Em uma época em que múltiplas telas disputam espaço e atenção, muitas empresas já perceberam que apostar em conteúdo pode ser um atalho para se conectarem diretamente com os consumidores e seu público-alvo.

Com esse viés, diversas companhias, de diferentes setores, têm investido para se tornarem suas próprias mídias. Agora, quem está reforçando essa corrente é a Genial Investimentos, que acaba de anunciar um acordo para se tornar a acionista majoritária da Máquina do Esporte, portal brasileiro de negócios relacionados ao esporte.

Na transação, cujos termos financeiros não foram revelados, a Genial passa a deter uma fatia de 60% da Máquina do Esporte que, por sua vez, passa a atuar como uma empresa do grupo. Os 40% restantes seguirão nas mãos de Erich Beting, fundador do site, que permanecerá à frente da operação.

“Os esportes são um grande negócio no mundo inteiro e, no Brasil, geram uma receita relativamente alta, mas que poderia ser dez vezes maior”, diz Rodolfo Riechert, CEO da Genial Investimentos, ao NeoFeed. “E o Erich tem, verdadeiramente, uma máquina nas mãos, mas com um potencial de se transformar em algo muito maior.”

Os primeiros contatos entre as duas partes aconteceram em setembro de 2020. Mas ganharam fôlego, de fato, com o recuo gradativo da pandemia e a possibilidade de conversar, presencialmente, sobre um possível acordo.

“Sempre olhei a Máquina como um hub de negócios, que ajudasse na profissionalização e no desenvolvimento do esporte no País, e não apenas como um site”, diz Beting. “E já tínhamos conversado como outros grupos antes, mas a Genial foi o primeiro a compartilhar essa visão mais ampla.”

Fundado em 2005, hoje, o portal tem uma média de 300 mil page views mensais e mais de dois mil assinantes em sua newsletter diária. E conta ainda com um braço de organização de eventos, entre eles, o Fórum Máquina do Esporte, o Prêmio Máquina do Esporte e o Máquina Talks.

A entrada da Genial na operação vai envolver um plano de investimentos adicional, que ainda está sendo costurado pelas duas partes. A ideia é consolidar o modelo citado por Beting, ir além do conteúdo e transformar o negócio em uma plataforma de relacionamento e de negócios ligados ao esporte.

“Nós trazemos uma injeção de capital e também de relacionamento que vai ajudar a acelerar esse modelo”, observa Riechert. “E a Máquina nos conecta com muitas empresas interessadas no setor e temos uma série de serviços a oferecer para elas, seja de banking, de captação de recurso, de câmbio, etc.”

Beting acrescenta: “São muitas conexões que temos dos dois lados e o mercado vive um momento com as SAFs (Sociedade Anônima do Futebol), a possibilidade de uma liga no futebol”, diz. “Enfim, esse acordo chega em um cenário espetacular. Talvez até melhor do que os anos da Copa e da Olimpíada no País.”

Esse contexto guarda justamente outros racionais para a Genial a partir do investimento na Máquina do Esporte. Segundo Riechert, a empresa enxerga no portal uma forma de se posicionar de forma mais organizada nesse mercado e de impulsionar alguns planos já em curso envolvendo o setor.

“Estamos olhando outros ativos de mídia e informação, e namorando, vamos dizer assim, um clube para eventualmente fazer uma SAF, como investidores”, conta. “E queremos estar mais perto de atletas e de competições, frentes que já patrocinamos, para tentar fechar mais negócios no setor.”

Entre os passos iniciais a partir dessa associação, ainda mais voltados à produção de conteúdo, a Máquina do Esporte promove nesta noite o relançamento do seu site. Além da repaginação, o portal vai passar a explorar mais os conteúdos em plataformas como YouTube, Instagram, Facebook e TikTok.

“Em julho, vamos criar o primeiro programa de negócios do e-sports dentro da Twitch”, conta Beting. “E para o segundo semestre, temos a cobertura da Copa do Mundo, do nosso jeito, olhando o evento mais sob a ótica dos negócios.”

Já para 2023, mais sob a proposta de ampliar o alcance do portal, a operação vai investir pesado em eventos, com a primeira edição presencial do Prêmio Máquina do Esporte, o Fórum Máquina do Esporte e a série de encontros Máquina Talks.

“O plano é investir em encontros de relacionamento que reúnam pessoas desse mercado e interessados no setor”, explica Beting. “Queremos organizar e trazer cada vez mais a indústria para perto e isso seria impossível sem ter um grande grupo por trás da operação.”

Tendência

O mercado financeiro vem se mostrando um dos principais palcos dessa movimentação em torno das aquisições e investimentos relacionados a conteúdo. E nessa arena, o BTG Pactual tem sido um dos mais ativos.

Em 2019, André Esteves e outros sócios do BTG compraram a revista Exame, do grupo Abril, em um leilão judicial, por R$ 72,3 milhões. Já em maio do ano passado, em informação adiantada pelo NeoFeed, o banco desembolsou R$ 690 milhões na aquisição da Universa, grupo que, além da Empiricus e da gestora Vitreo, reúne os sites MoneyTimes e Seu Dinheiro.

Ainda no mundo das finanças, a XP é dona do site Infomoney desde 2011. Já em setembro de 2020, quem ingressou nessa seara foi o Nubank, a partir da compra da Easynvest. O acordo envolveu a incorporação do InvestNews, portal especializado em finanças e investimentos.

Essa corrida também tem atraído grupos do varejo. É o caso do Magazine Luiza que, em meio a uma onda de M&As na pandemia, abriu espaço para a compra de ativos como o Canaltech, especializado em tecnologia, e o Jovem Nerd, plataforma de conteúdo voltada ao público geek.

Outro varejista a seguir esse caminho foi o grupo SBF, controlador da Centauro, que pagou R$ 60 milhões pela aquisição do Grupo NWB, dono de canais como Desimpedidos, Acelerados, Fatality e Falcão 12, além de 80 afiliados.

Já em setembro de 2021, a Americanas foi mais um nome do setor a explorar essa vertente, por meio da compra da Skoob, empresa brasileira dona de uma plataforma digital de conteúdo voltada aos amantes da literatura.

A lista inclui ainda empresários como Rubens Menin, dono da MRV, do Banco Inter e da Log, que detém 100% do canal CNN Brasil; e Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, que investiu, em 2020, no site de política Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues.

Não faltam exemplos também do exterior. Um dos mais recentes veio em fevereiro deste ano, quando a Binance, uma das principais exchanges de criptomoedas do mundo, anunciou um aporte de US$ 200 milhões na editora americana Forbes, responsável pela revista homônima.

Outros nomes ligados ao mercado de tecnologia já tinham apostado nessa trilha antes. Em 2013, Jeff Bezos, fundador da Amazon, comprou o jornal Washington Post, por US$ 250 milhões. Cinco anos depois, Marc Benioff, fundador e CEO da Salesforce, pagou US$ 190 milhões pela revista Times.

No setor, outra figura olhando para esse espaço é o bilionário francês Pierre Omidyar, fundador do eBay. O empresário já investiu, por exemplo, no site The Intercept e também em veículos como o jornal brasileiro Nexo, por meio de sua fundação, a First Look Media.