As companhias de commodities foram o centro das atenções dos investidores no começo do ano, depois que a guerra na Ucrânia, a quebra das cadeias de suprimento e os estímulos econômicos promovidos na China elevaram os preços do petróleo, minério e celulose.
O desempenho de nomes como Vale e Petrobras, que se beneficiaram do cenário global na ocasião, fez com que o Ibovespa fechasse o primeiro trimestre com uma valorização de 14,5%, o melhor desempenho entre os emergentes na ocasião.
Mas a perspectiva de desaceleração da economia global, em função das medidas tomadas para combater a inflação que assola muitos países, está levando a maioria dos investidores a sair desses papéis, em especial, as ações dos setores de siderurgia e mineração, e de papel e celulose.
Uma pesquisa feita pelo Itaú BBA com 100 gestores, obtida pelo NeoFeed, mostra que a alocação de 86% dos entrevistados em papéis de siderurgia e mineração e de papel e celulose está igual ou abaixo da média histórica. A maioria (70%) informou que o total investido nos dois segmentos, que respondem por cerca de 20% da composição do Ibovespa, está abaixo do que já foi.
"Os investidores não estão apostando em melhoras no curto prazo", diz trecho da pesquisa conduzida pela equipe de siderurgia e mineração do Itaú BBA, liderada pelo analista Daniel Sasson. "Até o final do ano, entre 70% e 83% deles pretendem manter ou reduzir suas posições em siderurgia e mineração ou papel e celulose".
Essa questão se explica pelo pessimismo dos investidores em relação à economia global. Para 82% dos entrevistados, a Europa é a região com maior probabilidade de entrar em recessão. Em seguida, aparecem Estados Unidos, com 12%, e China, com 2%.
No caso da China, embora o pessimismo seja menor, 69% dos investidores não esperam que a economia se recupere no segundo semestre.
“Os investidores compartilham da nossa visão de que o momento para a economia da China está enfraquecendo e que uma retomada no segundo semestre é pouco provável, gerando perspectivas negativas para os preços do minério de ferro”, diz trecho do relatório.
Diante das circunstâncias, os gestores têm adotado uma postura cautelosa em relação às companhias de commodities. A preferência é pelo segmento de papel e celulose, segundo 45% dos entrevistados. Em seguida aparecem siderurgia, com 34%, e mineração, com 21%.
Em papel e celulose, a Suzano é praticamente consenso entre os investidores, com 75% das preferências. A empresa, porém, enfrentará um cenário complexo até o fim de 2022 e ao longo de 2023.
A maioria dos entrevistados (46%) espera que o preço da celulose feche o ano entre US$ 700 e US$ 750 a tonelada. Atualmente, a celulose está sendo negociada na casa dos US$ 860 a tonelada, o maior preço da história.
Para 2023, a expectativa é de uma redução ainda maior da cotação, com 71% dos investidores antecipando que ela fique entre US$ 600 e US$ 700 a tonelada. Além de fatores macroeconômicos, algumas empresas devem apresentar aumento de produção por conta da entrada em operação de alguns projetos, caso da chilena Arauco e da finladesa UPM.
No setor de siderurgia e mineração, a preferência da maioria dos entrevistados (47%) pelo Itaú BBA é a Gerdau, seguida por Vale (22%) e CBA (20%). Já Usiminas, Aura e CSN foram as menos citadas.
“A preferência pela Gerdau parece estar muito ligada a sua diversificação geográfica, uma vez que a expectativa dos investidores é que a demanda por aço no Brasil não ganhará força neste ano”, diz trecho do relatório.
O Itaú BBA constatou que a maioria dos investidores (54%) espera que a demanda por aço no País recue entre 5% e 15% neste ano.