Fundada em 2000, a Bionexo nasceu com o objetivo de digitalizar e tornar mais eficiente o processo de gestão na área de saúde. Sua primeira iniciativa nesse sentido foi em suprimentos, com a criação de um marketplace para que hospitais e laboratórios possam gerir e fazer aquisições de medicamentos e equipamentos com mais assertividade. 

Agora, a healthtech inaugura uma nova etapa desse plano. Após comprar uma fatia de 60% da Avatar Soluções, em janeiro de 2021, a Bionexo está anunciando a aquisição integral da companhia, em uma informação antecipada ao NeoFeed.

Os termos financeiros das duas transações não foram divulgados. Mas a Bionexo faz questão de revelar outra cifra. Com o novo acordo, a empresa entra de cabeça no segmento de gestão do ciclo de receita médica com uma meta ambiciosa: recuperar R$ 1 bilhão em recursos aos seus clientes já em 2023. 

“A ideia é consolidar a criação de uma plataforma integrada, que começa no planejamento das compras, passa pelo ciclo da receita e chega no pagamento dos serviços prestados”, diz Rafael Barbosa, CEO da Bionexo, ao NeoFeed. “Estamos indo além da gestão de suprimentos.”

Com sede em Itu, interior de São Paulo, a Avatar desenvolveu sistemas em nuvem que gerenciam, automatizam, padronizam e dão visibilidade a contas a receber dos hospitais e dos laboratórios junto às operadoras de saúde. Entre aqueles que utilizam a plataforma da Avatar estão os hospitais Mater Dei e o A.C. Camargo.

Antes da aquisição de 100% do capital social, a Avatar atuava de forma autônoma, mas Barbosa conta que a Bionexo não se limitou a aportar dinheiro na empresa. "A gente buscou atuar como sócio, participando dos comitês da empresa", afirma.

A decisão de incorporar a Avatar ocorreu depois de a Bionexo adquirir, em junho, a TKS, cuja plataforma BeeCare atua em etapas complementares do ciclo de receita e é utilizada por nomes como Fleury, Dasa e Hospital Sírio Libanês. A operação foi o primeiro M&A da Bionexo após o aporte de R$ 440 milhões da Bain Capital, em 2021.

"Quando juntamos as competências da Avatar com a BeeCare, vimos que não fazia sentido rodar operações paralelas", diz Barbosa. "Então, nos engajamos novamente com a Avatar para fazer a aquisição de 100% da companhia."

Ao trazer a empresa para "dentro de casa", a Bionexo quer se estabelecer em um mercado que estima ter um potencial de receita acima de R$ 300 milhões por ano e que ainda é bastante pulverizado, com concorrentes como 3M e ZG Soluções.

O ciclo em que a Bionexo quer atuar diz respeito ao caminho que os recebíveis de serviços prestados percorrem até entrar no caixa do hospital ou do laboratório. Ele começa no processo de autorização de um procedimento e vai até o envio da conta para as operadoras de saúde, para ser faturado. 

A última etapa é crucial, pois é quando ocorre uma espécie de “disputa” entre provedores e operadores a respeito da forma como o procedimento foi feito e o que está sendo cobrado. É nesse momento que pode ocorrer a chamada glosa, nome dado à suspensão temporária do pagamento da fatura pelos planos de saúde para verificação de conformidade das despesas. 

O assunto é delicado para prestadores de serviços, que demoram para receber por procedimentos realizados, prejudicando as receitas. Um levantamento feito pela Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) mostra que, de janeiro a agosto, o índice de glosas entre os hospitais alcançou quase 5% da receita líquida, um aumento em relação aos 3,57% do mesmo período do ano passado. 

O levantamento constatou ainda que o prazo médio para que os hospitais recebam pelos serviços alcançou quase 75 dias após a apresentação das faturas, um avanço de 10% ante o mesmo período do ano passado.  

“Existe muita ineficiência no setor e tem muito valor na mesa para ser extraído automatizando essas jornadas, ajudando os prestadores a fazer o processo de maneira adequada e garantindo a receita que lhes é de direito”, diz Barbosa. 

O plano

Para conseguir capturar as oportunidades que esse mercado oferece, a Bionexo pretende aproveitar os pontos fortes de BeeCare e Avatar numa única solução.

Segundo Barbosa, a BeeCare tem expertise na área que envolve autorização de procedimentos e na conexão entre prestadores e operadores, enquanto a Avatar está mais avançada no fechamento e faturamento de contas, além da auditoria dessas contas. 

As soluções das duas empresas serão ofertadas numa plataforma de software como serviço, baseada em nuvem, com a cobrança mensal dos usuários, no mesmo modelo do seu marketplace.

Barbosa prevê que pode levar de seis meses a um ano para que a solução que irá integrar os dois serviços fique pronta. Até lá, a Bionexo pretende oferecer as duas soluções separadamente. 

Com base no índice calculado pela Anahp no acumulado de janeiro a agosto desse ano, e levando em conta o faturamento de seus clilentes, a Bionexo estima que será capaz de trazer de volta R$ 1 bilhão travados em glosas aos hospitais já em 2023. 

Considerando o marketplace de compra de suprimentos, a Bionexo conta atualmente com 3,1 mil prestadores na área da saúde que realizam suas compras via plataforma. 

O plano é oferecer os serviços da Avatar e da BeeCare a esses clientes, com ganhos de receita nas duas frentes. A expectativa é fechar 2022 com cerca de R$ 180 milhões em receita recorrente anualizada, o que representa um crescimento de cerca de 25% em relação ao registrado em 2021. 

“O que quero propor ao mercado é a combinação do produto que vem da Avatar e da BeeCare com o que temos na Bionexo, juntando a inteligência de gestão de venda da Avatar e da BeeCare, com a gestão dos preços de compra de produtos que a Bionexo se propõe a fazer”, diz Barbosa. 

Concluída a aquisição da Avatar, a Bionexo parte agora para embarcar mais inteligência nos processos, com automatização de decisões. Para isso, a empresa planeja investir R$ 60 milhões em pesquisa e desenvolvimento em 2023. 

Em contrapartida, nesse momento, a empresa não pretende avançar no plano de oferecer serviços bancários às empresas plugadas na plataforma, conforme o NeoFeed revelou com exclusividade em setembro de 2019. 

“No momento, estamos focados em manter nossa posição em cadeia de suprimentos e fortalecer nossa atuação no ciclo da receita, pois tem um grande potencial de ganho de produtividade e impacto na gestão das instituições”, diz Barbosa.