O empresário Rafael Assunção gosta de investir em startups. Desde que chegou em Florianópolis, em 2011, onde foi passar um período sabático e acabou fixando residência, ele se tornou um investidor-anjo, apostando em diversas companhias da região.
Mas o que ele sabe fazer mesmo é vender. Tanto que, depois de investir, ele já começava a preparar a empresa para uma saída. Em 2018, por exemplo, vendeu a Decora, especializada na criação de cenários de decoração em 3D, para a americana CreativeDrive, por US$ 100 milhões.
Foi assim que surgiu a Questum Investimentos, uma boutique de M&A que se especializou em transações com startups. Em nove operações desde a sua fundação em 2019, a empresa já movimentou R$ 1 bilhão, como a venda da Lett para a Neogrid e da Zipper para a CRM&Bonus
Agora, Assunção está acrescentando um novo braço à Questum. A companhia planeja investir R$ 200 milhões nos próximos cinco anos em 50 startups no estágio seed e séria A, com cheques que variam de R$ 500 mil a R$ 10 milhões.
O que chama atenção na estratégia da Questum é a forma que pretende avaliar as startups que vão receber o seu cheque. “Vou fazer o funding da startup já pensando no caminho de saída”, diz Assunção Junior, ao NeoFeed.
É claro que todo aporte de um investidor em uma startup vislumbra, em algum momento, uma saída. No caso da Questum, a análise de investimento começa com o exit.
“Eu penso assim: quem compra empresas como essa que vou investir e quanto paga?”, explica Assunção. “Então, vou colocar combustível de forma eficiente para chegar a uma receita que viabilize uma transação que o comprador quer fazer. É pragmatismo no último nível.”
A lógica de Assunção Junior é baseada em evidências. A primeira delas é que a maioria dos deals de startups no mercado brasileiro se situa em uma faixa entre R$ 50 milhões e R$ 200 milhões, de acordo com ele. “A Totvs fez mais de 40 investimentos, mas só a RD Station superou o R$ 1 bilhão”, exemplifica.
Por esse motivo, em vez de buscar unicórnios, como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, o investidor procura ativos capazes de atingir essa avaliação média. “Eu não acredito em animais mitológicos”, brinca Assunção.
Questionado se ao ser obcecado pela saída, a gestora não estaria incentivando uma venda prematura, Assunção responde. “Não é vender rápido. É vender no melhor ponto que algumas empresas estão dispostas a pagar.”
A inspiração para essa estratégia de saída veio do escritor Basil Peter, autor do livro “Early Exits: Exit Strategies for Entrepreneurs and Angel Investors (But Maybe Not Venture Capitalists)”, um best seller que prega uma abordagem prática para vendas de startups.
O plano de Assunção é investir em startups de SaaS (Software as Service), fintechs e companhias cuja essência sejam a tecnologia, o que ele chama de “tech enabled services”. Não está na pauta levantar um fundo com LPs externos para fazer os investimentos. O capital será proprietário dos sócios da Questum.
Além de Assunção, são sócios da Questum Anderson Wustro, que foi diretor e mentor da aceleradora Darwin Startups; Tiago Vailati, fundador e ex-CEO da Hiper, startup de gestão de pequenos negócios para varejo vendida para a Linx; e João Selarim, um dos fundadores da TotalVoice, startup de telefonia vendida para a Zenvia.
Outros fundadores de startups que fizeram M&As assessorados pela Questum vão também alocar recursos para os investimentos. Entre eles estão Gustavo Tremel, da Decora; Fernando Salla, da Effecti (comprada pela Nuvini); e José Henrique Kracik, da PagueVeloz (adquirida pela Serasa).
O modelo de investimento será no estilo de “club deal”, em que a cada negócio o grupo chama investidores para participar da rodada. A meta é fazer 10 investimentos por ano. O primeiro, de acordo com Assunção, deve acontecer nos próximos 60 dias.
O caminho que começa a ser seguido pela Questum, que está partindo do M&A para investimento em startups, é o inverso do da Ace, que já investiu em mais de 140 startups.
A gestora criada por Pedro Waengertner e Mike Ajnsztajn acaba de criar uma unidade de negócios para fazer fusões e aquisições de startups. A meta é realizar entre sete e oito operações por ano. O alvo: transações que ficam entre R$ 80 milhões e R$ 150 milhões.