compor o board.
Desde o momento em que criaram a Equus, os sócios ex-Tarpon decidiram que a gestora seria focada nas teses que envolvam internet das coisas (IoT), big data e inteligência artificial.
“A gestora vai investir em tendências inevitáveis de longo prazo, mas não fazia sentido não olharmos para algumas tendências que nós já tínhamos alguma familiaridade”, afirma Vasconcellos, em entrevista ao NeoFeed. “O único investimento com o qual estive envolvido do primeiro ao último dia de Tarpon foi a Omega.”
Para dar vazão à tese da energia renovável, a Equus contou com a ajuda de Mario Lotufo, um profissional que construiu sua carreira nos Estados Unidos, passando por Rabobank, Robeco Asset Management e ALT Capital.
Responsável pelo escritório internacional da gestora, que foi inaugurado há três meses em Nova York, ele fez a ligação entre Vasconcellos e o executivo João Meirelles. A curiosidade é que Lotufo e Meirelles nunca trabalharam juntos. Eles se conheceram nas piscinas, jogando pólo aquático.
Meirelles é um dos mais importantes atletas brasileiros da modalidade. Pepito, como é conhecido, ganhou a medalha de bronze pelo Brasil nos Jogos Pan Americanos de 1987 e 1991 e entrou para o International Masters Swimming Hall of Fame (IMSHOF), em 2019.
O destaque no esporte se repete nos negócios. Na conversa com os sócios da Equus, Meirelles se transformou no “cara certo” por dois motivos: tem ativos no portfólio para colocar no projeto e esteve à frente dos principais movimentos do setor de energia elétrica nos últimos anos - não é à toa que é conhecido como “Sr. Energia”.
A aproximação entre eles só não foi mais rápida do que a contratação de Meirelles para ser o CEO da China Three Gorges (CTG) no País. A reunião entre ele e os executivos da companhia chinesa de energia, em 2014, que estava querendo se instalar no Brasil, durou menos de 10 minutos.
A experiência do executivo na Alupar como CFO e diretor de relações com investidores, de 2007 a 2013, depois como responsável pela expansão da Brookfield Renewable Energy Group, era o cartão de visitas que os chineses procuravam para começar o seu projeto greenfield.
Além de ter sido o primeiro executivo de uma companhia fora da China sem ascendência chinesa, Meirelles começou a organizar a CTG com participações em três hidrelétricas de médio porte e 11 parques eólicos com sócios como EDP, Furnas e EDPR.
Com o crescimento da empresa no País, passou a liderar aquisições, como foi o responsável pela análise de viabilidade e due diligence da Duke Energy, que detinha 2 GW de energia, e assinou um cheque de US$ 1 bilhão.
Ao deixar a empresa em 2017, a CTG era a segunda maior geradora privada do Brasil, com 8,3 GW, patrimônio líquido de R$ 12 bilhões e uma margem líquida de 85,5%.
A empresa que receberá os recursos da Equus Renewable Energy Ventures ainda não tem nome, mas já conta com 12 ativos que, somados, geram 2,8 GW - uma capacidade de abastecimento de uma cidade de 100 mil a 150 mil pessoas. Eles estão localizados no Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Bahia e estão divididos em 65% solar e 35% eólico.
“Se não houver um investimento significativo em geração de energia até 2027, o Brasil terá um déficit de abastecimento somente com o crescimento básico da economia”, diz Meirelles, que será o CEO da empresa de energia investida da Equus.
Não precisa ir tão longe se dar conta dos riscos de escassez de energia. Na segunda-feira, 2 de outubro, a operação da Usina Hidrelétrica Santo Antônio foi interrompida em razão do nível baixo das águas do rio Madeira, em Porto Velho.
Por esse motivo, o governo federal vai seguir as orientações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e colocar em operação duas usinas termelétricas a diesel para garantir eletricidade suficiente em Rondônia e Acre durante os horários de pico de demanda.
Meirelles afirma que há a ilusão no Brasil de que existe sobra de energia. Segundo ele, é preciso investir o tempo todo para não correr o risco de um apagão, que acontece por desbalanceamento, ou seja, há um pico de consumo, mas a energia “não está pronta”.
Um exemplo recente foram os dias de calor intenso, que sobrecarregaram o sistema e poderiam ter provocado esse descasamento. “Apostamos nesse mundo que vai além do que as pessoas enxergam. Estamos olhando o futuro e os eventos que virão, com carro elétrico, eletrificação em geral e hidrogênio verde, que ainda está nascendo”, afirma Meirelles.