É consenso que o Comitê de Política Monetária (Copom) precisará acelerar o ritmo de alta de juros na decisão de quarta-feira, 11 de dezembro. A dúvida é se o ajuste será de 75 pontos-base (bps) ou de 100 bps. Às vésperas da definição, as pressões por um movimento mais agressivo se intensificam.

Na segunda-feira, 9, os investidores precificaram 70% de chance de o Copom elevar a Selic em 100 bps, para 12,25%. Até o fim de novembro, o mercado atribuía menos de 20% de probabilidade a esse cenário, com a maioria das apostas concentrada em altas de 50 bps ou 75 bps, agora consideradas improváveis.

O que mudou desde então foi a deterioração da percepção de risco fiscal, agravada pela decepção com o pacote de ajuste de gastos do governo. O reflexo foi um dólar mais forte, estabilizando-se acima de R$ 6. Agora, economistas esperam uma reação mais contundente da política monetária para conter a desvalorização cambial antes que seus impactos sobre a inflação se aprofundem.

“A taxa de câmbio, variável relevante para as perspectivas de inflação, atingiu sua máxima histórica, com uma depreciação intensa, enquanto as expectativas inflacionárias registraram saltos raramente observados no passado. Esse cenário preocupante exige uma postura mais firme da autoridade monetária”, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, em relatório.

Ex-diretor do BC, Mesquita defende um aumento de 100 bps não apenas na decisão desta semana, mas também na próxima reunião, prevista para o fim de janeiro. Inicialmente, o Itaú projetava a Selic em 13,50% ao fim do ciclo de aperto, mas o economista já admite que o patamar final poderá ser maior.

Embora o mercado ainda aposte em uma alta de 75 bps em janeiro, Mesquita avalia que o Copom deverá sinalizar um novo ajuste de 100 bps já no comunicado desta quarta-feira, 11, para evitar uma desancoragem ainda mais grave das expectativas inflacionárias. O banco foi o primeiro entre os mais influentes do Brasil a cravar duas altas de 100 bps como cenário-base.

No boletim Focus de segunda, 9, a projeção mediana do mercado para o IPCA de 2025 ultrapassou pela primeira vez o teto da meta, chegando a 4,59%. Para 2024, a estimativa subiu de 4,71% para 4,84%, enquanto para 2026 passou de 3,81% para 4%.

O Goldman Sachs, em análise divulgada na semana passada, considerava uma alta de 75 bps o cenário mais provável, mas atribuía 40% de chance a um ajuste de 100 bps. Segundo o banco, as condicionantes seriam uma desvalorização adicional do real ou uma deterioração significativa das expectativas de inflação – o que se confirmou no início desta semana.

Depois de voltar a flertar com os R$ 5 na semana passada, o dólar retomou força nesta segunda-feira, encerrando no maior patamar da história, a R$ 6,08.

Para esta terça-feira, início da reunião do Copom, ainda está prevista a divulgação do IPCA de novembro. A expectativa é de uma aceleração de 4,76% para 4,85%, superando o teto da meta pelo segundo mês consecutivo.

A decisão desta quarta-feira será a última sob a presidência de Roberto Campos Neto. Caso o cenário de descumprimento da meta se confirme, caberá a Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, lidar com as consequências. Seja pela herança de um ou pela credibilidade de outro, o mercado parece convencido de que o aperto monetário será intensificado.

Resta saber quão agressivo será o Copom e por quanto tempo, considerando a chegada de novos diretores no próximo ano.