Nove anos após encerrar operações espaciais tripuladas, os americanos vão voltar ao espaço por conta própria em 27 de maio – e levam consigo uma nova possibilidade: a de baratear viagens (estatais e governamentais) ao espaço. 

Essa será ainda a primeira vez que astronautas encaram uma missão a bordo de uma espaçonave desenhada e operada pela SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk, avaliada em US$ 33,3 bilhões.

À frente desse fato histórico estão os astronautas Bob Behnken e Doug Hurley. Os dois devem encarar uma viagem de 24 horas até a Estação Internacional Espacial, onde se encontrarão com mais um astronauta americano e dois russos.

Procurada pelo NeoFeed, a SpaceX não confirmou se a missão teria algum outro objetivo além de garantir lançamentos tripulados, operados pela iniciativa privada, e provar que é possível levar astronautas da NASA e também explorar o turismo espacial.

Para chegar ao espaço, a companhia de Musk recebeu parte dos US$ 6,6 bilhões que a NASA destinou ao projeto de Serviço de Transporte Comercial Orbital (COTS, na sigla em inglês), estabelecido em 2004. 

Além da companhia do bilionário, outras gigantes do setor, como Boeing, Virgin e Blue Origin, também estão de olho no turismo espacial, que promete ganhar tração nos próximos anos. 

A princípio, a companhia espacial de Musk pretende vender passagens espaciais a bordo do Crew Dragon, como é chamado seu foguete. Aliás, a Space X já vendeu quatro passagens comerciais para uma volta ao redor da Terra, marcada para 2021. Cada uma saiu por US$ 200 mil.

Faz parte do plano da empresa transportar pessoas a uma estação espacial privada, que seria desenvolvida pela companhia Axiom. E, segundo o site The Verge, a Space X também vai levar o ator Tom Cruise ao espaço para a gravação de um filme.

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Enquanto nenhum civil se prepara para uma missão extraterrestre, os astronautas americanos que embarcam para entrar para a história em 27 de maio revelam otimismo nas redes sociais. 

Bob Behnken tem feito de seu Twitter um verdadeiro diário. "Isso é um exemplo do que engenheiros e cientistas americanos podem conquistar, se focados da maneira correta. Tenho orgulho em fazer parte disso", postou em 9 de maio. Já o coronel Hurley incentivou o uso da hashtag #launchamerica (algo como "decole América", em tradução livre) em seu perfil.

Apertando o cinto

Os astronautas chegaram há três dias na base Kennedy Center, na Flórida, de onde a espaçonave será lançada para coroar essa parceria público-privado, que nasceu da necessidade de autonomia e contenção de gastos. 

Para economizar bilhões dos cofres públicos, o governo americano fechou, em 2011, o programa Space Shuttle, e a NASA passou a  "pegar carona" em foguetes russos, lançados a partir de uma plataforma instalada no Cazaquistão. 

Mas, tanto na Rússia quanto nos Estados Unidos, todas as vezes que humanos se propuseram a deixar a órbita terrestre os governos estiveram envolvidos. Por pelo menos meio século, a NASA comandou todas as etapas de processo, desenho e desenvolvimento das espaçonaves.  

Esse controle integral, porém, tinha um preço – e não era barato. No ano passado a NASA calculou que cada lançamento, bem-sucedido ou não, tomaria US$ 1,6 bilhão dos cofres públicos, caso continuassem operando as missões por conta própria.

Ao estabelecer parceria com empresas privadas, porém, os valores poderiam ser amortizados, porque as companhias poderiam lucrar também com a venda de assentos a clientes "comuns". 

Dessa maneira, todo mundo poderia sair ganhando: a NASA, que continuaria a liderar suas missões em solo nacional, e as organizações privadas, que poderiam monetizar com esse novo destino turístico. 

Toda essa procura pelo aliado perfeito começou em 2004, durante a gestão de George W. Bush. Precisando de maneiras viáveis de mandar suprimentos para a estação internacional espacial, a NASA instituiu o COTS. 

Através desse programa, o governo seria apenas um mero investidor, mas diria às empresas o tipo de foguete que lhes interessaria. As companhias seriam, então, responsáveis pelo design e construção do produto.

Com essa estrutura, a NASA não seria diferente de nenhum outro freguês disposto a comprar um produto ou serviço. Embora tudo parecesse bastante estruturado no papel, demorou uma década para que a iniciativa tomasse corpo. Foi só em 2014 que a agência estatal americana selecionou as duas primeiras empresas a participar do COTS: a SpaceX e a Boeing.

No acordo inicial, as companhias lançariam os primeiros vôos tripulados em 2017. Mas uma sucessão de testes frustrados adiou a agenda. Também colaborou para a prorrogação do prazo o grau de exigência de dispositivos de segurança estabelecidos pela NASA. Para se ter uma ideia, a agência determinou que as chances de um desastre não podem ser maiores que uma a cada 270 tentativas. Na época do Space Shuttle, essa proporção era aceitável a 1 a cada 90 lançamentos. 

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