Em meados de março, quando ficou claro que a disseminação do novo coronavírus iria fechar comércio e negócios, a Dasa, dona de marcas como Alta, Delboni, Lavoisier e Salomão Zoppi, começou a trabalhar sob imensa pressão para dar conta do desafio que vinha pela frente.

Mas, por mais que fosse possível prever o tsunami que inevitavelmente iria chegar ao Brasil, ninguém conseguiu se preparar de forma adequada naquela época. A primeira fase do novo coronavírus foi marcada pela carência de equipamentos individuais de proteção (EPIs) e principalmente pelo número reduzido de testes para diagnosticar a Covid-19.

Não foi por falta de planejamento – nem havia muito tempo para planejar algo. A corrida mundial fez com que esses recursos se tornassem escassos e caros. Afinal, o mundo inteiro saiu comprando esses itens essenciais para o combate à Covid-19, num salve-se-quem-puder em que o dinheiro falou muitas vezes mais alto.

Quase nove meses depois de o primeiro paciente ser diagnosticado com o coronavírus no Brasil, a Dasa, controlada pela família Bueno, está se preparando mais uma vez para a guerra. “Os nossos cientistas de dados começaram apontar para uma segunda onda”, diz Carlos de Barros, CEO da Dasa, ao NeoFeed.

Nesta semana, a taxa de transmissão (Rt, ou ritmo de contágio) do novo coronavírus no Brasil é a maior desde maio, segundo dados do Imperial College de Londres, no Reino Unido. O índice da instituição está em 1,30, o que significa que cada grupo de 100 pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 130.

A Dasa já está sentido a aceleração da transmissão do novo coronavírus no Brasil. O laboratório, que já fez 2,5 milhões de testes de Covid-19 em suas mais de 900 unidades espalhadas pelo Brasil, percebeu um aumento de 30% dos casos positivo da doença no começo de novembro – estava na casa dos 18,9% em outubro.

Não bastasse isso, a procura por exames relacionados ao diagnóstico do novo coronavírus cresceu 50% no Rio de Janeiro e 30% em São Paulo, na comparação entre 10 de outubro e 10 de novembro. “Estamos mais preparados para enfrentar (essa segunda onda) e saber onde o calo aperta quando começar”, afirma Barros.

A Dasa já retomou as reuniões do comitê de crise. No auge da pandemia, elas eram diárias, incluindo os fins de semana. Agora, os encontros estão acontecendo duas vezes por semana. Esse grupo é composto por Barros e seus executivos mais diretos.

Os executivos discutem várias frentes de ataque para enfrentar uma segunda onda da Covid-19, caso ela chegue ao Brasil, como indicam os dados. O debate envolve as áreas de pessoas, de supply chain, de produção de exames e da operações das unidades. “Tem muita lição aprendida”, afirma Barros.

A procura por exames relacionados ao diagnóstico do novo coronavírus cresceu 50% no Rio de Janeiro e 30% em São Paulo

Uma delas é a vertente de supply chain. Quando a primeira onda começou no Brasil, os países da Europa e os Estados Unidos tinham sofrido antes do Brasil com o número de contaminações e de mortes. Houve, então, uma corrida global por reagentes, responsáveis pelos exames, e EPIs, para proteção de profissionais da área de saúde.

De acordo com Barros, as cadeias de suprimentos não estavam preparadas para as demandas. “Hoje, já sabemos onde estão os principais gargalos da cadeia de suprimentos”, afirma o CEO da Dasa. “Temos uma frente que só olha isso e vamos pecar pelo excesso.”

A Dasa está também contratando profissionais para atuar na linha de frente. Apesar de área administrativa estar em home office, uma parte dos funcionários da empresa precisa atender pacientes nas unidades de coletas. “Hoje, as pessoas estão com menos medo”, diz Barros.

Em outra ponta, a Dasa conseguiu construir em tempo recorde o Centro de Diagnóstico Emergencial, uma parceria com o Ministério da Saúde para realizar exames de Covid-19. A Dasa entrou com o prédio e com os profissionais. O governo federal com os equipamentos e os reagentes.

Até agora, foram realizados 455 mil testes nessa unidade, localizada em Alphaville, na região da Grande São Paulo. Quando foi anunciada, o plano era fazer, por dia, até 30 mil testes PCR, considerado o padrão-ouro no combate à Covid-19. A Dasa diz que, com o avanço da doença, o governo federal, os Estados e as prefeituras criaram outras iniciativas que pulverizaram os serviços. Com isso, o laboratório não foi a único parceiro. Hoje, a capacidade está em 8 mil testes por dia.

Uma segunda onda de Covid-19 deve pegar as empresas de saúde em uma melhor situação. “Estamos muito melhor preparados”, afirma Jeff Plentz, fundador da Techtools Ventures, um fundo de venture capital que investe em startups da área de saúde. De acordo com ele, a segunda onda está instalada e é uma questão de tempo para que medidas mais restritivas comecem a ser exigidas. Nessa nova fase da pandemia, a contaminação já está atingido as pessoas mais jovens, com idade abaixo de 35 anos, segundo o investidor.

Além dos laboratórios

Ao mesmo tempo em que se prepara para uma segunda onda da Covid-19 no Brasil, a Dasa, que vale R$ 28,7 bilhões, segue sua estratégia de ir além dos laboratórios. “Estamos criando um ecossistema de saúde”, diz Barros.

Nesse sentindo, a Dasa, que é da área de medicina diagnóstica, foi unida a Ímpar, rede composta de sete hospitais em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, criando um gigante com receita de mais de R$ 7 bilhões.

A Dasa se uniu ainda à GSC, uma integradora de saúde de atenção primária, que conta profissionais de diversas áreas da medicina, como médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.

Essas três companhias são conectadas ao Dasa Empresas, um hub de soluções de saúde do grupo que oferece serviços e produtos voltados ao mercado corporativo em parceria com operadoras de saúde

A nova peça dessa estratégia foi a aquisição da Gesto Saúde, em novembro deste ano, por valor não revelado. “Ela permite fazer uma melhor gestão dos custos de saúde”, afirma Barros.

Fabiana Salles, fundadora e CEO da Gesto

A Gesto utiliza inteligência artificial e dados para fazer uma melhor gestão de planos de saúde. “Integramos dados das operadoras de saúde e do RH das empresas”, afirma Fabiana Salles, fundadora e CEO da Gesto, que passará a ser sócia da Dasa assim que a transação foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – a Redpoint eventures e DGF, que tinham fatias na empresa, saíram do negócio.

Com seu sistema, a Gesto diz que consegue racionalizar o uso do plano de saúde, fazendo as empresas gastarem menos, mas sem reduzir a qualidade. “O objetivo é reduzir a ineficiência e melhorar a coordenação do uso”, explica Salles. Atualmente, o sistema da Gesto é usado por 100 empresas, que contam com 500 mil vidas. Desde a fundação da empresa, foram mais de 6 milhões de vidas monitoradas pela solução.

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