A Turquia e a Argentina têm em comum economias com inflação alta com taxas de 80% e 71%, respectivamente. Mas quando o assunto é taxa de juros, os dois países estão caminhando por trilhas diferentes.

Na Argentina, o banco central – diretamente ligado ao superministério da Economia comandado pelo ministro Sergio Massa – avançou no aperto monetário em 9,5 pontos percentuais, para 69,5% ao ano, antes mesmo do anúncio da inflação oficial de julho, um recorde em 20 anos na métrica mensal.

Já na Turquia, presidida pelo autocrata Recep Tayyip Erdogan, o banco central interrompeu, de forma surpreendente, um ciclo de sete meses consecutivos de taxa básica em 14%. Nesta quinta-feira, 18 de agosto, Banco Central da Turquia anunciou a redução do juro em um ponto percentual para 13% ao ano.

A justificativa? Em seu comunicado ao mercado, o BC turco diz esperar que o “processo de desinflação comece” e que há sinais de uma “perda de impulso na atividade econômica”. A taxa real de juro turca está entre as mais negativas do planeta.

“Outra jogada idiota”, escreveu Timothy Ash, estrategista sênior de mercados emergentes da BlueBay Asset Management, em seu Twitter. “Insano com a inflação em 80%.”

O movimento do banco central turco vai na contramão do mundo. As principais economias do planeta, como a americana e a europeia, estão com inflação historicamente alta e estão usando a política monetária para esfriar a economia e desacelerar a alta dos preços.

Uma exceção é a China, que cortou, na segunda-feira, 15 de agosto, sua taxa básica em 0,10 ponto percentual, para 2,75%. A instituição não deu pistas desse corte sequer no Relatório de Inflação divulgado na semana passada.

A redução do juro surpreendeu os mercados e, embora discreta, diz muito sobre o esforço do governo chinês para evitar uma desaceleração mais forte da atividade. A meta de crescimento para 2022 é de 5,5%.

A questão principal é que na China a inflação está controlada, apesar de ter avançado de 2,1% para 2,7%, em base anual.

No caso da Turquia, o governo está empregando uma série de métodos não convencionais para tentar sustentar a lira. A maioria dessas estratégias envolve gastar reservas cambiais significativas ou bloquear empréstimos em liras para empresas consideradas detentoras de moeda estrangeira. Os economistas estão alertando que isso pode ser insustentável.

Em relatório, a consultoria Capital Economics, com sede em Londres, escreveu que a Turquia pode enfrentar mais problemas. “Este último movimento pode ser o gatilho para mais uma crise cambial”, escreveu Jason Tuvey, economista sênior de mercados emergentes da empresa.

Para Tuvey, está claro que o banco central turco está recebendo instruções do presidente Erdogan, “cujas visões não ortodoxas formam a base do ‘novo modelo econômico’ do governo de baixas taxas de juros reais”.

A Argentina, por sua vez, está em meio a um caos econômico e trocou o ministro da Economia três vezes em um único mês. Com o aumento da taxa de juros, demonstrou sua disposição de manter um bom entendimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com quem negociou um empréstimo de US$ 45 bilhões no final do primeiro trimestre.

Manter as pazes com o FMI depende não apenas do controle da inflação, mas do cumprimento da meta de déficit primário de 2,5% do PIB neste ano. Para isso, o ministro da Economia já determinou limite de gastos para os ministérios, congelamento de contratações de servidores e redução de subsídios às tarifas de energia elétrica.

Vital para o controle da inflação argentina, o Banco Central decidiu, em acordo com o Ministério da Economia, parar de emitir pesos para financiar a dívida pública do país. A medida dará pontos positivos a Sergio Massa quando visitar o FMI, em Washington, no mês que vem.